Veja comentários sobre raça e racismo rebatidos por especialistas

Para que alguns de nossos leitores parem de passar vergonha, convidamos especialistas para rebater alguns comentários sobre raça e racismo

“Olha! Uma pessoa branca passando vergonha!”
“Olha! Uma pessoa branca passando vergonha!”

As redes sociais são um terreno fértil para a troca de informações. Afinal, todo usuário pode consumir conteúdo, tirar dúvidas e, também, opinar. Acontece que há opiniões com mais embasamento do que outras e, por isso, mais valor .

Quando o tema é racismo, muitas pessoas brancas não conseguem ter inteligência ou humildade suficientes para entender que o embasamento delas sobre o assunto é teórico e, não raro, superficial, enviesado e racista.

Vemos com frequência brancos passando vergonha na internet. São os crentes no “racismo reverso” e na “democracia racial”. São os críticos ferrenhos às cotas. São aqueles que afirmam que há mais atletas negros de sucesso do que brancos para sustentar que não existe desigualdade entre raças, ou os que dizem que só existe uma raça, a “humana”.

E como as redes sociais deram voz aos imbecis, como afirmou o filósofo italiano Umberto Eco, era de se esperar que eles aparecessem nos comentários de publicações do Catraca Livre com“achismos”, teorias da conspiração e “textões” escritos não por quem quer aprender, mas apenas para a defesa de um ponto de vista descolado da realidade.

Para combater essa mediocridade, nada melhor do que o conhecimento. Por isso pedimos a ajuda de especialistas que trazem dados, fatos e argumentos que mostram o quanto alguns leitores passam vergonha comentando sobre aquilo que desconhecem.

Amarilis Costa é advogada, ativista de direitos humanos e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). Eliane Oliveira é professora de sociologia e coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-brasileiro, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Integrantes do coletivo Preta e Acadêmica, elas rebateram declarações de leitores sobre questões raciais.

Confira:

A Notícia: 

Mallu Magalhães reclama de ‘preconceito com brancos’ e vira piada

Comentário 1:

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A resposta das especialistas:

“Não existe racismo de negros contra brancos porque racismo é entendido como uma sistema de opressão, ou seja, estamos falando em relações de poder, não há racismo de negros contra brancos porque o negro não possui poder estrutural para isso.

No caso das relações afetivas inter-raciais, o que se discute é a forma como os homens negros atuam dentro dessa construção social racista que elencou o branco como algo desejável, como o belo, como sinônimo de vitória.

Vivemos o resultado de uma política eugenista que introjetou no brasileiro a ideia de que, quanto mais afastado do preto e mais perto do ideal branco, maior o avanço e a melhoria social.

Dessa forma, quando algumas ativistas falam do homem negro e sua preferência por relacionamentos inter-raciais, estão apontando para essa reprodução da lógica racista que coloca a mulher negra em posição de ser rejeitada para relacionamentos sérios, pois o ideal introjetado e reproduzido por muitos homens negros é o da branquitude.”

Comentário 2:

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Resposta:

“Bullying e racismo são coisas diferentes. O bullying se confunde com racismo por ser uma prática violenta, ou seja, o bullying engloba, na sua concepção, a reação violenta de determinados indivíduos e grupos em relação ao diferente nos diferentes espaços, ele é alimentado pelo preconceito.

Muitos grupos sociais sofrem preconceito e discriminação, o racismo é a forma opressora e violenta que engloba preconceito e discriminação contra uma população específica: pessoas negras.

Quem é branco numa sociedade racista irá se beneficiar de alguns privilégios por ser branco, o que estamos dizendo é que ser negro no Brasil é saber que corre risco de vida simplesmente por conta da cor da sua pele, coisa que uma pessoa branca não sofre.

A propósito, ter um bisavô negro não te faz negro.”

Notícia:

7 empresárias negras brasileiras que você precisa conhecer agora

Comentário 1

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Resposta:

“Para nós, se identificar como pessoa negra é um ato político. Quando nos referimos a figuras negras de destaque em diferentes áreas é um demarcador social, apontando que apesar da sociedade racista ter nos colocado em não lugares, há aqueles que conseguem romper com essa lógica e se destacar.

É importante apontar a questão da necessidade das pessoas negras se verem representadas em diferentes espaços, pois historicamente os lugares que nos foram destinados são aqueles socialmente degradados ou indesejados pela maioria.”

Comentário 2

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Resposta

“Não há uma imposição de diferenças, a desigualdade existe e ela se dá, inclusive, pela cor da pele. Existem algumas mídias que exploram as questões raciais como forma de vender seus produtos com certeza, mas são contextos diferentes.

Quando a pessoa se nega a perceber a importância de tratar das questões raciais e as consequências do racismo para a população negra, propondo um silenciamento sobre tais temas, ela externa ignorância sobre os elementos sociais que estruturam nossa sociedade e reproduz um racismo cordial, pois engrossa um discurso de igualdade que serve apenas para manter a situação como sempre foi.

Discursos assim derivam do mito da democracia racial, uma falácia engendrada na sociedade brasileira com o intuito de naturalizar papéis sociais de privilégios e opressão.”

Notícia

Bolsonaro solta frase asquerosa sobre quilombolas em evento

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“As populações negras e indígenas são as que mais sofrem com a desigualdade, discriminação e violência. A cultura indígena, os povos originais desse país, está desaparecendo e muitos povos estão sendo dizimados na luta pela defesa de seus territórios no enfrentamento do interesse dos grandes latifundiários.

As comunidades quilombolas são detentoras de cultura e vivências singulares, motivo pelo qual possuem direitos territoriais garantidos por lei. Comunidades quilombolas são marcos históricos de resistência do sistema escravista.

O Estado tem por obrigação garantir a dignidade humana aos indivíduos. Tutelar garantias e direitos fundamentais de indígenas e quilombolas é preservar a história do país de modo profundo.

Esses povos e suas culturas detém conhecimentos e trajetórias que são a expressão máxima da construção desigual da sociedade brasileira e merecem ser respeitados.

Não se trata de oferecimento de privilégios ou benefícios, trata-se da construção de um sistema de tutela legislativa e jurídica extremamente pertinente.”

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Vítima de racismo no Mackenzie reage: ‘não irei abaixar a cabeça’

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“O mal das pessoas é pegar experiências individuais e universalizar como se aquilo que vivenciou fosse válido para todos os espaços e em diferentes contextos.

Não dizemos que não há juízes, médicos e ou delegados negros, a discussão é que ainda é baixíssimo o número de pessoas negras ocupando esses cargos.

O debate aqui é sobre racismo institucional que segrega os indivíduos e os classifica de acordo com sua cor de pele. A discussão não é de capacidade, mas sim de oportunidade que deve ser ofertada para que esses sujeitos que são vítimas da desigualdade social, possam mudar essa realidade através da educação.

Não observados a população negra inserida em ambientes acadêmicos em números expressivos, entretanto, historicamente os jovens negros sofrem um verdadeiro genocídio, chegando a casa de 70% de mortes no Brasil, então falar que o racismo é uma ‘construção moderna’, não é ignorância apenas, é falta de humanidade.”

Comentário 2

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“O entendimento de igualdade perpassa a ideia de que todos os indivíduos terão condições iguais de crescimento e desenvolvimento. Dessa forma, numa sociedade desigual, como a brasileira, cabe ao Estado propor ações que visem promover essa tão proclamada igualdade.

Falar que cotas instituem diferenças é partir da perspectiva que não temos desigualdades, que determinado grupo social não usufrui de privilégios restritos a sua cor e condição social. Ou seja, dizer que as cotas promovem o racismo é de uma desonestidade sem tamanho que só pode vir das cabeças de pessoas que não conseguem sair de sua zona de conforto e enxergar a realidade que está posta.

O princípio Constitucional da igualdade tem por finalidade impedir o tratamento abusivamente diferenciado entre pessoas que se encontram em situação idêntica e fomentar medidas de inserção social daqueles que encontram-se em situação diferenciada.

Neste sentido, as cotas são uma das medidas possíveis de promoção de um meio social igualitário, perfeitamente alinhadas com os princípios insculpidos na Carta Magna.”

  • Acreditamos que o racismo vai acabar quando houver mais informação para a sociedade. Confira todas as reportagens especiais produzidas para o Dia da Consciência Negra aqui