Cinelândia paulistana: filme retrata a história dos antigos cinemas do centro de SP

Filme que conta a história dos antigos cinemas do centro de São Paulo precisa da sua ajuda para chegar às telas; saiba como contribuir

A entrada que exibe cartazes de filmes eróticos, mal iluminados pelo letreiro de neon de um antigo prédio, esconde o passado de São Paulo, hoje quase esquecido. Na calçada decorada por títulos do cinema pornô, que disputam a atenção da escassa clientela das ruas da República, acontecia há 60 anos o auge e esplendor da região que ficou conhecida como “Cinelândia Paulistana”.

“Quando as Luzes das Marquises se Apagam: A História da Cinelândia Paulistana” é o nome do documentário dirigido pelo jornalista Renato Brandão, que faz um recorte da trajetória das salas de cinema que ficavam nas avenidas São João e Ipiranga, centro da capital paulista. “Aqueles cinemas pornôs me intrigavam. Como é que chegaram até aquela situação? Qual teria sido sua trajetória? Foi daí que pintou a ideia para contar essa história dos cinemas de rua daquela região”, ressalta o jornalista.

O filme, que conta com a sua ajuda para ser finalizado, reúne depoimentos de pessoas que vivenciaram a Cinelândia Paulistana – origem nos anos 1930 até o declínio a partir da década de 1980 – para falar das lembranças em um tempo de estreita relação entre a rua e o cinema. “A ideia surgiu quando ainda estava na faculdade. No trajeto entre minha casa na zona norte e a USP, inevitavelmente passava pelo centro. E eu sempre gostei muito daquela área ali da São João, Ipiranga. Quando era criança, uma das coisas que mais me deixava feliz era poder sair do meu bairro e ir ‘para a cidade’, para o centro.”

“Nessa coisa de estar passando todo dia pelo centro, andar por suas ruas, ver toda aquela gente que dá vida à região, via sempre pelo caminho as salas de cinema, mais um elemento desse centro cheio de vitalidade e histórias. Eu costumava pegar o ônibus para a USP em um ponto de ônibus que ficava na calçada do antigo Cine Ipiranga, que fica em frente ao Cine Marabá. E naquele quarteirão tem dois cineminhas pornôs, Paris e República. Muitas vezes, caminhava da Praça do Correio até a Ipiranga, vindo pela São João, então passava pelo Art Palácio também, outro cinema que funcionava como pornô”, relembra.

Da dúvida surgiu então, a solução para um antigo desejo de Renato, que queria produzir um filme, mas ainda não tinha tema definido.“Trabalhamos em um intenso projeto de pesquisa, que foi realizada principalmente no Arquivo Público do Estado. Foram muitas horas e muitos meses imersos em microfilmes, jornais e fotografias que contavam um pouco sobre a São Paulo da época.”

Anos após o ponto de partida do projeto, o filme, em fase de captação de recursos no Catarse faz um resgate da história desde a ascensão, ápice, declínio, ao fim das diversas salas da época, como os cines Art Palácio, Metro, Ipiranga, Marabá, Marrocos, Jussara, República, Olido, Coral e Comodoro.

Reabertura dos cinemas de rua em SP

Ao reviver os tempos de Cinelândia Paulistana, o documentário retoma um assunto que voltou a ser discutido nos últimos meses. Com a reabertura do Belas Artes, um dos mais notórios espaços de exibição da cidade, o prefeito Fernando Haddad manifestou a intenção de redemocratizar o acesso à sétima arte, com a criação de novas salas de cinema popular.

Para o diretor, toda iniciativa que incentive os cinemas de rua é positiva para a cidade. “A questão é que, infelizmente, não há um projeto continuado. É como se cada administração municipal pensasse em uma marca de governo. Troca-se o secretariado do prefeito anterior pelo secretariado do prefeito posterior e o efeito disso são diversas mudanças. Seria importante que houvesse um comprometimento de se fazer uma política cultural de médio ou longo prazo para a cidade. No caso dos cinemas de rua, isso seria fundamental”, ressalta.

Desde que o cinema saiu das ruas para se restringir às confortáveis poltronas de shoppings em todo Brasil, a cultura do cinema de rua vive cambaleante nas grandes cidades do país. Se na década de 50, a Cinelândia Paulistana ostentava centenas de salas de porta para a rua, hoje a maior cidade da América Latina não conta com mais de dez endereços.

“De fato vejo uma grande diferença entre assistir a um filme em um cine de rua ou em um cinema multissalas de shopping. O primeiro tem uma relação bem bacana com o espaço urbano, pois ele é voltado para a rua, para quem circula pelas calçadas. Não dá para você reproduzir isso em um cinema de shopping, que é um lugar que por muitas vezes representa o oposto do que é a cidade.”

Assista ao trailer da campanha divulgada no Catarse: