Mulher com câncer raro vende batatas para manter seu tratamento

Por: Fernanda Miranda

Panelas, caixas de isopor e utensílios de cozinha se espalham pela sala da chef Lilian Sanjuán, moradora de São Roque, no interior de São Paulo. Às sextas-feiras, a cada 15 dias, a sala de estar de seu apartamento é transformada em uma grande cozinha para receber vizinhos e clientes que se reúnem para apreciar as batatas recheadas preparadas pela chef. O empreendimento foi batizado de Quem Segura Essa Batata.

Vendidas a R$ 15 cada, as batatas cozidas preenchidas com carne seca, queijo, frango e outros sabores ajudam Sanjuán a pagar tratamento, exames, consultas e remédios todo mês.

Lilian abre as portas de sua casa às 17h para vender as batatas
Lilian abre as portas de sua casa às 17h para vender as batatas

No começo de 2014, ela foi diagnosticada com pseudomixoma peritoneal, um tipo raro de câncer que ataca a região do abdômen.

Antes de descobrir a doença, Sanjuán era chef de um bistrô em Alphaville, na Grande São Paulo. Inicialmente, ao sentir dores e incômodos no abdômen, médicos indicaram que ela estava com apendicite. No entanto, mesmo após realizar uma cirurgia, as dores continuaram.

Em uma nova consulta no médico, a chef finalmente descobriu por que sentia tanta dor. Ela tinha 37 anos quando teve que parar de trabalhar para começar o tratamento contra o câncer e passar por uma nova intervenção cirúrgica.

“A cirurgia foi muito agressiva e ao final dela grampearam minha barriga. Fora isso, meu cabelo começou a cair e eu não parava de vomitar”, conta em entrevista ao Catraca Livre.

Preocupada com seus gastos, ela resolveu voltar a trabalhar quando recebeu alta e pôde ir para casa. No seu apartamento, montou uma estrutura para começar a preparar pizzas. “Eu vendia 10 pizzas. Mas aí foi aumentando para 50, teve um dia em que fiz 100”, comenta.

O ritmo de trabalho, no entanto, era muito pesado para ser mantido. “Eu sou muito perfeccionista. Embora tivesse ajuda de familiares e amigos, gostava de preparar os discos de pizza com minhas próprias mãos. Só que isso exigia muito esforço e acabava forçando meu abdômen”.

Certo dia, passeando em um shopping, ela teve um instalo: ia começar a preparar batatas recheadas. “Boca a boca, a notícia foi se espalhando pela cidade. Os vizinhos me ajudavam e até doavam alimentos como muçarela, presunto. Só que parei de aceitar doações, pois algumas pessoas maldosas disseram que eu tinha inventado a doença só para conseguir esses auxílios”, revela.

A história da chef foi veiculada pela imprensa e, em pouco tempo, o Quem Segura cresceu. A venda do produto é realizada duas vezes ao mês para que ela consiga conciliar o trabalho e o tratamento.

Quem segura essa causa?

Para ajudar na divulgação de seu empreendimento, Sanjuán teve a ideia de procurar famosos que pudessem ouvir sua trajetória.

Em uma visita a São Roque para uma apresentação teatral, Christiane Torloni teve a oportunidade de conhecê-la. A atriz foi a primeira das celebridades a tirar uma foto segurando o isopor da batata como forma de abraçar a causa. Depois dela, outros nomes como Sabrina Sato e Xuxa toparam posar em prol da iniciativa.

Atualmente, Sanjuán segue em tratamento. “Estou há dois anos nessa luta. Eu só quero viver. Às vezes caio pelas dores e pela situação. Tem dias em que quero cozinhar, mas dá fadiga, começo a tremer. Aí tenho que parar. Sinto que não tenho a mesma força de antes”, confessa.

“Vejo pessoas reclamando por coisas tão pequenas. Conto minha história pois quero que as pessoas deem mais valor para a vida. Elas sempre estão num modo tão automático e mal prestam atenção no que as outras falam. Espero que eu ajude a dar uma ‘chacoalhada’ nelas”,  conclui.

Pseudomixoma peritoneal

De acordo com o médico Gustavo Jacob, o pseudomixoma peritoneal é um tipo raro de câncer que afeta a cavidade abdominal. Sua origem pode ser da ruptura de um tumor maligno mucinoso do apêndice ou do ovário.

Os principais sintomas deste tumor são a dor e a distensão abdominal.