Peça do Sesc que mostra Jesus trans é cancelada pela Justiça

Diretora reclama do "fundamentalismo e preconceito"

Posted by O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu on Wednesday, May 31, 2017

A peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, que estava em cartaz no Sesc Jundiaí, foi cancelada por decisão judicial na última sexta-feira, 15.

O juiz Luiz Antonio de Campos Junior atendeu ao pedido da advogada Virginia Bossonaro Rampin Paiva para cancelar a peça, na qual Jesus é retratado como uma mulher trans.

“O espetáculo é uma mistura de monólogo e contação de histórias em um ritual que traz Jesus ao tempo presente, na pele de uma mulher transgênero. Histórias bíblicas conhecidas são recontadas em uma perspectiva contemporânea, propondo uma reflexão sobre a opressão e intolerância sofridas por transgêneros e minorias em geral”, diz a sinopse do trabalho no site do Sesc.

“A peça provoca reflexão ao expor estes problemas sociais ao mesmo tempo em que emite uma mensagem de amor, perdão e aceitação. A questão da identidade travesti é elemento chave do espetáculo, que busca a transformação do olhar diante de identidades marcadas pelo estigma e pela marginalização”, finaliza o texto.

A diretora do espetáculo, Natalia Mallo, traz mais detalhes:

“O espetáculo, escrito por Jo Clifford, busca resgatar a essência do que seria a mensagem de Jesus: afirmação da vida, tolerância, perdão, amor ao próximo. Para tanto, Jesus encarna em uma travesti, na identidade mais estigmatizada e marginalizada da nossa sociedade. A mensagem é de amor”.

Mas não foi esse o entendimento da justiça. “As circunstâncias jurídicas alegadas (…) corroboram o fato de ser a peça em epigrafe atentatória à dignidade da fé cristã, na qual Jesus Cristo não é uma imagem e muito menos um objeto de adoração apenas, mas sim o filho de Deus”, escreveu o juiz na decisão, segundo o Estadão.

Natalia Mallo fez um relato em seu Facebook no qual traz mais um trecho da decisão, que mostra, segundo ela, o “fundamentalismo e preconceito”:

“Muito embora o Brasil seja um Estado Laico, não é menos verdadeiro o fato de se obstar que figuras religiosas e até mesmo sagradas sejam expostas ao ridículo, além de ser uma peça de indiscutível mau gosto e desrespeitosa ao extremo, inclusive. De fato, não se olvide da crença religiosa em nosso Estado, que tem JESUS CRISTO como o filho de DEUS, e em se permitindo uma peça em que este HOMEM SAGRADO seja encenado como um travesti, a toda evidência, caracteriza-se ofensa a um sem número de pessoas”.

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Charge de Rafael Rodrigues para @rainhajesus

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“Todas as situações de violência que passamos tiveram algo em comum: contestam a presença de uma travesti em cena interpretando Jesus”, continua a diretora em seu relato na rede social.

“Afirmar que a travestilidade da atriz representa em si uma afronta à fé cristã ou concluir, antes de assistir o trabalho, que é um insulto à imagem de Jesus é, do nosso ponto de vista, negar a diversidade da experiência humana, criando categorias onde algumas experiências são válidas e outras não, algumas vidas tem valor e outras não. São os discursos e práticas que tornam o Brasil um país extremamente desigual, e um território inóspito para quem vive fora da normatividade branca, cisgênera e heterossexual”, continua.

Em seu site oficial, o Sesc afirmou que vai recorrer da decisão.

Leia  relato completo da diretora:

(por Natalia Mallo, tradutora e diretora do espetáculo)Desde a nossa estréia, há um ano, passamos por diversas…

Posted by O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu on Friday, September 15, 2017

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