Grandes frigoríficos usavam carne podre, descobre operação da PF

Operação Carne Fraca visa desarticular organização que pagava propina para produzir carne podre e atinge frigoríficos como Seara, JBS e BRF

Por: Jonas Carvalho
Carro da Polícia Federal durante operação

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (17) a Operação Carne Fraca contra empresários de diversos frigoríficos do país, além de fiscais federais.

Segundo a PF, foi detectado que órgãos estaduais do Ministério da Pesca e Agricultura no Paraná, Minas Gerais e Goías atuavam para proteger empresas.

Os agentes públicos recebiam propinas para facilitar a produção de alimentos adulterados e sem qualquer fiscalização sanitária. Ainda de acordo com a PF, a prática permitia a operação das empresas “em total desrespeito à legislação vigente”.

De acordo com a Folha de S. Paulo, alguns dos principais frigoríficos do país, como JBS, BRF e Seara, estão na mira da operação.

O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, no cargo há 10 dias, é citado na investigação. Segundo o jornal, uma ligação foi interceptada entre o ministro e Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná.

Entretanto, a PF não vê indícios de que a conduta de Serraglio foi ilegal, diz a Folha.

São 1100 policiais federais cumprindo 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em 6 estados mais o Distrito Federal: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.

Esta é a maior operação já realizada pela Polícia Federal em toda a sua história, segundo o órgão.

“O nome faz alusão à conhecida expressão popular em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício. A expressão popular demonstra uma fragilidade moral de agentes públicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade dos alimentos fornecidos a sociedade”, diz a Polícia Federal em comunicado.

A PF realiza neste momento uma coletiva de imprensa na qual dá mais informações sobre a operação. Confira:

A JBS emitiu o seguinte comunicado:

Em relação a operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação.

A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa (PR) houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura.

A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas.

A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos.

A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.

São Paulo, 17 de março de 2017.

Já o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) enviou esta nota:

O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) apoia a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, nesta sexta-feira, 17, e reforça que a denúncia partiu do próprio Sindicato.

O Anffa Sindical entende que a operação está alinhada aos objetivos de auditores fiscais federais agropecuários no sentido de aprimorar a inspeção de produtos de origem animal no Brasil. A entidade acrescenta que as denúncias constam de processo administrativo que tramita no Mapa desde 2010.

O Anffa Sindical afirma ainda que vai continuar trabalhando para que cargos de chefia sejam ocupados por servidores públicos selecionados por meio de processos meritocráticos. Ou seja, por competência técnica, contribuindo para o fim de influências políticas.