Projeto mostra o que as mulheres negras estão cansadas de ouvir

Por: Heloisa Aun
  • “Cansei de olharem para a minha raça, para o meu gênero, para a minha idade, e suporem que não sou capaz” – Nataly Neri
  • “Cansei de ser julgada pela minha aparência” – Luciana Carvalho
  • “Cansei de ser objetificada” – Adriana

As frases acima fazem parte do “Projeto Cansei“, criado pela nutricionista Larissa Isis, 30 anos, de São José dos Campos (SP). O ensaio traz fotos de mulheres negras segurando uma lousa, na qual descrevem o elas que estão cansadas de ouvir ou vivenciar.

A iniciativa conta com depoimentos que retratam as situações que as participantes não aguentam mais viver. Em entrevista ao Catraca Livre, Larissa contou que a ideia foi inspirada no projeto “I’m Tired”, de dois fotógrafos norte-americanos, e também na ação “Ah branco, dá um tempo”, de Lorena Monique.

O projeto questiona as frases que as mulheres negras ouvem ainda hoje

De acordo com a nutricionista, o processo para registrar as imagens e depoimentos ocorreu em diferentes lugares.

“Eventos, encontros e metrô. Participaram conhecidas, amigas, pessoas que me tornei amiga depois disso e outras que abordei ao passar. Para todas elas, o projeto era explicado seguido da pergunta: qual é o seu cansaço? As respostas eram imediatas”, afirma.

Veja abaixo alguns depoimentos do projeto:

  • Nataly Neri: “Cansei de duvidarem da minha inteligência”

“Cansei de olharem para a minha raça, para o meu gênero, para a minha idade, e suporem que não sou capaz. Cansei dos olhares de surpresa quando provo o contrário; cansei de ser desvalorizada intelectualmente; cansei de acharem que eu não tenho nada para falar, e quando tenho, não sei o que falo; cansei de acharem que meu lugar é o da pobreza eterna ancorado à não escolaridade; cansei de quem me elogia por eu estar na universidade mas arregala os olhos quando compreende que eu me dedico muito à ela e sou de fato uma mulher negra inteligente.”

Nataly Neri
  • Larissa Isis disse: “Cansei de me chamarem de morena, sou negra!”

“As pessoas tem um certo receio em usar a palavra NEGRA quando vão se referir ao meu tom de pele, como se me ofendessem falando assim. EU SOU NEGRA! Acredite em mim, você me chateia mais ao me chamar de morena.”

Larissa Isis, criadora do projeto
  • Gisele Fernanda disse: “Cansei de acreditar que não posso por ser negra. Posso tudo”

“Desde pequena venho refletindo sobre isso. Meus pais sempre me alertaram de coisas que eu haveria de enfrentar na vida e das poucas chances que tínhamos devido a minha cor. Uma vez, esperando minha filha prestar Vestibulinho, conversava com com uma moça e ao mencionar que minhas duas filhas fazem ballet há alguns anos o que escutei é que era pra eu não seguir em frente com este sonho das minhas filhas porque pessoas de cor não teria futuro neste ramo.”

Gisele Fernanda

Veja as outras fotos do projeto neste link.

  • Por algum tempo, Aline Valentim foi a única mulher negra do maracatu carioca e não encarava isso com naturalidade. Confira a história na íntegra aqui.