Aos 76 anos, Dona Lili transforma costura num micronegócio

Ela nasceu em Marrocos, viveu em Angola, onde se casou, foi para Portugal e África do Sul, até que desembarcou no Brasil, em 2004, para conhecer sua primeira neta. Foi assim que Liliana Gilberta Arraias Lourenço Ventura Rodrigues, ou simplesmente D. Lili, costurou sua história de 76 anos de vida.

 

Bancária até os 60 anos, ela conta que sempre gostou de costurar, bordar e fazer crochê e tricô, principalmente à noite. Autoditada, diz que aprendeu tudo o que sabe em uma revista. De sua máquina de costura, transformava peças de tecido em lençóis, toalhas de mesa e bonecos de pano para os três filhos.

Já aposentada, veio para o Brasil em 2004, conhecer sua primeira neta, Ana, filha de Suzana. Retornou em 2012, já separada do marido, depois de 50 anos de casamento. “Foi quando aceitei o convite da Rede Asta para trabalhar no grupo Vizinhas do Mar. Foi uma forma de eu sair de casa e ocupar a mente.”

Confiante, no ano passado juntou-se à filha e à neta para criar o grupo produtivo Pipa Carioca. E é de lá, um ateliê de 20 metros quadrados na comunidade do Terreirão do Recreio, no Rio, que D. Lili transforma tecidos doados em delicadas costuras, como as recém-lançadas bolsas infantis.

“A Rede Asta hoje é meu ganha-pão”, conta a artesã. “A aposentadoria não sustenta uma casa com cinco pessoas [moram com ela a filha e três netos]”, diz. D. Lili chega a receber encomendas de 100 peças. “Aí trabalho sem parar de manhã, de tarde e de noite. Sou desembaraçada, quero ver tudo pronto.”

Diz que não vê problemas em produzir sozinha. “É até melhor. Trabalho e paro quando quiser. A verdade é que, tirando um pedido maior, faço tudo com os pés nas costas.” Mas não descarta a possibilidade de, quando o negócio aumentar, contratar uma ajudante. “Mas que não me aborreça”, ressalta.

No dia a dia, as três gerações se complementam. Dona Lili tem a habilidade, Suzana, a criatividade, e Ana, a conectividade. Mas ela não esconde o sonho de sair da comunidade. “É muito barulho, muita gente”, desabafa. “Quero um lugar sossegado e com uma varandinha para eu tomar um ar fresco.”

Em parceria com qsocial