Drag queen em escola choca Jair Bolsonaro e outros moralistas

Jair Bolsonaro e outros moralistas usaram todo o seu preconceito contra um vídeo feito em colégio de Minas Gerais

Cena do programa “Na hora do lanche” e o deputado Jair Bolsonaro
Cena do programa “Na hora do lanche” e o deputado Jair Bolsonaro

Um vídeo muito fofo e engraçado foi publicado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), no último dia 11, véspera do Dia das Crianças.

Em uma escola vinculada à UFJF, uma visitante especial brinca com as crianças e faz muito sucesso entre os pequenos estudantes. As conversas giram em torno de brinquedos, o lanche que levaram para a escola e até um pouco sobre preconceito e gênero. Foi o suficiente para deixar Jair Bolsonaro e outros moralistas chocados, tudo porque a visitante era uma drag queen.

Este é o vídeo:

"Na Hora do Lanche" – Dia das Crianças

A garotada vai à loucura com o "Na Hora do Lanche – Dia das Crianças" no Colégio João XXIII. Foi K.O. com Femmenino! :D

Posted by UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora on Wednesday, October 11, 2017

Quem foi até o Colégio João XXIII foi o apresentador Nino de Barros, bolsista da universidade. Ele está à frente do programa “Na hora do lanche” desde maio e, na ocasião, foi a segunda vez que fez a atração montado de drag queen, como contou ao site O Globo, que noticiou o caso nesta quinta-feira, 19.

Dias depois do vídeo começar a viralizar, haters se manifestaram em comentários no Facebook e no Youtube:

Comentário contra vídeo que mostra drag queen em escola mineira
Comentário contra vídeo que mostra drag queen em escola mineira

Comentário contra vídeo que mostra drag queen em escola mineira
Comentário contra vídeo que mostra drag queen em escola mineira

Comentário contra vídeo que mostra drag queen em escola mineira
Comentário contra vídeo que mostra drag queen em escola mineira

Falando em Bolsonaro, ele foi uma das pessoas que fez questão de se pronunciar após a publicação do vídeo, mostrando estar chocado com o que chamou de “canalhice”. No post do deputado, há um trecho editado do vídeo e fora de contexto:

– Em 2010 levantei-me contra isso.- Qual a sua opinião?

Posted by Jair Messias Bolsonaro on Saturday, October 14, 2017

A página “Escola Sem Partido”, ao contrário do nome, tomou partido ao compartilhar uma notícia sobre o vídeo. “O desrespeito às famílias é a rotina das escolas em nosso país”, escreveram.

Segundo O Globo, deputados da cidade mineira entraram com pedidos de moções de repúdio contra o programa na Câmara Municipal. Eles não foram atendidos após moradores protestarem, diz o jornal.

A mesma reportagem afirma que o conselheiro tutelar do município, Abraão Fernandes Nogueira, enviou ofício para o Ministério Público Federal no qual afirma que “a drag deixa transparecer a questão da ideologia de gênero, ao dizer que não existe questão de brinquedo de menino e de menina. E ao dizer ‘Toma família brasileira’ se torna um desrespeito, porque todas aquelas crianças são parte de uma família”.

Ironicamente, Nogueira já foi indiciado por racismo, diz o texto.

Apoio e resposta

O artista Nino de Barros gravou um vídeo no qual mostra alguns dos comentários preconceituosos e ataques que vem recebendo nas redes sociais.

Na publicação, ele explica, de forma didática, o que foi o programa e o quis dizer com frases como “Toma, família brasileira”:

“Queremos acabar com a família? Sim, mas apenas com um tipo de família, é um formato muito específico de família patriarcal que mantem homens e mulheres presos em padrões do passado”.

“Nós queremos mostrar para as crianças que elas podem ser do jeito que elas quiserem, sem necessidade de continuar replicando as performances de gênero tão quadradas e sufocantes”, continua.

Você pode assistir ao vídeo abaixo:

RESPONDENDO COMENTÁRIOS HOMOFÓBICOS // VLOG FEMMENINO

Parei para gravar esse vídeo e ler alguns dos comentários de ódio que recebi durante esses dias. Queremos acabar com a família? Sim, mas apenas com um tipo de família, é um formato muito específico de família patriarcal, misógina e homofóbica que mantem homens e mulheres presos em padrões do passado.O que foi dito no vídeo do Na Hora do Lanche não é que não existem meninos e meninas, mas que não existe a separação entre brinquedos de meninos e brinquedos de meninas. O que isso quer dizer e por que isso é um ataque a família tradicional brasileira? Vamos dar um contexto histórico aqui pra vocês:Na infância da nossa geração e das anteriores, meninas brincavam de panelinha, boneca, vassourinha e cresceram para serem donas de casa e cuidarem dos filhos, continuam brincando de panelinha e boneca, mas na vida real. Meninos brincam de carrinho, de super herói, armas, esportes, e crescem para serem profissionais, homens corajosos do mundo, e na maior parte das vezes pais ausentes que não lavam um prato dentro de casa. O que a gente quer quando diz que não existem brinquedos de meninas e brinquedos de meninos? A gente quer que meninos brinquem de boneca e cresçam para ser pais carinhosos, queremos que eles brinquem de vassourinha e dividam as tarefas da casa com suas mulheres. A gente quer que as meninas brinquem de carrinho, gritem, corram e tenham liberdade corporal para crescerem mulheres fortes e donas de si, que não continuem reproduzindo o papel da mulher indefesa que precisa de um macho alfa para protegê-la e sustentá-la. Nós queremos mostrar para as crianças que elas podem ser do jeito que elas quiserem, sem necessidade de continuar replicando as performances de gênero tão quadradas e sufocantes. Difícil responder esse tanto de ódio, mas a gente não pode recuar nesse momento!

Posted by Femmenino on Saturday, October 14, 2017

Além do apoio de diversos internautas, a gravação na escola também foi defendida pela Universidade Federal de Juiz de Fora:

A Ordem dos Advogados do Brasil também não se calou. Em uma carta de apoio publicada no último dia 16, a entidade diz:

“Fomentar reflexão sobre gênero nas escolas é contribuir para a desconstrução da cultura do machismo, que produz das mais diversas violências contra as mulheres, desde a mais tenra idade; para o combate à LGBTfobia, que mata diariamente seres humanos no Brasil; é contribuir para o reconhecimento da diversidade e respeito aos direitos humanos.

(…)

A Universidade Federal de Juiz de Fora e o Colégio de Aplicação João XXIII fizeram uma escolha pouco comum nesse último dia das crianças: ao invés de reforçar estereótipos que causam sofrimento, optaram por comemorar essa data apostando em respeito, liberdade e cidadania. Que sejam tomadas as devidas providências: que escolhas como essa se multipliquem.”

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