Abaixo-assinado pede atualização da definição de “transexual” no dicionário

Ao abrir o dicionário Michaelis para pesquisar a palavra “transexual”, a paulistana Daniela Andrade, 35 anos, tomou um susto. “Diz-se da pessoa que sofre de transexualismo” é a definição usada pela publicação. “Eu não sofro nada. Não tenho sofrimento nem doença por ser transexual. Sou uma pessoa feliz e saudável. A única coisa que sofro é preconceito”, explica ela, que é transexual. Por isso, criou um abaixo-assinado na plataforma Change.org pedindo que a editora Melhoramentos, responsável pelo dicionário, atualize o verbete.

 

A ideia de Daniela surgiu depois dela ter assinado um outro abaixo-assinado, também criado na Change.org, sobre a mudança da definição da palavra “casamento”, feito pelo paulista Eduardo Santarelo. A demanda dele foi vitoriosa e “união legítima de homem e mulher” foi alterado para “ato solene de união entre duas pessoas”.

A criadora da petição pela mudança da palavra “transexual” é formada em Letras e pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura. “Um dos primeiros conteúdos que aprendemos na faculdade é que o idioma não pertence ao dicionário. Ele é somente o instantâneo de determinado momento sobre aquela língua. Não há verbete universal. A língua pertence aos falantes e o dicionário deve, de tempos em tempos, ser atualizado”, defende ela.

O principal obstáculo para o reconhecimento de que a transexualidade não é uma patologia é justamente a possibilidade disto se tornar um entrave para a cirurgia de transgenitalização no Sistema Único de Saúde (SUS). Para esta crítica, Daniela explica, em primeiro lugar, que há um entendimento equivocado sobre este procedimento cirúrgico. “Não há mudança de sexo. Há somente uma correção de genitália”, conta ela.

“Além disso, o SUS não deve permitir cirurgias somente em caso de doenças. O acesso à saúde não é somente para quando a pessoa está doente. A noção de saúde é muito mais ampla do que isso. Gravidez não é petologia e a cesariana é feita, inclusive, com uma frequência acima da recomendada.” conclui a criadora do abaixo-assinado.

Daniela diz que sempre se identificou com o gênero feminino, mas somente aos 18 anos descobriu o que era a transexualidade. Ela se reconhece como uma militante, mas também defende que toda transexual é uma ativista. “Somos todas ativistas, mesmo quando não sabemos ou não reconhecemos isto. Até ir a uma padaria para comprar um pão – onde muitos olham, comentam e até xingam – é um ato de ativismo. A partir do momento que eu me entendi, me sinto uma ativista”, conclui.

A editora Melhoramentos, que foi automaticamente notificada por meio do abaixo-assinado, respondeu dizendo: “conforme posicionamento da diretoria, recebemos uma média de 30 a 60 sugestões por ano via nosso SAC para modificações, inclusões e exclusões de verbetes e/ou definições em nossos dicionários. Todas elas são encaminhadas para a equipe de dicionaristas que as avalia e, se cabíveis, procede a modificação. Teremos, portanto, uma resposta em breve.” Para Daniela, esta resposta deve chegar o quanto antes, pois é uma forma de reduzir preconceitos. “Eu me prontifico a conversar diretamente com a direção da editoria para superarmos isto”, completa ela.

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