Luis Lobianco é criticado por falta de representatividade em peça

Ator explicou seus motivos em um longo desabafo

Luis Lobianco em ação na peça ‘Gisberta’
Créditos: Elisa Mendes
Luis Lobianco em ação na peça ‘Gisberta’

Encenando a peça “Gisberta“, em Belo Horizonte (MG), o ator Luis Lobianco, do Porta dos Fundos, falou publicamente nas redes sociais sobre as críticas que anda sofrendo da comunidade transexual da cidade.

A peça foi alvo de protestos por parte da comunidade trans uma vez que o monólogo deveria ser encenado por uma atriz transexual, e não por um “trans fake”, segundo seus críticos.

“Fui contactado por uma representante do grupo Transvest, de BH, com o intuito de dialogar representatividade e empregabilidade. Por que uma peça que fala sobre a marginalidade que a sociedade impõe às pessoas trans não tem nenhum T em sua equipe? Acho a provocação muito pertinente e um ponto de partida para discutirmos a profissionalização dessas pessoas”, relata.

Ele prossegue dizendo que nenhum artistas – trans ou cis – estava realizando um trabalho de pesquisa teatral para contar a história da trans, assassinada por 14 jovens menores de idade em Portugal e jogada no fundo de um poço.

Por conta disso, Lobianco idealizou o projeto e desabafou também sobre o caminho árduo.

“Crivella na prefeitura num embate declarado contra as artes e nossa classe desesperada com seus projetos na mão à caça dos editais”, afirma.

Ainda assim, Lobianco diz que seguiu com os diálogos com a comunidade trans mesmo quando passou a ser chamado de fake.

“Vieram outros questionamentos por parte do grupo: eu CIS interpretando “transfake”, gays falando de trans, Gisberta ser interpretada. Ainda aqui, mesmo eu não concordando com muitos dos seus pontos de vista, cabe o diálogo. E o teatro não seria a arte do “fake”?, questiona.

Luis ainda alega ter ficado chateado com algumas pessoas que compararam sua arte com a “blackface”, prática em que atores brancos pintam o rosto de preto para interpretar negros.

“O que não cabe mesmo é a comparação com o “blackface” por respeito a outros movimentos e à simbologia desta prática. Para todas as outras questões vamos precisar de muito tempo pra entender. O teatro é milenar e esse questionamento só chegou na classe teatral recentemente. Não é uma matemática. Não tem uma resposta só. Vamos ter que fazer muitas peças e conversar muito pra entender”, afirma.

Em outro ponto de seu desabafo, ele explica o motivo de estar na peça. “Como ator assumidamente gay e realizando trabalhos com LGBTs me senti apto a contar essa história. Por uma questão de escolhas dramatúrgicas, a pesquisa caminhou para que eu não interpretasse a Gisberta como personagem da peça. Para tratar de sua ausência criamos um mosaico de personagens fictícios e reais que observam o seu lugar de fala e nunca o assumem”, afirma.

Luis Lobianco também diz em seu texto que em todas as cidades pelas quais passou, a peça foi assistida sem problemas e o debate levado ao público.

“Estou exausto. Questionando se levo adiante futuros projetos com essa temática”, finalizou.

Leia o desabafo na Instagram:

https://www.facebook.com/luis.lobianco/posts/10210323300267078

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