Graffiteiros se reúnem em evento no MuBE

Desde o dia 19 de março até 26 de abril, o Museu Brasileiro da Escultura recebe a mostra Graffiti Fine Art. O evento é realizado em três etapas, em que nove artistas apresentam ao público o melhor da arte urbana: graffiti.  A primeira, de 19 a 29 de março, trouxe obras dos artistas Binho Ribeiro, Does e Dalata. A segunda aconteceu de 2 a 12 de abril, com Anjo, Graphis e o americano Cern. A última, de 16 a 26 de abril, apresenta obras de Chivitz, Nove e Presto.

Binho Ribeiro, curador e também expositor, explica que a ideia do evento é mostrar as obras sendo feitas exatamente como acontecem nas ruas, independente do fato de estarem dentro de um museu e promover a discussão sobre o espaço da arte contemporânea. “É uma oportunidade – explica ele – de dar mais visibilidade à arte de rua. É uma conquista poder realizar eventos como este, pois a cada dia o graffiti vem sendo mais reconhecido como uma arte de verdade e ganhando respeito“.

Os artistas fizeram um painel coletivo em que o trabalho de cada um se integra, formando um painel de 2,80m x 15m, no Espaço Burle Marx, e o público aprecia a técnica e o talento nas obras desses artistas renomados do graffiti que mostram seus conceitos, ideias e a expressão da sociedade nessa cultura tão rica e independente. Toda estrutura do evento irá consumir 500 latas de spray para grafito, três latas de 18 litros de látex, rolos, pigmentos e acessórios.

Obra de Anjo
Obra de Anjo

Sobre os artistas

Binho Ribeiro é um dos principais nomes do street art mundial e um dos pioneiros da cultura do Graffiti na América Latina, além de editor da revista bimestral Graffiti. Pintando desde 1984, o artista já expôs em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Santiago, Buenos Aires, Nagoya e Tóquio. Entre os seus trabalhos mais significantes estão a cenografia do Skol Hip Rock, do Criança Esperança (Globo), do Coca Cola Vibe Zone e Nike. Atualmente, seus desenham figuram nas embalagens do Nescau e na campanha da Brasil Telecom, entre outras obras.  É apaixonado por skate e pelo universo empresarial, com a sua grife a “3º Mundo”. Idealista na disseminação da cultura e arte de rua, é hoje, um dos mentores na luta pela consolidação de sua força motriz.

Dalata
Dalata

Does começou sua carreira 1989 utilizando a técnica stencil-art, mas foi apenas em 95 que começou com o graffiti-arte, usando tribais e a cultura indígena na composição de suas letras. Ele assina trabalhos para grandes empresas como Skol, Nescau, Calvin Klein e Telefônica, além de exposições nacionais e internacionais. Seu trabalho mais significativo é uma participação no livro “Graffiti of the Five Continents”, com 360 páginas e 160 escritores graffiteiros do mundo inteiro. Coordenou o projeto “Estação da Cor CPTM”, em Santo André. Para Fabio “DOES”, esta é uma oportunidade para atrair a curiosidade e convidar os transeuntes para analisar a obra. “A pessoa muda sua visão, passa a ver essa arte com outros olhos, fugindo do cotidiano. Queremos que ela pare para admirar o desenho e tente entendê-lo, interpretando o que queremos dizer”. Além disso, a iniciativa é ótima para revitalizar o muro, hoje, escondido em meio aos cartazes publicitários nele afixados, contribuindo para a limpeza da poluição visual. “Esse é um local de bastante movimento, principalmente de carros. Ao pintar o muro, a gente tira a atenção dessa poluição”, disse DOES.

André Gonzaga o (Dalata), ativo no graffiti desde 97 residente de Belo Horizonte e presente em outros estados do Brasil, apresenta um trabalho que vem ganhando reconhecimento mundial com um modo de pintura que mescla a abstração e surrealismo em uma mistura de tecnicas variadas, criando um universo próprio voltado para o positivismo. Dalata também é conhecido pelo seu trabalho em ruínas onde faz intervenções em locais degradados interagindo com a natureza do lugar. Onde aplica a ideologia Da P.A.S.S (Paz, Amor, Saúde e Sorte) desenvolvida por ele mesmo. Atualmente trabalha como um artista multmidia, além de pintar também passeia pelo meio musical atuando como cantor e compositor.  Foi indicado melhor graffiti do ano prêmio Hutus 2005, Rio de Janeiro. Participou das exposições: Street Art no Espaço Usiminas em Ipatinga (2006); Ao cubo  em São Paulo (2006), dos eventos 30 Horas de Graffiti CPTM em São Paulo (2006), Meeting of Styles Mundial de Graffiti no Rio de Janeiro (2006), entre outros.

Alexandre Anjo, de 28 anos, estampa suas obras em cidades brasileiras há mais de 11 anos. Esse tempo de experiência enriqueceu seu estilo e o levou também para as galerias de arte. Hoje, transita entre as manifestações urbanas e os quadros com características únicas. Os retratos que produz são marcados pela sensualidade em contato com detalhes que reforçam os movimentos e as formas do corpo humano. As pinturas fluidas levam o olho do observador a percorrer o desenho por caminhos insólitos e surpreendentes. Cores vivas e abstração também são elementos que povoam o repertório de Anjo, que já levou seus trabalhos para grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Los Angeles. “Acredito que o meio onde vivemos é reflexo do que somos e está enraizado em nós”, declara o artista. ‘Levando em conta esse preceito, é possível perceber que seu mundo é jovem, vívido, dinâmico e acolhedor, por isso vale a pena viajar mais pelos espaços oníricos que suas pinturas proporcionam’.

Graphis percebeu em 98 que já era literalmente um artista de rua, ao se destacar e ser muito requisitado para pintar no asfalto, temas como a Copa do Mundo. Foi quando se deparou com alguns sprays, fez caricaturas de jogadores da seleção e não parou mais.  Os trabalhos começaram a aparecer da noite para o dia.  Decidiu colocar seus desenhos nas ruas também, sem imaginar o universo do Graffiti que estava prestes a representar. Aos poucos conquistou seu espaço ao mesmo tempo em que tentava dominar a técnica e desenvolver algo cada vez mais criativo. Coordenou o Projeto Galerias ao ar Livre em parceria com a Coordenadoria da Juventude de São Paulo com objetivo de revitalizar espaços públicos, além do incentivar e valorizar a arte e o artista de rua. Recebeu os Prêmios Hutúz na categoria Graffiti e como destaque do Graffiti Nacional. Suas obras foram publicadas em livros como “Cuidados pela Vida”, “Cidade Ilustrada”, “O Graffiti na Cidade de São Paulo” e “Por Traz dos Muros, horizontes sociais do grafito”, além de revistas e sites, nacionais e internacionais de “Graffiti”. Participou de mostras em várias cidades, entre elas Curitiba, Rio de Janeiro e Santiago (Chile). Em Setembro deste ano foi convidado e participou da 1º Bienal Internacional de Graffiti de Belo Horizonte.

Cern é um aclamado artista dos grafitos de New York, CERN começou com a pintura no início dos anos noventa. Nos últimos anos, tem focalizado seu trabalho em murais com seu grupo, YMI, e muitos outros artistas em torno do mundo. Tem exibido igualmente recentemente o trabalho em telas e aquarelas em várias galerias do mundo todo. CERN foi incluído em livros como “Burning Nova York” e “Graffiti Mundo”.  Sua mistura original de fantasia e realismo traduzido em borrões e linhas mescla grafito e arte com maestria. As criações de CERN são uma mistura de cores chamativas,  um mundo colorido que é colocado em movimento.  Explosões e as projeções estão lá.  Congeladas na tela como se o tempo tivesse parado.  Sua pintura convida a descobrir um mundo diferente, underground, iluminando o mundo que nos rodeia.

Chivitz é artista multimídia. Iniciou seus trabalhos como tatuador em 1996, mesmo ano em que começou a grafitar nas ruas de São Paulo. Nascido e criado na grande metrópole, skatista e adepto da cultura hip-hop, em 1999 juntou-se a Markone e Marone para formar a Neurose Urbana Crew, um coletivo de graffiteiros e tatuadores. Suas mensagens agradáveis de suas pinturas são facilmente encontradas pela cidade, em livros e revistas de grafito ou em galerias paulistas de arte, especializadas neste segmento.

Nove é graffiteiro desde 1999. É conhecido por sua técnica primorosa e pela influência da natureza e da tecnologia em sua arte. Telas, madeira e sucata são seus suportes – além, é claro, da rua, ambiente onde pinta constantemente. A arte de Nove retrata o cotidiano com psicodélica, criando ambientes totalmente nonsense. Elementos como grafismos e cores vibrantes remetem à linguagem tecnológica, enquanto a natureza é vista em pessoas, galhos e elementos orgânicos.  O universo criativo de Nove materializa o contraste entre o digital e o natural da vida moderna, nos fazendo refletir sobre o que é puro e o que é artificial – proposta que o levou a desenvolver, além de oficinas e workshops de grafito, trabalhos profissionais para marcas como Colcci, Rede Globo, Itaú Cultural, Ellus e AmBev. Para o Projeto Portfólio, Nove desenvolve um painel inédito, concebido e aplicado diretamente na área externa da agência.

Presto (Márcio Penha), estudou na Escola Carlos de Campos, berço de muitos artistas que se consagraram no grafito paulistano, como Speto, Os gêmeos e Onesto entre outros. Começou a pintar nas ruas em 1996 e desde então desenvolve um imaginário próprio, formado por figuras fantásticas e uma caligrafia rebuscada, quase abstrata, com um estilo único e técnica diferenciada. Seu desenho e pintura são muito delicados e seus suportes são escolhidos, construídos, destruídos e reconstruídos com maestria. Telas envelhecidas, madeiras desgastadas e metal enferrujado se transformam no background perfeito para o artista colocar seus coloridos personagens de cartoon. Ele representa em suas obras as experiências e personagens de uma cidade grande, de sua São Paulo. Morou em Tóquio (Japão) durante o ano de 2000, onde aprimorou seus conceitos de arte e bombardeio urbano.

Por Redação