O óbvio ululante

Bienal de São Paulo traz fotógrafos que revelam aquilo que, de tão claro, ninguém nota

Pessoas que repetem os mesmos gestos, no mesmo lugar. Combinações improváveis de roupas, palavras e rostos. Registros do agora e do passado. Retratos de tipos comuns. Essas imagens passam diante dos nossos olhos todos os dias, mas só são percebidas por alguns.

A intenção da Bienal de São Paulo, que começa em setembro, é mostrar, com uma série de exposições de diferentes fotógrafos, alguns desses instantâneos que são ao mesmo tempo óbvios e imperceptíveis para a vida das grandes cidades.

As fotos do trabalho “Babel Tales”, de Peter Funch, mostram como pessoas que nunca se viram podem ser postas em uma sincronia do cotidiano quanto repetem os mesmos movimentos. O fotógrafo dinamarquês fica dias em um mesmo local observando e capturando coisas que chamam a atenção. O resultado é uma cidade dividida em tipos comuns, como os que falam ao celular, os que carregam balões e os que olham para o lado.

Semelhante é o trabalho do holandês Hans Eijkelboom, que encontra padrões nas pessoas que passaram por ele nas ruas das maiores metrópoles do mundo. Com uma câmera escondida, ele flagra as repetições que elas causam inconscientemente no dia a dia.

Um pouco contrastantes são as fotos do angolano Ambroise Ngaimoko. Feitos em um estúdio de retratos, seus instantâneos mostram pessoas que não estão em um “ambiente natural” como as ruas da cidade, mas atingem o objetivo de mostrar os tipos comuns que sobreviveram ao tempo. Os garotos, os namorados e os amigos não fazem parte de nenhuma “combinação” inusitada, mas podem ser identificados como pessoas com as quais trombaríamos na calçada.

Pensar assim, ou que a qualquer instante podemos estar fazendo parte de um movimento sincronizado, deixa no mínimo a curiosidade de conferir o que vem em setembro.

Por Redação