Mais estúpidos ou inteligentes?

18/11/2011 10:25 / Atualizado em 13/03/2013 23:11

O número de amigos no Facebook não mede apenas popularidade. Mede também o tamanho de áreas do cérebro associadas a uma rede que compreende memória, emoções e interações sociais.

Pessoas com essas áreas mais expandidas conseguem desenvolver mais relacionamentos? Ou mudaram seu cérebro porque usam mais o Facebook, estabelecendo mais relacionamentos? Os cientistas da University College de Londres, responsáveis pela pesquisa, divulgada na semana passada, não sabem.

O que imaginam saber, graças a uma série de testes de ressonância magnética, é que existe uma relação entre o tamanho de certas áreas do cérebro e o número de amigos.

É óbvio que tal informação “viralizou” com velocidade gigantesca, afinal são mais de 800 milhões de usuários na internet. E, obviamente, isso suscitou um monumental besteirol científico, como se um grande númer o de amigos indicasse inteligência ou superioridade.

Está aí, porém, uma das mais efervescentes questões da atualidade, sem a qual não se entende pelo menos parte do comportamento dos seres humanos: como as tecnologias da informação alteram o funcionamento do cérebro e quais são suas consequências.

Vamos encontrar argumentos (bons, diga-se) de todos os lados, mostrando que as tecnologias da informação nos fazem mais estúpidos ou mais espertos.

Na semana passada, o debate ganhou mais força com o comunicado da Associação de Pediatria dos Estados Unidos de que, se quiserem manter seus filhos mentalmente saudáveis, os pais deverão evitar o excesso de contato deles com as telas. Quaisquer telas: televisão, computador, tablets ou celulares.

A advertência é focada especialmente em quem tem menos de dois anos. O excesso de virtualidade daria menos tempo para a criança brincar e, assim, aprender os códigos essenciais dos relacionamentos sociais. Afetaria também a coordenação motora e a fala. No final, por não aprenderem a se concentrar, as crianças teriam dificuldades de ficar paradas em sala de aula ou lendo um livro.

É uma mensagem que vai contra a corrente. Pesquisas estão revelando que, aqui nos Estados Unidos, smartphone está virando uma espécie de chupeta. Os pais dão o aparelho para acalmar o filho, entretido com algum aplicativos. Cerca de 6% das crianças americanas de 2 a 5 anos já têm seu smartphone. Cerca de dois terços das que têm entre 4 e 7 anos de idade usam regularmente esse aparelho, abrindo um gigantesco mercado de aplicativos.

Se, por um lado, há dúvidas sobre como a tecnologia cria novos circuitos cerebrais, é sabido, por outro, que o cérebro é plástico, molda-se aos estímulos externos. Isso significa que a inteligência pode aumentar ou diminuir.

Cada vez aparecem mais estudos mostrando que parte da inteligência é fruto da genética, mas moldável a partir de estímulos externos. Está para ser publicado um estudo, que, parcialmente desenvolvido por pesquisadores de Harvard com centenas de gêmeos, reforça essa ideia.

Na semana passada, uma investigação da University College de Londres mostrou, mais uma vez usando testes de ressonância magnética, que, entre 2004 e 2008, o QI de adolescentes tinha variado para cima ou para baixo.

Talvez aqui esteja uma das respostas para uma série de experimentos realizados com crianças de até três anos. A criança que recebe mais estímulos e proteção nessa faixa etária tende a ir melhor na escola e, na vida adulta, ter melhor desempenho no trabalho, melhor saúde e se envolver menos em crimes.

Nesse debate sobre o “Ocupe Wall Street” e a desigualdade de renda dos americanos (semelhante à do Brasil, aliás), uma ideia me atraiu.

Vários educadores sugeriram que o investimento na primeira infância seria um mecanismo sustentável para distribuir renda tão poderoso como a taxação aos mais ricos.

PS – A boa notícia é que a Faculdade de Medicina da USP abriu um canal de comunicação para pesquisas conjuntas com o centro que investiga a primeira infância em Harvard, um projeto de que participa o Instituto Gastão Vidigal.