Mostra de cinema “Múltiplos Brasis” estreia em quatro salas de São Paulo
Circuito reúne cinco eixos temáticos, exibidos no Cinusp, Itaú Cultural, Cine Olido e Matilha Cultural
Desde a Antiguidade Clássica, o homem – analisado como ser biológico, social e cultural – foi objeto de estudo fundamental para a estruturação da disciplina denominada Antropologia. Seu desenvolvimento era reflexo não apenas de suas capacidades cognitivas e físicas, mas também do ambiente que o cercava. Consequentemente, os estudos foram ampliados. Abordariam as civilizações e suas características específicas.
No Brasil, o historiador e membro da Academia Brasileira de Letras, Alfredo Bosi, definiu em seu artigo “Plural mas não caótico” as diversas “culturas” nacionais. Com o intuito de reunir mais obras – desta vez cinematográficas – que reflitam as muitas tradições intrínsecas ao povo brasileiro, a mostra “Múltiplos Brasis” chega a São Paulo. Ao todo, são cinco eixos temáticos: Cidades, Personagens, Fronteiras, Performance e Outros Brasis. As sessões ocupam as salas do Cinusp, Itaú Cultural, Cine Olido e Matilha Cultural. Neste primeiro, integram a programação dois filmes de cada tema, com entradas gratuitas e exibições às 16h e 17h.
Cada programa traz um recorte diferente. “Cidades” tem como pano de fundo as grandes metrópoles; “Performance” ressaltam a reflexão sobre o encenação na vida social; “Fronteiras” traz as limitações das fronteiras físicas e culturais que permeiam as comunidades; “Personagens” busca apresentar os “Brasis” a partir de pessoas e suas narrativas em formato documental; “Outros Brasis”.
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Confira a programação no Cinusp:
2/7
BH SOUL
Horário: 16h
Direção: Tomás Amaral
Ficha técnica: Brasil, 2010, cor, vídeo digital, 93’. Classificação: 12 anos.
Sinopse: Documentário que retrata a cultura urbana do soul em Belo Horizonte, ligada à música e à dança do funk dos anos setenta. Os eventos do gênero que acontecem atualmente na cidade, como o Baile da Saudade e o Quarteirão do Soul, são o ponto de partida de uma pesquisa histórica que mergulha nas décadas de 1970 e 1980. Época em que os dançarinos de soul vinham da periferia para o centro da cidade, com seus cabelos ouriçados e trajes a caráter para dançar em clubes como o lendário Máscara Negra e vagar por aí, driblando a repressão da época.
O céu sobre os ombros
Horário: 19h
Direção: Sérgio Borges
Ficha técnica: Brasil, 2011, cor, 35mm, 72’. Classificação: 16 anos.
Sinopse: A narrativa acompanha alguns dias da vida de três pessoas/personagens: Everlyn é uma transexual que fez mestrado sobre os diários de um hermafrodita do Século XIX e vive entre a prostituição e os cursos de sexualidade que ministra como professora; Murari é um devoto da religião Hare Krishna e do time de futebol do Atlético Mineiro, líder de torcida organizada; e Lwei é africano descendente de portugueses e escreve vários livros ao mesmo tempo, sem nunca ter chegado à conclusão de nenhum. Apesar de não se conhecerem, vivem na mesma cidade, relacionam-se com a escrita, têm cerca de 30 anos e famílias distantes.
3/7
A alma do osso
Horário: 16h
Direção: Cao Guimarães
Ficha técnica: Brasil, 2004, cor, vídeo digital, 71’. Classificação: Livre
Sinopse: De forma gradativa, este documentário experimental revela a existência aparentemente isolada de Dominguinhos, 72 anos, um ermitão que vive numa caverna encravada numa montanha de pedra. Construído com longos silêncios, acompanhando o ermitão na execução das suas tarefas do dia a dia, como cozinhar e limpar, e com imagens que vão para além do seu território, o filme revela, ao final, que na vida do ermitão o silêncio é lugar comum, o estado normal em que o tempo passa. A fala é o estado de exceção.
Estamira
Horário: 19h
Direção: Marcos Prado
Ficha técnica: Brasil, 2004, p&b, 35mm, 115’. Classificação: 10 anos.
Sinopse: A história de uma mulher de 63 anos que sofre de distúrbios mentais e vive e trabalha há mais de 20 anos no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, um local renegado pela sociedade, que recebe diariamente mais de oito mil toneladas de lixo produzido no Rio de Janeiro. Com um discurso eloquente, filosófico e poético, a personagem central do documentário levanta de forma íntima questões de interesse global, como o destino do lixo produzido pelos habitantes de uma metrópole e os subterfúgios que a mente humana encontra para superar uma realidade insuportável de ser vivida.
4/7
Nas terras do bem-virá
Horário: 16h
Direção: Alexandre Rampazzo
Ficha técnica: Brasil, 2007, cor, vídeo digital, 110’. Classificação: 10 anos.
Sinopse: O percurso histórico de um modelo de desenvolvimento criado nos anos 1970, no auge da ditadura militar. A partir da ênfase em grandes projetos e estradas atravessando a Amazônia, ocorre uma aceleração do processo de migração. Como consequência, surgem conflitos armados, devastação da floresta, casos de trabalho escravo, luta pela terra e assassinatos, como o dos sem-terra de Eldorado dos Carajás e o da missionária americana Dorothy Stang.
Marighela
Horário: 19h
Direção: Isa Ferraz
Ficha técnica: Brasil, 2011, cor/p&b, vídeo digital, 100’. Classificação: 14 anos.
Sinopse: O filme retrata o militante Carlos Marighella desde sua juventude na Bahia, seus anos de militância no PCB baiano e nacional, suas prisões na Era Vargas, sua atuação como deputado constituinte, até os violentos anos de repressão militar, quando ele se tornou o inimigo público número um da ditadura brasileira, “a caça mais cobiçada”. Isa, sobrinha de Marighella, teve acesso a um rico material histórico para retratar a vida de seu tio. Desde documentos secretos da CIA até inéditas gravações de rádio feitas por Marighella em Cuba, nos anos 1960. Marighella traz depoimentos da viúva do líder, Clara Charf, e de vários militantes de esquerda que lutaram a seu lado, além de outras figuras emblemáticas da resistência à opressão militar no Brasil, entre as quais o crítico e escritor Antônio Cândido.
5/7
Número Zero
Horário: 16h
Direção: Claudia Nunes
Ficha técnica: Brasil, 2010, cor, vídeo digital, 67’. Classificação: 16 anos.
Sinopse: A ONU estima a população mundial de meninos de rua em 150 milhões. Destes, cerca de 40% são sem teto, porcentagem sem precedentes na história da civilização. Na América Latina, eles são 40 milhões. No Brasil, meninos e meninas de rua goianos encantam-se tanto pela câmera que se apropriam dela para contar suas estórias.
Juízo
Horário: 19h
Direção: Maria Augusta Ramos
Ficha técnica: Brasil, 2007, cor, 35mm, 90’. Classificação: 10 anos.
Sinopse: Documentário que acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade diante da lei. Meninas e meninos pobres entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação de jovens infratores é vedada por lei, eles são representados no filme por jovens não-infratores que vivem em condições sociais similares.
Todos os demais personagens – juízes, promotores, defensores, agentes do DEGASE, familiares – são pessoas reais filmadas durante as audiências na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos menores infratores. As imagens revelam as conseqüências de uma sociedade que manda os filhos ter “juízo”, mas não o pratica.
6/7
Corumbiara
Horário: 16h
Direção: Vincent Carelli
Ficha técnica: Brasil, 2009, cor, vídeo digital, 117’. Classificação: Livre.
Sinopse: Documentário que aborda o massacre de um grupo de índios isolados na Gleba Corumbiara, em Rondônia, na década de 1980.
Terra deu, Terra come
Horário: 19h
Direção: Rodrigo Siqueira e Pedro Alexina
Ficha técnica: Brasil, 2010, cor, vídeo digital, 88’. Classificação: Livre.
Sinopse: Neste filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade e o que é um conto, o que é documentário ou ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro. Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos.
O ritual sucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais. Ao conduzir o funeral, Pedro desfia histórias carregadas de poesia e significados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro. A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante.