Ushuaia, explorando o fim do mundo

Por: Catraca Livre

Ushuaia carrega o título de “cidade mais austral do mundo” ou o “fim do mundo” o que não é totalmente verdade, afinal, do outro lado do canal de Beagle ainda temos a pequena cidade chilena de Puerto Williams, onde o turismo não é tão desenvolvido. Portanto, podemos considerar Ushuaia uma espécie de “capital turística” pra quem quer conhecer a ponta da América do Sul.

Para a grande maioria dos viajantes Ushuaia costuma ser visitada durante 3 ou 4 dias, em um roteiro total de duas semanas que inclui também Torres del Paine, El Chaltén e El Calafate, o que considero pouco pra conhecer de verdade a localidade. Estive (na verdade estivemos = 2 pessoas) por lá em dezembro de 2014 durante 12 dias, o que julgo ser mais ou menos o tempo adequado pra curtir o local. Contudo, como cada um tem suas preferências, seguem algumas dicas gerais da TerraMédia Trekking pra você elaborar o seu próprio roteiro…

Importante: antes de continuar lendo é bom saber que trocamos dinheiro na seguinte cotação: R$ 1 = AR$ 4,30

Onde ficar?

Fui na alta temporada de verão e com o roteiro meio “aberto” pra acampar durante alguns dias, logo, acabei não reservando um hostel pra viagem inteira e, por conta de lotação, fiz um verdadeiro tour por diferentes hospedagens, dentre estas:

Hostel Antarctica: quase deixei de fora da lista por conta de más recomendações lidas na internet, mas, pela facilidade de reservar na internet sem precisar pagar antecipado, acabamos ficando aqui nos três primeiros dias de viagem e o lugar é ótimo! Banheiros limpos, cozinha limpa, ótima área de convivência e, quanto ao atendimento, foi o melhor hostel em que já estive. Quando disse que era do Brasil o carinha da recepção até botou pra tocar “Eu vi Gnomos” do Tihuana… Ficamos em um quarto privado por AR$ 450,00 por dia (aprox. R$ 100,0 na cotação que pegamos)  com café da manhã incluso e banheiro coletivo). Só não fiquei aqui o resto da viagem porque não havia mais quartos disponíveis.

      
Hostel Haush: esse foi o contrário do Antarctica, li boas recomendações na internet mas me desapontei bastante com o lugar. O atendimento deixou a desejar e o quarto estava muito sujo (cheio de penas embaixo da cama!?). Pagamos AR$ 550,0 por um quarto privado, banheiro coletivo e café da manhã.
Hostel Yakush: mesma qualidade do Antarctica, com um atendimento um pouco menos cordial (mas ainda assim muito bom), uma localização um pouco melhor (ao lado da San Martin, principal rua do centro da cidade) e um pouco mais caro (AR$ 550,00 por um quarto privado, banheiro coletivo e café da manhã) Em resumo: recomendo! Ah, eu reservei/paguei quando já estava em Ushuaia, não sei como funciona a reserva antecipada, mas vi um gringo tendo problemas com isso.
      
Hotel Mustapic: Sim, um hotel! Voltamos de uma travessia com um dia de antecedência e moídos, portanto, não tinha perna pra ficar procurando hostel de porta em porta e queríamos um banheiro privado pra dar uma geral na gente e nas coisas. Encontramos o Hotel Mustapic com um preço bom (AR$ 800 –quarto com uma TV–  e banheiro privado e com café da manhã). O atendimento é ótimo e o lugar tem uma sala de convivência com uma baita visão do canal, mas o café da manhã foi praticamente o mesmo servido nos hostels Antarctica e Yakush, além disso, o quarto desses dois hostels era mais aconchegante que o do hotel. Em resumo, hotel bom, mas esses dois hostels eram melhores.
      

O que fazer na Cidade?

Além de dar um rolê pela Av. San Martin, onde estão boa parte das lojas/restaurantes, vale a pena caminhar até o porto turístico pra tirar a tradicional foto na placa do fim do mundo e na frente do  HMS Justice (W140), navio naufragado de frente pra cidade. Não fui, mas li relatos recomendando ir até o Aeroclube de Ushuaia que de lá dá pra fazer fotos legais da cidade (aquelas dos postais).

Ushuaia tem pouco mais de 100 anos de história e algumas construções antigas que marcam a história da cidade, mas pelas fotos não me pareceram nada extraordinárias e acabei nem indo conhecer. E tem os museus, os famosos museus, os quais vou abordar separadamente pra expor minhas opiniões:

Museu del Fin del Mundo: não me chamou muito a atenção, com basicamente uma sala geral sobre ushuaia/índios/europeus/navegações cujo objeto mais interessante é a proa do navio “Duchess of Albany” que naufragou na região e uma sala com animais empalhados e pronto! Sinceramente eu não curti. Com o ingresso desse museu é possível visitar também o Museu Histórico Ex-Casa del Gobernador, onde mais da metade do conteúdo é sobre barcos e navegações, incluindo uma sala inteira só sobre o naufrágio do Monte Cervantes. Também não gostei. Eu economizaria esse tempo e os AR$ 90 de entrada.

Museu Marítimo (Presídio): São tantas galerias e salas, muitas das quais com painéis tão extensos que levaria um dia inteiro pra ler aquilo tudo e olhe lá se seria o suficiente, mas a maior parte do conteúdo não me chamou a atenção. O mais legal ali e que faz compensar a visita é a construção, é estar onde praticamente começou a história de Ushuaia. Uma das galerias é reservada justamente a história do presídio e dos malucos que passaram por lá – vale a pena dar uma lida sobre o orelhudinho louco que aos 16 anos já tinha matado uma meia dúzia; além de uma galeria mantida exatamente como o prédio estava antes de ser revitalizado. No mais, tem outra galeria focada em navegação (cansativa), uma com exposições de arte (no dia em que fui haviam algumas obras fantásticas do Jorge Alejandro Abt) e ah, nem lembro do resto. A entrada custou AR$ 150 por pessoa e se quiser saber mais: www.museomaritimo.com

Museu Yamaná: o menor e mais barato dentre todos e o que mais curti. Não tem muitos objetos históricos, mas sim maquetes e painéis que contam de uma forma objetiva um pouco da história de um dos povos indígenas que habitou a Terra do Fogo. A entrada custa AR$ 75,00

Ah, outra coisa importante na cidade é comer! É sempre legal conhecer um pouco da culinária da região e li muitos relatos recomendando experimentar a Merluza Negra (acabou que esse nem comi), o bife de Chorizo e o Cordero Fueguino (são bons) e a Centolla (King Crab, os caranguejos gigantes). Sobre este último, não se engane, por ser pescado na região é mais barato do que comer no Brasil, mas isso não quer dizer que é barato como comer bife, uma Centolla ao natural (aquele que o bicho vem inteiro) sai por AR$ 400,00/kg, e cada um tem uns 2 kg e pouco.

Dá uma trabalheira ficar cortando a casca pra comer e o gosto nem é tudo aquilo, eu particularmente troco fácil por uma tilápia ou casquinha de siri aqui do Brasil.Não vou ficar recomendando lugares por que a cidade tá cheia de restaurantes, o negócio é escolher na hora mesmo, apenas sugiro que aqueles que fecharem passeios com a agência Brasileiros em Ushuaia (daqui a pouco falo mais deles) peçam pra eles o que tem de voucher de desconto disponível (consegui um de 10% pra comer Centolla).

   

Passeios Turísticos Tradicionais:

Os passeios tradicionais de Ushuaia são: de barco pelo canal de Beagle (tem dois, um que vai pra ilha dos pássaros, dos lobos e o farol; e outro que além desses três locais ainda vai até a pinguinera, mas você não desce do barco); a pinguinera a pé; em veículo 4×4 nos lagos Escondido e Fagnano; de táxi até o Glaciar Martial; e de trem/táxi/van até o Parque Nacional Tierra del Fuego. Dentre estes, só não fiz o passeio no 4×4 porque, pelo que li, as paradas pra curtir os lugares são curtas, então, como conheci lagunas incríveis nos trekkings, desencanei de pagar uma fortuna pra andar de carro.

Os demais passeios descrevo abaixo, mas antes, faço aqui uma indicação que me fez toda a diferença na trip, a agência Brasileiros em Ushuaia. Fechei com eles os passeios pelo canal de Beagle e na pinguinera e os preços são exatamente os mesmos que as demais agências. O grande diferencial é que, como eles mesmos me falaram, a intenção não é só vender passeio, mas ser uma referência de informação pra BRs que querem conhecer Ushuaia, portanto, esclareceram muitas dúvidas que eu tinha já no planejamento da viagem, me deram boas dicas sobre a cidade, guardaram as mochilas extras quando fomos acampar e me deram um transfer gratuito do aeroporto até o hostel quando cheguei. Agradeço muito a cada um deles e recomendo demais, pois fizeram toda a diferença na logística da viagem

Navegação no Canal de Beagle: passeio irado que passa pelas ilhas dos pássaros (onde se vê vários cormonares – ave da região) e dos lobos marinhos e, posteriormente, segue até o farol Les Éclaireurs (o popular farol do fim do mundo que na verdade não é o farol do fim do mundo). O passeio dura cerca de 3 horas, com embarcações saindo de manhã e a tarde. Valor: AR$ 450 com os Brasileiros em Ushuaia + AR$ 15 do ingresso do porto.

   
Pinguinera: Depois de ler alguns relatos eu quase não ia fazer o passeio que desce na ilha, até porque não é barato e todos dizem que o passeio de barco que vai até lá chega numa distância próxima o suficiente, mas, mudei de ideia e, com toda a certeza, descer na ilha valeu cada centavo. É claro que você não sai andando no meio dos pinguins, o lugar é uma reserva e existem caminhos marcados pra se seguir, mas os bichos estão por toda a parte e você chega muito perto deles (menos de dois metros) e as explicações dos guias que te acompanham são ótimas.
Estando no Brasil você não vai ver pinguins com frequência, então, minha recomendação é que gaste um pouco a mais e faça esse passeio! Tenho certeza que não vai se arrepender. Ah, só pra constar você vai de ônibus até a Estância Harberton, no caminho para pra tirar fotos das famosas “árvores bandeira” – aquelas que crescem de lado por causa do vento, visita o museu com várias ossadas de animais marinhos e depois segue numa lanchinha até a ilha dos pinguins. Valor: AR$ 900 com os Brasileiros em Ushuaia + AR$ 30 (acho que foi isso) do ingresso da estância.
 
Glaciar Martial: vá de táxi até a base da montanha (AR$ 70,00 – só ida) e de lá suba caminhando até o glaciar. É legal? É, mas vi alguns glaciares durante os trekkings que fizemos, portanto, não foi nada surpreendente. Sinceramente eu excluiria o glaciar Martial e colocaria no lugar dele o glaciar Ojo del Albino, próximo a Laguna Esmeralda, ou o glaciar Vinciguerra, no Valle de Andorra. Talvez com o teleférico funcionando tudo seja mais legal, mas eu não curti. E ah, não pare na casa de chá, é absurdamente cara.
Parque Nacional Tierra del Fuego: embora o propósito aqui seja fazer trekking, como é um passeio padrão eu acabei deixando nesse tópico, enquanto todas as outras trilhas cito no tópico seguinte. Em resumo, o parque possui várias trilhas, escolha algumas e se joga! Eu recomendo a senda costera (8 km de paisagens iradas e que passa pela agência de correio do fim do mundo, onde dá pra mandar um postal pra casa pra guardar de recordação) e a subida ao Cerro Guanaco, que acabei não fazendo mas é muito elogiada. Além desses, é quase que obrigatório ir até o final do parque pra tirar a foto ao lado da placa que marca o fim da Ruta Nacional Nº 3, que vai de Buenos Aires até lá. Fui de táxi até a portaria do parque e de lá caminhei um pouco até sair de fato da estrada e chegar nas trilhas, o que me levou a perder tempo e nem economizei tanto assim.
O que recomendo é conversar com os Brasileiros em Ushuaia e fechar com eles um transfer que vai entrar no parque e percorrer por ti essa parte de estrada onde não se vê nada (uns 3 km). Essas topics ainda te pegam no final de uma trilha e te deixam na entrada da outra, o que te faz ganhar muito tempo e conhecer mais coisas. Se tivesse feito isso eu teria tempo e perna sobrando pra fazer o Cero Guanaco, mas não rolou.Por fim, o parque ainda tem um centro de visitantes onde dá pra relaxar um pouco e fazer um lanche. Custos: AR$ 100 pelo ingresso do parque + deslocamento (R$ 300 ida e volta se for de táxi até a portaria ou AR$ 200 por pessoa –ida e volta– se for com a van que entra no parque).

Trekking em Ushuaia

Ushuaia tem muito trekking pra fazer, com a vantagem de ser tudo relativamente próximo da cidade, o que te dá autonomia de deslocamento, combinando com taxistas hora e local pra ir e pra ti buscar. Antes de viajar compilei várias trilhas da região em um único arquivo, nesse caso, quem se interessar pode entrar em contato através do blog da TerraMédia Trekking ou nosso Facebook que posso enviá-lo (em formatos compatíveis para abrir no Google Earth e outros programas do gênero), contudo, faço a seguinte ressalva: não fiz todas aquelas trilhas, apenas juntei arquivos disponíveis na internet, nesse caso, não me responsabilizo se alguma delas não estiver correta.

Entre os trekking que fiz, recomendo os seguintes:

Travessia Valle de Andorra – Cañadon de la Oveja: circuito que dá uma volta por trás de Ushuaia, totalizando cerca de 30 km que podem ser percorridos em dois dias. No primeiro dia (mais tranquilo) costuma-se atravessar o Valle de Andorra até a Laguna del Caminante; já no segundo dia, onde se atravessa o Cañadon de la Oveja, é um pouco mais puxado, principalmente um trecho pela mata onde várias árvores caídas dificultam a passagem. O circuito pode ser feito em mais dias, com a possibilidade de acrescentar ao primeiro dia uma esticada até a laguna encantada (aprox. +5 km ida de volta, não é muito bonita quando comparada as demais; quem quiser esticar mais ainda pode subir o Cerro Esfinge a partir da laguna, mas nesse caso recomendo fazer a travessia em três dias) ou o Glaciar Vinciguerra/Laguna de los Tempanos (aprox. +10 km; não fui, mas vi fotos e parece ser muito legal).

  
Laguma Esmeralda: trilha tranquila e bem marcada, com um total de 5 km (só ida) que são feitos em cerca de duas horas. A maior parte do pessoal faz bate e volta em um dia, mas recomendo acampar por lá e, de repente, combinar a laguna com o glaciar Ojo del Albino (aprox. + 2 km – só ida) e/ou com uma ascensão ao Cerro Bonete.
Cerro Del Medio: montanha com aprox. 940 m.s.n.m., localizada bem próxima a Ushuaia e de onde se tem uma vista incrível do canal de Beagle. A trilha tem cerca de 5,5 km de extensão, desnível total de 850 metros e é muito bem sinalizada.
  

Por último, segue um print do Google Earth com cada uma das trilhas, sendo: em azul a travessia Valle de Andorra – Cañadon de la Oveja; em verde o Cerro del Medio; em amarelo o Glaciar Martial; em rosa a Laguna Esmeralda e em vermelho algumas trilhas do Parque Nacional Tierra del Fuego. Quem quiser as tracklogs favor solicitar através do blog da TerraMédia Trekking

Resumidamente é isso que recomendo… Para ler o relato completo com todas as fotos e informações adicionais, ou solicitar as tracklogs das trilhas e a minha planilha de gastos completa acesse o blog da TerraMédia Trekking ou nosso facebook!