Biblioteca da FEA ganha apoio de ex-alunos

Mobilização busca captar recursos para modernizar o espaço e aumentar seu acervo

Em 2008, a Diretoria da FEA (Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP) identificou um fator digno de celebração e também preocupação: sua biblioteca acumulou um acervo de livros tão grande – 155.058 livros e 1.821 periódicos – que o espaço físico já não mais era suficiente para comportá-lo. Após tal constatação, a diretoria da faculdade deu início ao processo para definir quais seriam os custos e projeto arquitetônico a serem aplicados durante a expansão do local. As mudanças na infra-estrutura não resumiam todo o plano de atualização do espaço na FEA e outra meta deveria ser alcançada: a modernização.

As novas salas – com mais espaço para estudos em grupo – também necessitam de tecnologia, como computadores, por exemplo. Ainda que a construção civil tenha sido viabilizada pela reitoria, ex-alunos, funcionários e professores decidiram aderir ao projeto e equipar a área da biblioteca, explica Wagner Cassimiro, gestor responsável pela mobilização.

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No site da mobilização é possível acompanhar o andamento da obra, ao vivo, por um player de vídeo
No site da mobilização é possível acompanhar o andamento da obra, ao vivo, por um player de vídeo

“Mesmo com os recursos disponibilizados para realizar a expansão, o prédio ficaria oco. Então, decidimos captar recursos através de doações que seriam o diferencial”, explica Cassimiro. Para que todos os doadores tivessem um contato mais próximo com o andamento da mobilização, um site foi criado e nele são atualizados os números referentes à quantia de dinheiro arrecada e o tempo que resta até a data em que se pretende alcançar o valor estipulado como meta: R$ 1 milhão.

Até agora, o projeto conseguiu mais de R$ 60 mil reais e outras contribuições foram aceitas durante a expansão e modernização da biblioteca, como o acervo de 250 mil publicações cedido pelo Professor e economista Antônio Delfim Netto. “Com esse tipo de doação é possível tornar público um acervo privado”, ressalta Wagner. Todos os que colaborarem com a ação tem seus nomes inclusos no site e recebem uma “classificação”, de acordo com a quantia enviada.

Costume de doar

A 224 dias do prazo final estabelecido para arrecadações, a mobilização em apoio à FEA e sua biblioteca é reflexo da importância que a mesma teve para aqueles que passaram anos adquirindo o conhecimento contido nos livros. Os laços estabelecidos com a instituição vão além de um calendário acadêmico que, na maioria dos casos, termina com a formatura do graduado.

Na página da “nova biblioteca”, depoimentos de pessoas que contribuíram com o projeto ilustram a preocupação em garantir que mais estudantes tenham acesso ao local. Pais também expressam sua satisfação em continuarem a investir na educação, agora, não somente na de seus filhos.

A iniciativa no Brasil ainda precisa de estímulo, como diz Cassimiro: “Em outros países a prática é comum. Mas aqui no Brasil as instituições ainda não têm essa cultura”. Porém, no âmbito internacional, centros educacionais praticam o “fundraising” (captação de recursos). A Universidade de Harvard, por exemplo, capta cerca de US$ 600 bilhões sendo 80% deles resultado de doações (segundo a ABCR).

No México, a Universidade Técnica de Monterrey fica próxima dos US$ 40 milhões por ano. Além dos ex-alunos e funcionários, empresários e donos de grandes fortunas investem nas universidades, como Bill Gates, um dos fundadores da Microsoft e que hoje se dedica à Fundação Bill & Melinda Gates.

Endowments no Brasil

O termo “endowments” é utilizado para definir os recursos do setor privado que são direcionados (doados) às instituições de ensino. Em Harvard, os fundos de investimento são gerenciados por uma empresa que aplica o dinheiro acumulado em recursos para pesquisas.

Em solo nacional, a Endowments do Brasil já realiza projetos junto da Escola Politécnica da USP, que deu início à criação do fundo após a doação de R$ 100 mil feita por alunos. Outro exemplo de doação aconteceu em 2005, quando os formandos de 1980 doaram aproximadamente R$ 6 mil à Universidade Federal de Minas Gerais para a compra de novas publicações.

Tais mobilizações provam a relevância do ensino na vida das pessoas e quão extensa é a ligação entre ambos. O ato de doar está além de uma obrigação ou atitude em retribuição aos anos de aprendizado. Vê-se nesta atitude o investimento em educação e, como disse Wagner Cassimiro, “uma forma de escrever cidadania”.