Por que este clipe de Mallu Magalhães é racista para muita gente

Novo clipe da cantora está sendo acusado de hipersexualizar o corpo negro e colocar as pessoas negras em posição subalterna a ela

Mallu Magalhães e seu clipe “Você não presta”
Mallu Magalhães e seu clipe “Você não presta”

A cantora Mallu Magalhães lançou um clipe da canção “Você não presta” na última sexta-feira, 19, e há racismo na produção, de acordo com seguidores nas redes sociais.

No vídeo, bailarinos negros, sem camisa ou com poucas roupas, dançam usando movimentos que remetem ao samba, hip hop e danças africanas enquanto Mallu, a única branca e única com mais roupas que os demais, desfila e canta entre eles.

Muita gente apontou para a hipersexualização do corpo negro, o uso dos bailarinos apenas como adereços que enfeitam o clipe (que servem apenas para destacar a única pessoa branca dele) e para como a indústria se apropria de figuras como o negro, historicamente marginalizado, para às custas dele se promover e promover os seus principais produtos.

“Infelizmente, esse clipe reproduz pensamentos racistas que estão presentes na nossa sociedade desde a época da colonização”, afirma o canal Barraco da Rosa em uma resposta ao clipe publicada no Youtube:

Outras publicações chama a atenção para detalhes que, a princípio, podem parecer sutis, mas que também evidenciam o racismo velado da produção.

“No clipe, Mallu aparece ‘acompanhada’ (mas sempre à frente) de um grupo de dançarinos negros besuntados em óleo (assim como os africanos escravizados, que eram besuntados em banha para parecerem mais saudáveis e atraentes antes de serem vendidos nos mercados de escravos), se mostrando ‘amiga’ ou ‘igual’ de pessoas com as quais aparentemente ela nunca se importou e em relação às quais ela tem um enorme privilégio”, escreveu no Facebook uma usuária:

“Entre tantas, duas referências me chocaram mais: a cena dos negros atrás de grades e dos negros dançando em construções não acabadas. Exemplos do que o racismo estrutural faz. Essa é a imagem que o nosso corpo está acostumada a representar. Algo que não evolui, mas só reforça o massacre que a negritude sofre socialmente todos os dias”, afirmou outro.

No Twitter, muita gente também se manifestou a respeito:

https://twitter.com/vitouriah/status/866679858604146688

https://twitter.com/deboravaz/status/866098915120209920

Nas próprias publicações da cantora, houve críticas ao racismo velado transmitido na obra.

“Distante vive a sinhazinha”, comentou um seguidor em uma publicação no Facebook de Mallu. “Mocinha , você é racista e não te convido pra minha festa! Tira essa porcaria do ar , faz outro e coloca seus amigos caucasianos pra dançar betumado de óleo”, disse outro.

“Cansei de negro exótico, de negro em situação de rua e de negro em favelas em fotografias, quadros, filmes e exposições “transgressoras” de brancos. Cansei da visão branca que negros estão por ai com corpo brilhando de óleo sem camisa”, escreveu a colunista Stephanie Ribeiro em um post da cantora.

No Instagram, também criticaram a produção. “Mallu você é maravilhosa, mas esse clip transmite uma mensagem racista. Acredito que o diretor não conseguiu capitar a mensagem que você gostaria de passar”, afirmou uma seguidora. “Amei a tentativa de fazer linha desconstruída e falhar como de costume, quem sabe da próxima vez…”, disse outra.

Teve quem também chamou a atenção para o fato de pessoas brancas terem a pretensão de abordar o tema e querer dizer o que é ou não racismo, mesmo sem nunca ter a chance de passar por alguma experiência parecida.

https://twitter.com/inmytrunk__/status/866570523865698304

Mallu Magalhães ainda não se pronunciou sobre o caso.

O clipe é este:

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