‘Risk’, na Netflix, vaza a imagem não autorizada de Julian Assange
Documentário de Laura Poitras expõe a personalidade controversa do fundador do site WikiLeaks
Será que, em um ato de coragem, você arriscaria sua própria liberdade para trazer à tona realidades que manipulam a sociedade?
“Risk”, documentário de Laura Poitras é um filme que nos joga dentro da intimidade de Julian Assange durante 6 anos, a maior parte desse tempo vivendo dentro da embaixada do Equador como asilado, desde 2012. Laura é uma diretora que, através de seus filmes, tenta explorar verdades que são sonegadas ao público e que delatam injustiças e crimes cometidos pela esfera do poder político.
Pela temática e viés de seus documentários, Laura é alvo de intensas investigações por parte do governo americano e já foi interrogada e presa, tendo sido considerada uma documentarista antiamericana.
Julian Assange é o criador do site WikiLeaks, uma organização sem fins lucrativos sediada na Suécia que promove a publicação de material confidencial de governos e empresas fazendo com que cheguem ao mundo fatos sigilosos sem censura e livre de manipulação de dados.
Casos como o vazamento do vídeo mostrando o ataque de um helicóptero americano que matou um grupo de 12 civis nas ruas de Bagdá, incluindo dois correspondentes da Reuters. Ou então a publicação de e-mails da equipe de Hilary Clinton durante a campanha das eleições presidenciais de 2016 nos EUA, que mostravam como a cúpula do partido favoreceu Hillary nas primárias e desvalorizou seu principal adversário, Bernie Sanders. Talvez esse tenha sido um dos principais fatores da vitória de Donald Trump.
Essas histórias nos são apresentadas, aqui e ali, descrevendo o cenário das intrigas onde Assange se inseriu até culminar no momento de sua entrada na Embaixada do Equador como asilado.
O tema das acusações de abuso sexual e estupro proporcionam momentos onde a personalidade controversa de Assange se mostra, e nos deixa sem saber como classificá-lo na escala do bem e do mal, do jeito que a conhecemos. Esse caso nos mostra também a capacidade de seu inimigo, os EUA, de inventar e propagar tramas para incriminá-lo e torná-lo uma figura conhecida no mundo todo como um indivíduo que praticou algo vil na esfera sexual, com a certeza de que esse tipo de crime é sempre cercado de curiosidade e tratado como uma bomba a ser replicada pela imprensa.
Há cenas que mostram todo o jogo sujo em que empresas de utilizam do poder da Internet e interceptação de dados para obter lucros e uma posição privilegiada no mercado.
A verdade sendo usada e distorcida o tempo todo pela esfera política e grandes companhias contra os cidadãos do mundo em uma guerra injusta, transformando-os em meras marionetes.
A narrativa do documentário é meio fragmentada e a diretora vai sendo afetada em sua ideia inicial do projeto, pela visão egocêntrica e inteligente de Julian Assange, que até tenta se utilizar do documentário para difundir algumas de suas ideias e mostrar documentos.
O filme acaba sendo a respeito das contradições, nas palavras da diretora. Assange não pode ser definido como bom ou mal. Não há verdades absolutas e tudo parece dominado pelo desejo de poder.
Até mesmo a extraordinária ferramenta de conexão, a Internet, criada com a proposta de unir e libertar pessoas passou a ser usada também como arma e censura contra a liberdade de sociedades em todo o mundo.
Tanto Assange como Laura correm riscos, até de morte, na certeza de que boas oportunidades e benefícios podem surgir para a sociedade em escala global.
“Risk” é uma excelente aposta para você ficar no sofá da sua casa e ainda assim assumir um risco audacioso: o de ter uma nova perspectiva sobre temas que hoje são cruciais e, a partir disso, não ser mais a mesma pessoa após o final do filme.