Estudantes adaptam violão para pessoas com deficiência visual

Por Gabriel Maia Salgado do Criativos da Escola

Conhecer as notas musicais foi um dos maiores desafios para que o estudante Matheus Cruz, 16 anos, aprendesse a tocar violão. Lembrando da dificuldade que teve e depois de assistir um músico cego em um programa de televisão, o aluno do Centro de Educação Profissional da Bacia do Rio Grande, na cidade de Barreiras (BA), levou uma ideia a alguns de seus companheiros de sala: colocar cifras em braile no instrumento com o objetivo de facilitar o aprendizado teórico e prático daqueles que tivessem limitação parcial ou total da visão. Aí surgiu o SonoriBraile.

Depois de realizarem pesquisas e estudos sobre o sistema braile, os estudantes criaram um protótipo de violão adaptado e estão desenvolvendo um aplicativo de celular para auxiliar na afinação e nos estudos de música. “O objetivo do projeto é fazer com que o primeiro contato entre a pessoa com deficiência visual e o violão seja prazeroso, que ela saiba o que está tocando, quais os nomes das cordas. Já o aplicativo SonoriApp poderá auxiliar o professor de música, trazendo um novo método para o ensino”, descreve o estudante.

Mobilizando não só os outros quatro alunos participantes do grupo, o projeto envolveu também o professor orientador, as famílias dos estudantes e demais pessoas do município. “A repercussão em nossa cidade foi muito bacana. Muitas pessoas viram nossa apresentação e os professores adoraram a ideia”, conta Matheus sobre o dia em que o projeto foi apresentado na Feira de Ciências da escola. E complementa: “tivemos a ajuda de donos de lojas de instrumentos, da coordenadora do Instituto Benjamin Constant, de minha família e de projetos que trabalham com pessoas que têm deficiência visual”.

Os estudantes criaram um protótipo de violão adaptado.

Tocando histórias

Para a estudante Irene Pignata, 16 anos, o próximo passo do projeto que iniciou em 2015 é melhorar o protótipo de violão acessível e terminar de desenvolver o aplicativo. “Esse ano vamos trabalhar mais com pessoas com deficiência visual e a gente pretende que elas tenham total controle do que estão fazendo e que não precisem de ninguém para começar a aprender a tocar”, contou a aluna. Quanto ao aplicativo, Irene explica que a ferramenta deve ajudar não só mostrando as notas, mas também ao “orientar a direção para onde deve se girar a tarraxa e afinar o violão”. Ainda em 2015, o grupo apresentou o projeto em uma mostra dentro da Feira de Ciências e Matemática da Bahia (Feciba).

Além de ter o objetivo de contribuir com pessoas que tenham deficiência visual, segundo Irene, o projeto SonoriBraile motivou e agregou conhecimentos variados aos estudantes. “A gente começou a fazer pesquisas e, depois da primeira apresentação do projeto, comecei a aprender violão e estudar braile. É bom [estudar] para ter conhecimento e poder explicar as notas paras as pessoas”, defende a aluna.

Pensando no futuro, Matheus aponta a necessidade e o desafio que terão para aprimorar o projeto: “é impossível perceber como é o universo deles, mas me abri muito mais para um lado que não conhecia e até fiquei com vontade de trabalhar com isso. Tenho vontade de trabalhar com música e fazer faculdade na área”.

Para o professor de informática Rogério Campos, que orientou os alunos, a repercussão aumentou a motivação e o interesse na continuidade do projeto. “Quando percebem que aquilo que fazem é valorizado e pode ter repercussão, os estudantes veem que não é apenas para a nota, mas que pode trazer algo de positivo para o ambiente e a comunidade”, destaca. E lembra: “eles tiveram liberdade para fazer algo que realmente pode melhorar a cara e o ambiente onde vivemos. Independente do projeto Sonoribraile, a proposta foi de fazer com que analisem a realidade e que possam fazer algo para melhorá-la”.

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