10 dicas de livros infantojuvenil com temática LBGT; leia entrevista com autoras

Autora acredita que é papel dos pais mostrar o mundo em sua plenitude

 
 

A literatura infantojuvenil não vive apenas de príncipes, princesas, castelos encantados e finais felizes. Novos autores estão abordando temas, até então considerados tabus nas publicações, mas que já fazem parte do universo dos jovens.

O Lado Bi compilou 13 títulos infanto-juvenis que abordam a temática homossexual de maneira sensível e sensata. Confira 10 dicas no box abaixo da matéria.

Para aprofundar o debate, o Catraca Livre entrevistou Liliane Prata, autora do livro “Uma bebida e um amor sem gelo, por favor” e Márcia Leite, autora de “Olívia tem dois papais” e “Do jeito que a gente é”.

Veja a lista completa do Lado Bi aqui. 

Catraca Livre – Como surgiu a ideia de escrever um livro com a temática?

Liliane Prata: “Lá em 2000, 2001, uma das minhas amigas mais próximas se descobriu bissexual. Ela já tinha se envolvido com homens e, meio que de repente, se viu apaixonada por uma mulher, que depois virou sua namorada. Acompanhei de perto todas as questões e medos dela e daí veio a ideia de criar a Marina, a protagonista de “Uma bebida e um amor sem gelo, por favor”- uma publicitária que, até outro dia, era hétero, viu-se surpresa ao desejar outra mulher e acabou se permitindo viver aquele encontro”.

Márcia Leite: Tenho dois livros que de certa maneira esbarram nessa “temática” das relações homoafetivas. Olívia tem dois papais, pela Companhia das Letrinhas, e Do jeito que a gente é, pela editora Ática. Mas acho que o que interessa explicar é que nenhum dos dois foi pensado com o propósito de trabalhar o tema da homossexualidade. Em ambos minha intenção foi a de contar histórias em que personagens vivessem situações que poderiam ser vividas por qualquer pessoa, independentemente da sua orientação sexual.

Família todo mundo tem, e a personagem do meu livro, Olívia, tem também a sua, no caso formada por dois homens e ela, como filha. Se fosse um casal hetero Olívia seria do mesmo jeito, teria as mesmas caracteríscias pessoais, mas achei legal levar para o leitor uma família absolutamente normal, afetiva e estruturada, mas composta por dois pais.

No Do Jeito que a gente é o personagem Chico vive dilemas do adolescer, situações pelas quais todos os adolescentes passam: conflitos com a família, perdas, apaixonamento, iniciação sexual, busca pelo autoconhecimento etc. Só que Chico é gay, mas se ele não fosse, seus dilemas seriam os mesmos, a única coisa que mudaria seria seu interesse por meninas e a aceitação social de sua orientação.
Então tento problematizar essas pequenas grandes hipocrisias sociais nos meus dois livros.

Na verdade, acho que a necessidade que existe de rotular os livros que apresentam personagens ou famílias homoafetivas como livros que trabalham questões de gênero ou temática gay ou LGBT, existem simplesmente porque a sociedade ainda está longe de encarar a homossexualidade com naturalidade e verdadeiramente sem preconceito. Por isso a necessidade de um nicho temático.

 CL: Com a importância de abordar a questão LBGT com o público infanto-juvenil?

Liliane Prata: “As experiências que todos nós experimentamos e vemos ao nosso redor são múltiplas: essa diversidade envolve a nossa existência e é parte importante dela. Se criamos nossos filhos reduzindo o o mundo lá fora, é como se estivéssemos, na minha opinião, limitando o olhar deles. Não é que toda experiência deve ser vivida: mas penso que é um dos papéis do pais apresentar aos filhos o mundo em sua plenitude, levando em conta a idade deles, é claro. Em outras palavras: existe? Então pode ser contado, levando em conta idade e vocabulário. Vivemos em uma cultura que permite, cada vez mais, a diversidade de orientações sexuais. Então, para mim, é natural que esse cenário de diversidade esteja presente nos livros, sejam voltados para gays, sejam voltados para héteros”.

Márcia Leite: “A literatura para as crianças e jovens também pode e deve trazer para a ficção, e sempre com naturalidade e sem didatismo, todos os temas que dizem respeito ao que é humano, inclusive a representação de todos os tipos de relações humanas e afetivas. Isso é fundamental para que se crie um terreno fértil de diálogo e de convivência entre os leitores em formação”.