Projeto leva relatos de mulheres assediadas às ruas de Salvador

A estudante Larissa Novais instalou um totem no espaço público da cidade para dar voz às vítimas de abuso

Por: Heloisa Aun

O abuso sexual é algo que amedronta as mulheres ao andarem pelas ruas, principalmente em horários com pouco movimento. E os dados evidenciam essa realidade: 86% das brasileiras já foram assediadas em espaços públicos de suas cidades, de acordo com uma pesquisa divulgada pela organização ActionAid.

Para dar voz às vítimas, a estudante de produção cultural da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Larissa Novais, 22, lançou no início deste ano o projeto “Tô Na Rua, Mas Não Sou Sua“, que leva a Salvador relatos impactantes de assédio. Um totem com dois fones de ouvido foi colocado em uma praça para reproduzir os depoimentos aos pedestres.

Os depoimentos das mulheres foram colocados em uma praça na cidade

O objetivo da ação é discutir o assédio sofrido e potencializar o alcance das vozes femininas por meio da ocupação do espaço público. “O projeto pretende gerar uma reflexão sobre o tema, causando a percepção de que cantada de rua não é elogio, não é algo normal e aceitável”, afirma a jovem ao Catraca Livre.

As histórias, contadas em anonimato, também estão disponíveis neste link e revelam traços em comum. “Um carro parou e foi na velocidade da minha caminhada. O homem que estava dentro dizia: ‘gostosa, entra no meu carro, senta no meu colo’. Eu tremia de medo, o caminho era todo escuro”, conta uma das participantes.

Projeto

Como trabalho de conclusão de curso da faculdade, Larissa decidiu unir sua inquietação sobre o assédio a uma iniciativa de impacto social. No início, ela coletou em um formulário na internet vários depoimentos e notou que uma palavra se repetia: medo. “A partir dos relatos, percebi que seria muito importante levá-los para as ruas, já que elas queriam ser ouvidas, queriam falar que isso não é aceitável”, afirma.

Em seguida, a estudante selecionou 10 diferentes histórias e convidou as participantes para a gravação no estúdio da universidade. Então, instalou o totem na cidade para chamar a atenção de homens e mulheres que transitam pela região.

Segundo a jovem, a repercussão do projeto tem sido expressiva. “Muitos homens ficaram chocados, mas não falaram nada. Outros afirmaram que nunca tinham pensado nisso e queriam entender até que ponto um olhar agride, qual a diferença entre cantada e assédio, etc. Ainda teve poucos que discordaram da ação, ressaltando que ‘não se passa de um elogio'”, finaliza Larissa.

Cantada NÃO é elogio. Não vamos nos calar!