Educação Integral: ‘A escola sozinha não dá conta de um sujeito multidimensional’

Por: Camila Hungria

Durante os primeiros anos de vida de uma criança, ela se desenvolve em diferentes aspectos, todos complementares. A criança cresce e fica mais forte, aprende coisas novas, faz amigos e convive com pessoas, pensando, questionando e entendendo o mundo, e a si mesma.

Assim, a educação integral propõe um olhar mais acolhedor, participativo e coletivo à infância, partindo do entendimento de que o desenvolvimento da criança, um ser multidimensional, é um processo que acontece ao longo de toda a vida e permeia todas as suas experiências.

“Para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira”

“Não é consenso, mas há a ideia de que a escola sozinha não dá conta de um projeto como esse, de um sujeito multidimensional”, explica Natacha Costa, diretora executiva da Associação Cidade Escola Aprendiz.

Nesse sentido, a educação integral também propõe que o território da escola e da cidade, uma cidade educadora, funcionem como espaços de aprendizados, aliados do processo educativo e co-responsabilizados pela formação das crianças.

Em Lausana, na Suiça, crianças vão andando para a escola no ônibus andante – ou PédiBus –, que as leva até suas escolas sem precisar de motor, gasolina ou volante: apenas a orientação de um pai, mãe ou professor. O ônibus andante já possui mais de 200 “linhas” para auxiliar estudantes de quatro a oito anos a chegar à escola e voltar para casa.[/img]

E as escolas?

Nesse contexto, as escolas, desde a educação infantil, precisam buscar práticas educadoras que dialoguem com todas as dimensões do desenvolvimento de uma criança (físico, emocional, social, simbólico e intelectual). O antigo modelo de escolas puramente conteudistas, não dá conta desse objetivo.

“As escolas são muito pouco conectadas com o contexto onde estão inseridas, conhecem pouco seus alunos. E estamos trabalhando por alguém dono de uma história, para quem a educação tem que fazer sentido“, Natacha Costa.

Embora muito ainda precise ser feito e conquistado, quando falamos da educação pública no Brasil, já existem políticas públicas formuladas de acordo com a concepção de educação integral da criança.

Em 2007, o Ministério da Educação lançou o programa Mais Educação, que tem como objetivo aumentar a oferta educativa nas escolas públicas por meio de atividades optativas oferecidas em diálogo direto com as comunidades em que se inserem. O Programa é um dos objetivos do Plano de Desenvolvimento em Educação e a principal ação indutora para a agenda de educação integral no país.

A seguir, confira algumas experiências nacionais e internacionais interessantes de educação integral. Clique nas imagens para ampliar.

Educação Integral X Tempo integral

O termo “Educação em Tempo Integral” ou “Escola de Tempo Integral” diz respeito àquelas escolas e secretarias de educação que ampliaram a jornada escolar de seus estudantes e os alunos passaram a ficar dois turnos na escola.

Em geral, durante metade de um dia, eles estudam as disciplinas do currículo e o outro período é utilizado para recreação ou aulas ligadas às artes ou esporte.

Na perspectiva da educação integral, o conceito de tempo integral suscita uma série discussões. Algumas correntes dos movimentos sociais defendem que apenas a ampliação do tempo de estudo não garante o resultado que se espera pela educação integral: o pleno desenvolvimento das crianças.

Em fevereiro desse ano, a prefeitura de São Paulo lançou o programa Programa São Paulo Integral, que apresenta proposta de Educação Integral com, entre outras coisas, jornadas de período integral em 110 instituições, entre elas 37 Escolas Municipais de Educação Infantil. (Você pode checar a relação aqui).

“A afirmação do tempo integral é importante pois assim estamos afirmando o direito dos estudante a acessar mais tempo de propostas educativas. Essa proposta está absolutamente integrada com a visão contemporânea de  educação integral, o grande desafio é a implementação”, finaliza Natacha. 

Com edição de Mayara Penina.