Ekos da Dakar

Fotografias investigam a identidade africana.

Pesquisadora de temas ligados aos africanos na diáspora, a fotógrafa e jornalista baiana Márcia Guena viajou ao Senegal há cerca de nove anos em busca de elementos de identidade do povo africano. O resultado poderá ser conferido pelo público de São Paulo na exposição “Ekos da Dakar”.

Com curadoria de Marcelo Reis, a mostra apresenta trinta fotos em formatos que variam de 30 x 40 cm a 50 x 80 cm em Dakar, Bakel e Tambacounda, na região de Casamance, onde vive o povo Diola, na Ilha de Gore. São imagens repletas dos gestos, das cores e dos sorrisos da alma africana no Brasil. A identidade aparece ”no elemento físico, não só na estrutura do corpo, mas também no gestual, na forma de sorrir, de andar, de olhar, traços que agradam bastante”, ressalta a fotógrafa.

Esta relação identitária foi o critério de seleção das imagens para a exposição, as pessoas e suas ações em diferentes momentos e locais das cidades e não só o elemento físico, segundo Márcia Guena. ”Viajei sozinha e descobri que identidade se constrói.”

No Senegal, vista como estrangeira, via-se uma “estrangeira-irmã”, numa situação bastante ambígua. “Eu e meus parentes africanos nos reconhecíamos no lugar possível, não em todos os lugares: é a velha e complexa discussão sobre construção de identidade”.

A fotógrafa quer que este trabalho contribua para a percepção da ancestralidade negra. ”Somos filhos de África e não podemos nunca perder este ponto de partida, para que possamos sempre retornar íntegros, como anuncia a filosofia africana”, reflete.

A semelhança dos senegaleses com o povo africano na Bahia está também na forma de lidar com as adversidades, como afirma Márcia. “O povo africano no Brasil encontrou saídas para lidar com a opressão e com o racismo, que muitas vezes não passam pelo confronto direto”, diz. São ”estratégias que o opositor muitas vezes não percebe ou pensa que é outra coisa, como por exemplo, a demora em realizar tarefas que não quer, uma certa ironia,  transformada em sorriso diante da ofensa, entre outras reações.”

A religiosidade animista é outro elemento importante de identidade. Ainda que grande parte dos senegaleses seja muçulmana, foram preservadas as relações com as religiões africanas originais, as mesmas que deram origem aos cultos africanos no Brasil.

O elemento fundamental da exposição está na identidade emocional das pessoas. Um exemplo é o episódio no qual Márcia vai à fronteira da Mauritânia (no depoimento abaixo). No seio de uma família cujo idioma não compreendia, Márcia deixa-se ficar “ouvindo a todos, com uma atenção apaixonada”, sentindo-se ”de volta a uma casa distante, que sempre busquei”. Eu não conseguia entender nada, mas achei tudo muito familiar – descreve.

Por Redação