Bolsonaro é uma doença contagiosa, dizem quilombolas em resposta

O Quilombo Kalunga, Comunidade Engenho II, em Cavalcante (GO)
O Quilombo Kalunga, Comunidade Engenho II, em Cavalcante (GO)

Jair Bolsonaro coleciona frases polêmicas sobre diversos grupos sociais. O alvo mais recente foram indígenas e quilombolas.

O político deu esta declaração durante uma palestra no Rio de Janeiro:  “eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles.”

Ele também falou que acabará com todas as reservas desses grupos caso seja eleito presidente.

Além deste desenho do cartunista Ribs, a fala foi rebatida por entidades quilombolas de todo o país.

Viva cada quilombo e cada aldeia indígena.

Posted by Ribs on Wednesday, April 5, 2017

“Não é possível aceitar que as pessoas ouçam um ataque dessa natureza e ainda o aplaudam. Bolsonaro é uma doença contagiosa e tem que ser retirado imediatamente do meio da sociedade”, disse Givânia Silva, quilombola, membro da Coordenação Nacional de Articulação das comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

“Quem faz apologia ao estupro, à violência com declarações criminosas e estimula o genocídio, o etnocidio e elogia aqueles que torturaram e mataram durante a ditadura militar, só pode receber do povo brasileiro e do mundo, o desprezo e o pedido para que a justiça o puna conforme a Lei 7.716 de 5 de janeiro de 1989 que prevê ato de  racismo como crime inafiançável e imprescritível”, afirma Givânia em texto divulgado pela CONAQ.

A CONAQ vai protocolar representação na Procuradoria-Geral da República para que Bolsonaro responda criminalmente no STF sobre as declarações.

A Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Estado do Rio de Janeiro (ACQUILERJ) também repudiou a declaração do político, além de pedir que o Ministério Público Federal tome providências a respeito.

A entidade afirma que “o uso racista de termos conhecidamente atribuídos a animais como ‘arrobas’, ‘reprodutor’ para se referir a pessoas negras de Comunidades Remanescentes de Quilombos – remontando a palavras do mercado negreiro, escravocrata e de capitães do mato” são ofensas passíveis de punição legal.

“Temos orgulho de nossos ancestrais e nos pronunciamos como comunidades e conclamamos a todas e todos que não querem ver sua herança étnica envergonhada, e sua vida e conduta assimilada ao que significou o pronunciamento daquele Deputado, que gritem e declarem sua indignação”, diz nota da ACQUILERJ.

Para Lucimara Muniz, secretária do Instituto de Desenvolvimento Afro Norte Nordeste Fluminense (Idannf), a demarcação de terras é apenas uma formalização.

“Esse território já existe, porque é baseado na história de uma herança cultural de um povo. Essa terra [quilombola] é a terra em que vigora a herança cultural de um povo que sempre lutou pelo seu espaço. São espaços para os quais negros [escravizados] fugiam e ali se fazia um território ao longo da história”.

“É fundamental que essas comunidades quilombolas e indígenas tenham as suas terras conservadas, porque são um legado histórico”, continuou.

E se Bolsonaro acredita que poderá acabar com as reservas, é melhor repensar: os movimentos prometem lutar.

“Não vamos nos calar contra os que nos querem destruir ou excluir do solo e do território que tanto amamos e onde trabalhamos”, finaliza a nota da ACQUILERJ.

Lucimara tem o mesmo discurso:

“Iremos lutar até cansar porque somos guerreiros, descendentes de Zumbi, filhos de Dandara, e vamos sempre lutar pelo nosso território, pela preservação dele. A gente nunca vai abrir mão de levantar a bandeira dos nossos ancestrais”.

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