“É Nois na Fita” leva curso de cinema para jovens em Heliópolis

Samba Silêncio” retrata a história de um jovem da periferia, que resgata a memória do pai ao transmitir sambas antigos numa rádio comunitária. Dirigido por Bianca Marinho, de apenas 19 anos, o curta-metragem é resultado do projeto É NÓIS NA FITA, que leva o cinema às regiões desfavorecidas do Brasil. O filme foi selecionado para o “In Short Film Festival”, que acontece em Londres, e destaca a importância da sétima na arte na visão de quem vive o mundo real.

E até o dia 23 de março, o curso gratuito É NÓIS NA FITA está com as inscrições abertas para as aulas que acontecerão em Heliópolis. Sábados e domingos, das 9h às 18h.

Cena do filme “Cena Silêncio”, produzido por 14 jovens da periferia

A carga horária do curso é dividida entre teoria e prática, mas o ápice do processo, segundo os próprios alunos, são os dias de gravação do curta.

Confira o bate-papo que trocamos com a idealizadora do curso, a atriz, diretora e coordenadora pedagógica, Eliana Fonseca. 

1) Qual a importância do cinema levado à periferia ?

De primeira mão fiz este projeto para os recônditos lugares do Brasil, dada a importância do cinema como arte de expressão e de autoconhecimento. Não foi possível ainda. Então adequei o projeto para a periferia de São Paulo. Já sabia que os jovens de 15 a 20 anos têm muito a falar e a propor. E mesmo assim me surpreendi com a informação sobre cinema e acesso ao filmes que a internet trouxe a todos que se interessam.

Assim os 25 jovens selecionados por curso trazem um potencial de realização incrível! Eles adoram o curso por ele ter a medida certa entre teoria e prática. É um curso muito intenso e os alunos são imensamente atuantes e participativos. O resultado dos 20 curtas que temos nesses 2 anos é esplêndido. A importância está aí. Dar os instrumentos certos para quem merece. Dar a semente do cinema, do roteiro à finalização a quem tem “argumentos” na cabeça. A gente organiza um pouco o saber do cinema e os jovens deitam e rolam e principalmente se realizam na história e na tela.”

2) O que o cinema, como ferramenta de registro social e também transformação, pode oferecer às regiões mais vulneráveis da cidade?

Ao final do curso os alunos têm que fazer uma avaliação do curso, de maneira livre, sem se identificar. Daí que descobrimos a vulnerabilidade confessa espontaneamente nos depoimentos escritos. Vulnerabilidade social, individual, psicológica, emocional. Ora os jovens de 15 a 20 anos são vulneráveis a tudo! É incrível como um curso de mais de 2 meses causa impacto na vida de todos (inclusive na minha).

Ter um assunto a pesquisar, se aprofundar, criar, discutir roteiro, arte, fotografia, som, direção etc já por si é um grande instrumento de reflexão e de sintonia com a arte e com a vida. Tudo isso se apura nesse intensivão e os jovens se transformam sim. Eles se realizam com o conteúdo e com a estética do cinema. E não é para menos. É uma arte agregadora e coletiva. É tudo que a gente precisa para sair da vulnerabilidade.