Com que roupa eu vou ser estuprada?

Vereadora mostra a calcinha para rebater discurso de que mulher “vagabunda” tem que levar “surra” – e de que a roupa é a culpada nos casos de assédio

Uma mulher deve ser julgada pela roupa que veste? Para a Vereadora de Aracaju Lucimara Passos (PCdoB), a resposta é não. E, para enfatizar isso, ela mostrou sua calcinha no meio da sessão da Câmara da última terça-feira, dia 25.

Foi com a calcinha em mãos que a vereadora Lucimara Passos questionou se uma mulher deve ser julgada pela roupa que veste.
Foi com a calcinha em mãos que a vereadora Lucimara Passos questionou se uma mulher deve ser julgada pela roupa que veste.

“Começa hoje a grande mobilização pelo mundo inteiro e no Brasil. Movimentos sociais engajados nessas lutas estarão com atividades até o dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos. E essa luta é pela igualdade de gênero, pelo respeito à condição da mulher, pela igualdade de oportunidades e pela libertação da opressão do homem”, disse, enquanto tirava a peça íntima do bolso.

“A mulher não deve ser julgada pela vestimenta e muito menos por uma calcinha que veste, ou não”, completou. “Hoje, eu afronto e quero saber se, ao mostrar essa calcinha, os senhores vão me julgar e me condenar a ser surrada”.

“Deveria dar uma surra”

O discurso de Lucimara foi uma resposta a um pronunciamento do também vereador de Aracaju Agamenon Sobral (PP), que teria usado a tribuna para incitar a violência contra mulheres que se vestem como “vagabunda”.

Na fala, o vereador se posiciona sobre a notícia de que um padre havia se negado a casar uma mulher que estava sem calcinha na igreja. “Concordo plenamente com o padre, ele deveria dar uma surra nela. Mandar dar uma surra e um banho de sal. Vagabunda! Como ela vai para a igreja sem calcinha e com um vestido transparente?”.

Com que roupa eu vou?

O argumento de que a roupa usada pela mulher é pretexto para ataques e assédios é usado com frequência. Foi para averiguar isso que foi criado o site “But What Was She Wearing” (“Mas o que ela estava vestindo”, em tradução livre).

O tumblr funciona de forma colaborativa. As mulheres que já sofreram algum tipo de assédio podem enviar uma foto com a roupa que elas estavam usando na ocasião. O resultado pode surpreender algumas pessoas.