Estudantes levantam discussão sobre homofobia e mobilizam escola

Por Gabriel Maia Salgado do Criativos da Escola

Existe Homofobia em SP.

Existe homofobia em SP. Essa foi uma das conclusões dos estudantes da EMEF Professor Roberto Plínio Colacioppo e uma das frases escritas nos cartazes espalhados pela escola que fica na zona sul da cidade de São Paulo (SP). Provocados pela necessidade de elaborarem o Trabalho Colaborativo Autoral (TCA), a ser realizado por todos os alunos do nono ano da rede municipal de ensino, um grupo de estudantes escolheu o tema depois de assistir vídeo sobre a diversidade dentro de uma mesma população.

“Conversamos sobre assuntos da atualidade como preconceito, homofobia e racismo. Cada um que sugeriu fez uma pesquisa sobre seu tema e o que mais chocou foi o da homofobia. Tinha muita violência contra a população LGBTT só pelo fato de amar, algo tão simples”, conta a estudante Kátia Alves, 15 anos. Realizado pelos estudantes em 2015, o projeto contou com a elaboração de um diário de bordo, confecção de cartazes, intervenção com outras salas, elaboração de visitas a pessoas de fora da escola, divulgação de questionário online e produção de um vídeo sobre toda a experiência.

Falar deste tema entre os estudantes, os professores e toda a escola, para o aluno Nicolas Escobar, 16 anos, faz diferença pelo assunto ser tabu na sociedade: “além de casais gays e lésbicos passarem a ser vistos como normais, o projeto mobilizou e conscientizou as pessoas com relação à homofobia. O TCA trouxe amizades e experiências que agora são importantes na minha vida. Hoje eu consigo ter ideia do que estas pessoas sofrem e me posiciono no lugar delas”.

Além de conseguir ultrapassar os limites da sala de aula, o projeto Existe Homofobia em SP identificou, segundo Kátia, a importância de refletir sobre este tipo de discriminação dentro do ambiente escolar. “A escola é um dos ambientes em que as pessoas mais sofrem homofobia. Quando colocamos os cartazes, causou um grande impacto”, cita a aluna. E complementa: “querendo ou não, todo mundo tem um pouco de ‘preconceito’ e olha diferente para as coisas. Depois do projeto, nossa união melhorou e os mudou o olhar de todos para o mundo”.
Orientadora do projeto, a professora de ciências Elza Castro conta sobre a repercussão das atividades feitas pelos alunos. “Depois do trabalho, começaram a acontecer outras coisas dentro da escola, nos bastidores: outra turma quis fazer trabalho sobre a violência sofrida por homossexuais no ambiente de trabalho e a coordenação da escola nos procurou para levar o debate também para a formação dos demais professores”, afirma.

Tanto professora quanto alunos destacam a importância de terem entrevistado pessoas que sofrem diariamente com a homofobia.

Lugar de fala

Tanto professora quanto alunos destacam a importância de terem entrevistado pessoas que sofrem diariamente com a homofobia para poderem compreender a complexidade do tema. “Fomos ao Centro de Referencia e Defesa da Diversidade e foi um divisor de águas. Os estudantes puderam escutar as pessoas contando suas próprias histórias. Além disso, fomos ao Museu da Diversidade onde tiveram mais informações sobre o que é orientação sexual e identidade de gênero”, exemplifica Elza.

Além das entrevistas, a docente descreve algumas das ações feitas no projeto: “abordamos o materialEscola sem Homofobia, assistimos vídeos, fizemos pesquisas sobre a violência contra casais homoafetivos e, a partir de um levantamento bibliográfico, os alunos começaram a perceber que a homofobia não atingia apenas gays, mas também bissexuais, lésbicas, travestis e transexuais”.

O resultado do questionário respondido por cerca de 50 pessoas também impactou os estudantes. “Não conseguíamos ver respostas positivas no questionário. A gente só queria ver a situação e a vida delas, mas o que mais chocou é que eram respostas tão negativas que parecia que não tinha paz no mundo”, desabafa Kátia.

Ao refletir sobre o projeto, a professora Elza defende o sucesso e a repercussão das ações a partir do envolvimento direto dos estudantes: “não existe jeito de fazer um projeto com protagonismo se a gente não parar e ouvir o que os alunos têm a dizer. A partir disso, podemos orientá-los de acordo com as possibilidades da escola e do que o ambiente oferece, deixando que apliquem as habilidades que têm evitando que tenham frustrações”.