11 livros que abordam a temática LGBT

O conhecimento ainda é uma das ferramentas mais fáceis de combater o ódio — quando as pessoas estão dispostas a aprender e compreender, claro. Por isso, nada melhor do que obtê-lo por meio da leitura, uma das maneiras que nos permite vivenciar novas histórias, conhecer antigas e construir outros enredos.

No Dia Mundial do Livro, a jornalista e criadora do perfil no Instagram“Leitura LGBT”, Amanda Campo, abriu a biblioteca para compartilhar 11 livros sobre a comunidade LGBT.

Em meio aos números de mortes por homofobia, que infelizmente não param de crescer, dá pra pensar como combater o preconceito com resistência literária, segundo a jornalista.

“Divulgar e falar sobre isso é importante por três motivos: representatividade importa sim (ler, por exemplo, uma literatura lésbica me causou a sensação de identificação que nunca tive em nenhum romance); para naturalizar as questões de orientação sexual e identidade de gênero (quanto mais informações as pessoas tiverem, menos preconceituosas elas serão, salvo o melhor juízo) e porque a literatura (seja ela um romance, um trabalho acadêmico, um poema..) é arte e é uma forma de expressão. Dar ouvidos às formas de expressão da comunidade LGBT pode ser um ótimo caminho para compreendê-la dentro de um contexto social.”

Confira quais são as obras indicadas pela jornalista:

1-) A homofobia para além das aparências

“Gosto muito do autor deste livro. Marcando seu lugar enquanto homossexual negro, Marcelo Rezende trabalha as relações de família, fé, comunicação e psicanálise.

O autor encontra na história da humanidade subsídios para reconstruir o surgimento, por assim dizer, da homofobia. O livro, embora notadamente fruto de uma pesquisa acadêmica, é intenso e revelador.”

2-) E se eu fosse puta

“BABADO! Tive o prazer de conhecer Amara Moira em minha estadia em Campinas (SP). Na época, o contexto já me mostrou a força de uma mulher inconformada com a norma. Uns dois anos depois, ela reapareceu em minha vida mas como autora de um dos livros que li em 2017.

Ela nos conta, com riqueza de detalhes, alguns dos 20 ou 30 reais que ganhara com programas enquanto profissional do sexo. Hoje, já doutora em teoria crítica e literária, continua a representar e inspirar a comunidade LGBT. Leiam, apenas. Leiam!”

Amara Moira é doutora pela Unicamp

3-) A TV no armário: a identidade gay nos programas e telejornais brasileiros

“Este livro eu indico por uma razão muito simples: foi meu primeiro livro com temática LGBT ❤️. Tem 133 páginas, li em 2012 e foi onde conheci a história do bar Stonewall.

Depois de uma breve retomada dos momentos mais marcantes vividos pela comunidade lgbt no século XX, o autor nos oferece um olhar mais atento e analítico sobre a representação dos gays na tevê. Lembram daquele programa “Beija Sapo”? Ele fez uma análise interessante sobre. Vamos ler?”

4-) Além do carnaval 

“Eu escutei “clássico”? É exatamente este lugar que “Além do Carnaval” (James Green) ocupa. Também navegando sobre as experiências homossexuais masculinas, é o que indico para quem deseja pesquisar mais sobre movimentos homossexuais no Brasil.

É um livro sobretudo político e nos da acesso a um Brasil do século XX. Foi nele que tive meu primeiro contato com alguns produtos jornalísticos segmentados LGBT. Marcou minha vida e tenho certeza que pode te ensinar muitas coisas também.”

5-) A revolta dos homossexuais 

“Achados de sebos! Esse está na listinha de próximas leituras. O livro é de 1969 e paguei só 10 golpinhos! Sugiro sempre garimpar sebos porque há preciosidades perdidas por lá.

Já tinha escutado falar desse livro, que aborda o “homossexualismo” (como era designado na época) masculino nos EUA. Tá na listinha que só cresce! – Livro de Norman Winski.”

6-) Manifesto contrassexual

“Vocês têm um minuto para a palavra de Paul B. Preciado? Como já confessei que sou bem x malucx do design gráfico de livros, esse aí ganhou meu coração só por tem um cu (sim, um cu) na capa. Eu li há uns poucos anos apenas um pdf impresso, então a experiência foi outra.

Enfim, ele nos conduz pela leitura com um humor tão ácido quanto erudito (o cara passeia por Deleuze, Foucault, Guattari, Butler, Charlus… enfim, essa gente perturbada da cabeça amo/sou). Tem papo de dildo de uma forma que você nunca pensou que seria abordada, ele literalmente desenha o que chama de “mesa de operações “ e desmonta qualquer normatividade que estejamos acostumados a discursar. Mas vou deixar aqui só uma provocação: “(…) a filosofia como modo superior de dar o c*”. LIDEM COM ISSO.”

7-) Eu não sei falar

“É a história de duas amigas (Clarice e Maria) separadas pela distância. Elas, em certa altura da história, nos contam o amargor de amores que deixaram feridas abertas, mas também as borboletas no estômago que só a intensidade de uma paixão nos proporciona.

As autoras são: Clarice Oliveira e Maria da Rosa (Editado por Luciana Costa Brandão). Já estou morreny de amores aqui. ”

8-) Contos Transantropológicos 

“Adoro a sensação de leitura nova. Como ainda não li, posso dizer que fui seduzida por Atena Beauvoir Roveda por dois motivos: primeiro porque logo de início ela já manda um “Há mais coisas entre um pênis e uma vagina, entre o feminino e o masculino, entre o homem e a mulher do que supõe nossa vã filosofia”.

Segundo porque ela divide o livro em contos de 4 ou 5 páginas. Gosto muito disso. O ritmo de leitura se mantém. Enfim, gente linda. Por esses dias conto mais sobre “Contos transantropológicos”, de outrx autxrx LGBT.”

9-) O Arco-íris (Des)Coberto 

“Esse livro foi um achado da feira do livro de Porto Alegre, na barraquinha da editora da UFSM. Guilherme Passamani dispõe ao leitor um diálogo entre o movimento LGBT do Rio Grande do Sul e da Argentina, articulando política, economia, estudos antropológicos e comunicacionais.

Vale muito a pena pra quem quer pensar essas questões. A obra também extremamente acessível pra quem não é acadêmico. Sugiro a leitura pra todo mundo.”

10-) Imprensa gay no Brasil: entre a militância e o consumo 

“É tanta coisa legal que a comunidade LGBT já viveu, que temática é que não falta. Nesse livro, a autora faz um bom apanhado da imprensa gay, enquanto segmentação, no Brasil. Digo isso porque alguns periódicos mais alternativos não foram contabilizados pela autora.

O tom jornalístico da obra faz a leitura ser bastante leve e fluída, até diria que é algo entre o ensaio e a reportagem.”

11-) Nega Lu: uma dama de barba malfeita 

“Falando a verdade, eu ainda não terminei de ler. É atualmente minha leitura de antes de dormir. Não sou nativa de Porto Alegre, e tudo o que conheço tem apenas um ano. A história de Nega Lu me apresentou uma cidade completamente diferente, uma Oswaldo Aranha que queria ter conhecido, um Bom Fim colorido e bafônico.

Nascida no Menino Deus, Nega Lu escancarava sua condição de “preto, pobre e puto” para mexer com os olhares normativos. Que história de vida e de resistência! A ruptura de normatividades de gênero e sexualidade não é de agora, monamú!”

Luiz Airton Farias Bastos havia decidido não mais atender pelo nome de batismo – agora, era a Nega Lu. A despeito da condição de preto, pobre e puto (como se autodefinia, com amarga ironia), encontrou lugar na paisagem urbana.
Créditos: Patricia
Luiz Airton Farias Bastos havia decidido não mais atender pelo nome de batismo – agora, era a Nega Lu. A despeito da condição de preto, pobre e puto (como se autodefinia, com amarga ironia), encontrou lugar na paisagem urbana.