Frase de Faustão sobre favelas é usada para comentários de ódio

Ao chamar favelas e comunidades de "porcaria", Faustão reforçou estereótipos e preconceito com pessoas que moram nesses locais

Fausto Silva e Ícaro Silva falam sobre favelas
Fausto Silva e Ícaro Silva falam sobre favelas

Ao comentar a situação das favelas no Brasil no último domingo, 23, o apresentador Fausto Silva foi infeliz em uma frase que reforça estereótipos e abriu espaço para comentários de ódio sobre o assunto.

Noticiado como “desabafo”, o momento foi durante o quadro “Arquivo Confidencial”. Ícaro Silva foi o homenageado e, entre os momentos de sua vida que foram exibidos, está a época em que, quando tinha 8 anos, o ator perdeu a casa durante um deslizamento de terra na favela em que morava em Diadema (SP).

No vídeo, disponível no site Gshow, são reproduzidas imagens do Fantástico que mostram Ícaro no local, em 1995, seguidas de um relato do pai. O ator falava sobre a pobreza no Brasil e que “a gente, às vezes, vê uma glamourização da favela”.

Infelizmente, ele não conseguiu concluir o raciocínio, já que foi interrompido por Faustão:

“Você tem razão! Aí começa a hipocrisia: ‘vamos chamar de comunidade’. Comunidade e favela são a mesma ‘mercadoria'”, começa.

Depois de falar que foi repórter e, por isso, “sabe como é a realidade”, vem a frase infeliz: “Aqui no Brasil é ‘vamos chamar de comunidade'”, ironiza. “Comunidade e favela é tudo a mesma porcaria”.

A declaração foi usada como exemplo para que, nas redes sociais, usuários reforçassem estereótipos, comentários de ódio e outros tipos de preconceito e ideias higienistas sobre quem mora nas favelas, como podemos conferir aqui:

Teve quem preferisse entender que Faustão falava do termo, e não do local. Mas usuários não só contestaram essa versão, como também questionaram o fato do apresentador dizer que “conhece a realidade”:

Alvo de diversas ações de remoção, as favelas formam o quinto “estado” mais populoso do país: são 11,7 milhões de pessoas, que movimentam R$ 63 bilhões ao ano (equivalente a países como Paraguai e Bolívia).

Os dados da pesquisa Radiografia das Favelas Brasileiras mostram também que 59% dos moradores concordam que “quem mora em comunidades da periferia é discriminado“. A cor de pele foi a motivação do preconceito para 32% dos entrevistados. Morar na favela foi o motivo para 30% e, para 20% deles, o preconceito foi motivado pela falta de poder aquisitivo. Dados que comprovam em números alguns dos comentários acima.

O uso de termos como “favela” e “comunidade” também tem relação com preconceito, como explicou neste texto André Fernandes, fundador da Agência de Notícias das Favelas:

“Tenho observado há muito tempo que a elite e a grande mídia tenta chamar as favelas de comunidades e isso me traz uma grande indignação, pois do meu ponto de vista, isso nada mais é que uma tentativa de descaracterizar a favela e amenizar a situação de pobreza extrema que vive nossa cidade”, explicou ele, com mais detalhamento do que fez Faustão.

Ele complementa: “Lembro sempre, para os que estão chamando as favelas de comunidades, que os condomínios de luxo, [onde] essas pessoas que estão tentando descaracterizar essa nomenclatura moram, são comunidades. Sim! Os condomínios de luxo ou prédios na Barra, Leblon e Ipanema, constituem comunidades, porém não são favelas. Favela é favela e comunidade é comunidade!”.

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