100 dias de João Doria: os retrocessos e avanços da nova gestão

O prefeito da maior cidade da América Latina chega aos 100 dias de mandato com aprovação recorde

Ao completar 100 dias no comando da Prefeitura de São Paulo, o tucano João Doria conquistou aprovação recorde em comparação a todos seus antecessores.

Segundo levantamento da Datafolha publicado no último domingo (9), 43% dos moradores da cidade avaliam sua gestão como boa ou ótima neste primeiro trimestre, contra 31% nos primeiros três meses da gestão Fernando Haddad (PT) e 16% na gestão Gilberto Kassab (DEM).

A alta popularidade pode ser justificada pela aprovação do ritmo de trabalho do prefeito, já sintetizada no bordão “João Trabalhador”. Desde que iniciou seu mandato, Doria trabalha todos os dias da semana – inclusive aos domingos. Ele diz dormir de três a quatro horas por noite e faz questão de participar dos mutirões nas ruas da cidade. Em seu primeiro dia de trabalho como prefeito, se vestiu de gari e foi varrer a Praça 14 Bis, na região central.

João Doria vestido como gari

Promessas cumpridas

Em relação às promessas de campanha, Doria começou a gestão cumprindo um de seus mais polêmicos compromissos, o aumento dos limites de velocidade máxima nas marginais Pinheiros e Tietê. Os novos limites passaram a valer no aniversário da cidade, no dia 25 de janeiro, sob protesto de entidades que atuam na área de mobilidade ativa.

No dia 20 daquele mês, a Justiça chegou a acolher um pedido de liminar feito em uma ação movida pela Associação de Ciclistas Urbanos da Cidade de São Paulo (Ciclocidade), que argumentava que o aumento das velocidades traria risco ao trânsito, aos ciclistas e pedestres.

Após o aumento da velocidade, agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registraram um aumento significativo de ocorrências, com 117 acidentes com vítimas nas marginais. Esses dados abrangem o período de 24 de fevereiro a 26 de março. A média mensal de acidentes com vítimas nas marginais em 2016 foi de 64 ocorrências.

Outra promessa de campanha que Doria diz ter executado é relacionado à área de saúde, ao afirmar que zerou a fila de exames médicos que herdou da gestão passada. Para atingir essa marca, porém, a gestão teve de deixar em segundo plano os pacientes que procuraram unidades de saúde a partir de janeiro deste ano, provocando a criação de uma nova fila.

A fila deixada pela gestão Haddad tinha 485,3 mil pessoas. De acordo com a Secretaria da Saúde, 345 mil pessoas realizaram exames, sendo 20% disso nas unidades particulares conveniadas ao programa Corujão da Saúde, como o Oswaldo Cruz, Sírio Libanês e HCor.

Os 140 mil pacientes restantes que estavam na fila desde 2016 saíram da fila de espera sem passar pelo exame, ou porque não precisavam mais do atendimento ou porque estavam aguardando pelo procedimento havia mais de seis meses e, por isso, foram encaminhados novamente para outra avaliação médica.

Agora, das 360 mil pessoas que estão à espera de exames desde o início do ano, 94,7 mil delas ainda aguardam pelo agendamento para realizar o procedimento. Doria promete que esses pacientes serão atendidos em até 60 dias.

Embora o resultado da ação tenha sido comemorado, a divisão dos investimentos necessários para a efetivação do programa gerou questionamento. Ao todo, foram destinados 53% do orçamento do Corujão da Saúde – ou R$ 9 milhões – à rede privada, que fez apenas 20% dos exames. Os outros R$ 8 milhões foram destinados à rede pública, que realizou 273 mil atendimentos, quase 80%.

Balanço: 100 dias de gestão

Na manhã desta segunda (10), o prefeito apresentou um balanço dos primeiros três meses de gestão, em que destacou 60 programas e obras municipais. Ele também falou sobre os projetos que serão desenvolvidos até o final de 2018.

A cada programa que apresentava, Doria agradecia aos secretários de sua equipe e ao setor privado, que vem fazendo doações à administração municipal – uma das marcas dessa gestão tucana. Segundo o prefeito, o investimento privado em ações públicas já chegou ao valor de R$ 270 milhões.

Grande parte dos programas anunciados na apresentação foi financiado pela iniciativa privada, segundo o próprio prefeito. É o caso da ação Remédio Rápido, que fez uma parceria com empresas farmacêuticas para o fornecimento gratuito de medicamentos utilizado na rede municipal. Até o momento, foram R$ 128 milhões doados pelo setor privado.

A instalação de jardins verticais ao longo dos corredores da avenida 23 de maio também está sendo financiada pela iniciativa privada. Serão 10.950m² de plantas instaladas nas paredes da via. O projeto prevê que outros dois corredores da cidade sejam contemplados com o programa.

Além disso, ainda há espaços geridos pela administração municipal que poderão ser privatizados em breve, como o Autódromo de Interlagos, na zona sul, o Complexo do Anhembi, na zona norte e parques como o Ibirapuera.

No balanço, Doria ainda apresentou ações novas, a exemplo do Nossa Bandeira, que tem o objetivo de incentivar a instalação de conjuntos com três mastros e as bandeiras da cidade, do estado e do país em praças e áreas públicas da cidade. “Isso é para entenderem que a bandeira é brasileira e não vermelha”, disse o prefeito, se referindo ao PT.

Desde janeiro, o prefeito tem procurado se posicionar como forte oposição ao partido de Lula. Durante um mutirão em março, Doria “dedicou” ao ex-presidente o plantio de uma muda de pau-brasil. “Essa é talvez a árvore mais brasileira, por sua origem, sua característica e seu nome, dedicamos essa árvore para um homem que tem a coragem de dizer que vai voltar para ajudar o Brasil. Esse cara de pau se chama Luiz Inácio Lula da Silva.”

De modo geral, o balanço de João Doria não mencionou temas essenciais ao desenvolvimento da cidade. Faltou citar projetos relacionados à infraestrutura – construções de novos hospitais e escolas –, à mobilidade ativa, como novos corredores de ônibus e faixas exclusivas para ciclistas, e às políticas públicas voltadas para a promoção dos direitos das mulheres e contra o racismo.

Extinção de secretarias

Um abaixo-assinado que circula pela internet de autoria da vereadora Isa Penna (PSOL) pede que a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres da Cidade de São Paulo (SMPM) e a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial (SMPIR) voltem a existir.

Neste início de gestão, as pastas foram extintas e encorporaras numa secretaria só, que passou a ser chamada de Assistência Social e Cidadania.