Como candidatos usaram Face para ser ‘gente como a gente’ na rede

As eleições municipais de 2016 contaram com novidades importantes na legislação e tecnologia, que fez os políticos se sacudirem para tentar angariar de outra forma os seus votos. E fizeram isso usando estratégias bem semelhantes à de youtubers, famosos de Instagram ou musos e musas de Snapchat: mostrar intimidade e proximidade com o eleitorado.

Se a eleição deste ano pareceu curta para você, é porque ela foi mesmo, a menor em 18 anos. A duração da campanha diminuiu de 90 dias para 45 dias, 35 dias na TV. Também houve mudanças importantes nas regras do financiamento de campanha, como a ênfase no financiamento de pessoas físicas ao invés de jurídicas, limites de gastos e prestações de contas que devem ser feitas pelos próprios candidatos, não pelo comitê eleitoral.

O futuro prefeito e a nova primeira-dama, João e Bia Doria tirando uma selfie.
O futuro prefeito e a nova primeira-dama, João e Bia Doria tirando uma selfie.

Com menos tempo e dinheiro, os candidatos precisaram ser mais criativos a abraçaram a ferramenta de ao vivo nas redes sociais. Segundo um levantamento feito pelo próprio Facebook, os candidatos à prefeitura de São Paulo fizeram 100 vídeos ao vivo durante a campanha, que geraram 4 milhões de visualizações.

“A rede social passou a ser um espaço para um debate direto com os eleitores, nos quais eles respondiam perguntas em tempo real,” disse ao Catraca Livre Deborah Delbart, gerente de relações com governos e políticos do Facebook. “Os candidatos usaram a ferramenta para mostrar os bastidores de debates, comícios, responder questionamentos ao vivo sobre determinado tópico.”

Abaixo, ao vivo de bastidores no Programa do Ratinho feito pelo candidato João Dória.


Pela análise da rede social, os assuntos de maior repercussão na plataforma durante o período foram economia, educação e saúde. E o estilo que mais teve sucesso foi justamente o de se afastar da postura do político convencional e tentar vender a imagem de ser outro eleitor do povo. “O que mais deu certo foram os selfies, o candidato segurando o smartphone, os que passaram uma sensação de intimidade,” conta Deborah Delbart. “Dar aos eleitores acesso ao mundo do candidato, ele comentar ao vivo um assunto que tinha acabado de acontecer, essas atividades geraram muito engajamento.”

Cartilha eleitoral do Facebook

Além das mudanças na legislação, outro fator de impacto foi a difusão ainda maior da internet na população brasileira, em particular na rede móvel. O Facebook é acessado por 108 milhões de brasileiros, e 90% desses usam o celular. Para ajudar os candidatos a não ferir a lei eleitoral, o TSE desenvolveu junto da rede social vídeos educativos sore como usar a ferramenta, disponibilizados no site e perfil do próprio tribunal.

“Pelas nossas projeções o ao vivo vai se tornar ainda mais forte em futuras eleições,” diz Deborah Delbart. “No ao vivo as pessoas fazem 10 vezes mais comentários, existe em média 6 vezes mais visualizações. Com ela os candidatos conseguem atingir milhares de eleitores de forma orgânica e com facilidade.”

Ao vivo feito pelo candidato Fernando Haddad na Cooperifa, no Jardim São Luís, Zona Sul de São Paulo

Ainda é cedo saber o impacto que o ao vivo essa proximidade de candidato e eleitores terá na democracia. Em uma visão otimista, é mais uma ferramenta que pode ajudar a alimentar o debate de questões importantes. Numa pior, pode acirrar ainda mais a divisão “time de futebol” das redes, onde a discussão não é feita por questões, mas por slogans.

Mas o que sabemos é que o ao vivo veio para ficar. O velho modo de fazer campanha com jinges no rádio, beijar bebês e tomar pastel com caldo de cana dificilmente vai desaparecer do dia para noite. Mas, cada vez mais, os candidatos vão ter que se preocupar não apenas com os votos, mas também com “curtidas” voando ao vivo durante suas transmissões.