Dimenstein: por que defender a Folha é defender a democracia

Defender a Folha não é defender um jornal. É defender a democracia.

Ao defender a Folha, estamos dizendo algo simples: sem liberdade de imprensa não existe democracia.
Simples assim.

Trabalhei na Folha por 25 anos e posso dizer tranquilamente: o jornal é obcecado pelo apartidarismo. Até em excesso para meu gosto.

Se dependesse de mim, a Folha teria feito o que fizemos na Catraca Livre: não se manteria neutra diante de Bolsonaro. Não estamos arrependidos.

Consideramos que valeria a pena apanhar das milícias digitais ao informar que teríamos um “não-candidato”: Jair Bolsonaro. A comparação que fazia intimamente era com a “República de Weimar”. Seria correto, naquela Alemanha da década de 30, manter-se neutro diante do risco à democracia?

O histórico de Bolsonaro a favor da tortura, do regime militar, de posições machistas e homofóbicas não nos permitia tratá-lo com neutralidade.

Era uma situação excepcional. Também considerava que votar no PT seria um desastre. Entre dois desastres, teríamos de escolher o menor.

Mas a Folha, como sempre, se manteve neutra, fiel ao seu apartidarismo. Só alguém que não conhece o jornal é capaz de dizer que eles fazem matéria para ajudar um ou outro candidato. Mostrar-se independente faz parte do jeito de ser do jornal – e do jeito de ganhar dinheiro.

Bolsonaro fez agora da Folha um símbolo, ao escolhê-la como um alvo de sua intolerância.

Serviu para mostrar sua dificuldade de lidar com a liberdade de imprensa, jogando o jornal às milícias digitais.
Mas também serviu para que ele expusesse como devem ser gastos os recursos de publicidade do governo: ajudar amigos, atacar “inimigos”.

Levada às últimas consequências, essa atitude reproduz um velho ditado brasileiro: “Aos amigos tudo, aos inimigos a lei”.
Se a Folha fosse, massacrada, de joelhos, não iria sobrar ninguém independente. É justamente o sinal que Bolsonaro quer dar a todos os veículos. Até para a TV Globo.
Portanto, defender a Folha, neste momento, é simplesmente defender a democracia.
Quem pensa que vai faturar vendo ataques a um “concorrente” é mais  do que conivente com o autoritarismo. Mas um ignorante sobre as consequências da falta de respeito à democracia.
A única ironia é que a Folha, na prática, percebeu que nem todos os candidatos eram iguais: pelo menos um deles a trataria não como um jornal, mas como um partido.