Entenda o impacto do encontro de Jair Bolsonaro e Donald Trump

O Canal Meio selecionou as principais notícias que explicam a visita de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos.

O presidente Jair Bolsonaro volta feliz de Washington. De seu par americano, Donald Trump, ouviu elogios e recebeu sorrisos.
A comitiva brasileira se entusiasmou.
Trump afirmou que tornará o Brasil um aliado prioritário extra-Otan, o que facilita acesso a tecnologia militar. Outros 17 países recebem esta classificação.
Os EUA também apoiarão a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Estar na OCDE ajuda na entrada de investimentos e ao negociar exportações, avalia o ministro Paulo Guedes.
Em troca, o Planalto abrirá mão de tratamento diferenciado na Organização Mundial do Comércio.

Nas Forças Armadas, ligou-se a luz de alerta.
Os generais ficaram com a impressão de que Bolsonaro se comprometeu em ajudar Trump — ainda que logisticamente — numa ofensiva militar contra a Venezuela. (Folha)

Míriam Leitão:
“O Brasil fez concessões concretas e recebeu apenas promessas. É isso que se conclui da leitura do Comunicado Conjunto. Há muito a perder no comércio externo, abrindo mão das vantagens que países em desenvolvimento têm dentro da OMC. Em troca, o que o Brasil recebe? Um aviso de que os EUA apoiarão nosso esforço de entrar na OCDE, cuja grande vantagem é meramente abstrata.
O que se temia aconteceu.
O deslumbramento pueril com a grande potência levou a comitiva do governo brasileiro a fazer concessões. ‘Demos tudo, não levamos nada’, resumiu um diplomata.
Retirou a exigência do visto sem exigir reciprocidade. Se comprometeu a comprar 750 mil toneladas de trigo americano sem cobrar tarifa.
Em troca os Estados Unidos concordam em marcar uma visita técnica para inspeção da carne brasileira. Ou seja, nós compramos e eles avaliam se vão comprar. Tudo tem esse tom.” (Globo)

Ascânio Seleme:
“Nunca vi Jair Bolsonaro tão bem. A entrevista que deu numa rua de Washington para os jornalistas foi um dos melhores momentos do presidente desde a posse. Estava leve, bem humorado, respondeu com eficiência. Foi educado, tratou todos os repórteres com respeito e por todos foi tratado com igual respeito. Corrigiu o erro que disse ter cometido na véspera, quando disse que a maioria dos imigrantes brasileiros são pessoas mal intencionadas. Disse que queria dizer exatamente o contrário.
Foi franco e até engraçado quando disse que o sumiço de duas horas de ontem foi uma parada num shopping, onde comprou dois calções e duas camisas.
Deu um sinal importante em relação à China. Disse que vai se preparar muito para a visita que fará. Reiterou que o comércio exterior do Brasil não terá viés ideológico.
Tudo bem, apesar de a China ser comercialmente o país mais capitalista do mundo. Bolsonaro ganha quando se comporta adequadamente como presidente do Brasil. Faz valer os milhões de votos de confiança que recebeu dos brasileiros.” (Globo)

Aliás… A viagem foi boa para Olavo de Carvalho.
O professor passou a semana seguinte ao Carnaval demonstrando influência sobre o presidente pedindo cabeças no MEC que lhe foram diligentemente entregues uma a uma.
Na véspera da chegada de Bolsonaro, sugeriu que o governo poderia não durar seis meses. E ainda assim, no primeiro jantar oficial, foi sentado à direita do presidente.

O ministro da Economia Paulo Guedes até brincou. “Você é o líder da revolução”, disse. E aí se queixou da declaração. Tendo reconhecido o líder, ganhou de presente de Olavo sua bênção num vídeo, distribuído ontem. “Acho Paulo Guedes um dos melhores ministros que já tivemos em nossa história”, declarou. Assim garante a Guedes que não será atacado pelo fogo amigo das redes sociais.
Não satisfeito, porém, Olavo virou suas armas contra a imprensa. “Minha frase era ‘Este governo não dura seis meses se não tomar providência contra a mídia criminosa’.”

Não especificou qual a natureza das providências que espera contra a imprensa.

A euforia nos EUA, porém, disfarça arestas importantes que se formam no Brasil.
Silas Malafaia, um dos mais influentes líderes da onda conservadora, partiu contra Olavo. “O presidente falou diversas vezes ‘Se 80% dos evangélicos me apoiarem, vou ser eleito.’ Vem agora seu filho dizer que Olavo de Carvalho é o maior responsável pela vitória. Simplesmente ridículo.’

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mandou recado via Painel: identifica em Carlos Bolsonaro a origem dos ataques contra ele nas redes.
Não é seu único problema. O deputado não gostou do comentário do presidente, que se queixou de ‘pressões da velha política’ logo após uma conversa dos dois. Para Maia, Bolsonaro está sem base na Câmara e seus líderes não trabalham para criá-la. (Folha)

E, no Itamaraty, observa Míriam Leitão, pelo menos um embaixador enxergou a humilhação da diplomacia, seu rebaixamento, na reunião do Salão Oval.
O presidente levou para conversar com Trump seu filho, mas não o ministro responsável pelas Relações Exteriores. “Se tivesse alguma fibra, pediria para sair” falou o diplomata sobre Ernesto Araújo. (Globo)

Então… O chanceler leu a nota de Míriam quando estava ao lado de outros ministros. “Teve um chilique”, conta Patrícia Campos Mello. Sentiu que seus esforços na organização da visita não foram valorizados. Paulo Guedes, que já parece dominar os caminhos da política bolsonarista, tentou acalmá-lo. (Folha)