Fotógrafa passa o Dia dos Pais retratando a realidade de moradores de rua

Por trás das roupas surradas e encardidas da população em situação de rua existem homens e mulheres cuja história de vida é desprezada pelo poder público e por todos aqueles que passam todos os dias pelas calçadas e fingem que não os veem.

No último Dia dos Pais, enquanto a maioria das pessoas celebrava a data com almoços na casa da família, a fotógrafa Merylin Esposi, de 25 anos, saiu às ruas do centro de São Paulo para conversar com homens que já tiveram casa, carro e emprego, mas, por diferentes razões, dormem hoje nas calçadas da cidade. Quase todos também são pais.

Segundo informações divulgadas neste ano pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), são quase 15 mil pessoas morando em situação de rua só na cidade de São Paulo. A maioria vive na região da Sé, no centro, e na Mooca, na zona leste.

“Eu sempre quis fazer um projeto com pessoas em situação de rua para trocar experiências. Justamente no Dia dos Pais, eu estava mal por causa da relação que tenho com o meu, então decidi sair para fotografar”, diz Merylin.

Nelson, uma das pessoas com quem conversou, lê uma carta que escreveu à sociedade em um dia de chuva

Ao chegar no centro, ela parou em frente a cada pessoa que via sentada na rua e perguntou se podia sentar-se para conversar. “Seja bem-vinda à nossa casa. Quer tomar um Toddynho? Uma bolacha?”, recepcionou um dos rapazes. 

A fotógrafa explica que contou aos moradores sobre sua história com seu pai e também perguntou a eles sobre sua família. A maioria disse que tem filhos e, inclusive, sabiam o que estava sendo comemorado naquela data.

“Encontrei um grupo de três amigos que estão na rua porque são alcoólatras. Dois deles são pais e disseram que tinham muitas saudades da família”, conta.

Merylin ao lado de Bira, Valdemir e Elias

Bira, de 52 anos, um dos integrantes do trio, está na rua há duas décadas e faz questão de lembrar que, embora esteja longe de seus parentes, ele adquiriu uma nova família nas ruas.

“Nós passamos frio, fome, ficamos doente e saramos sem tomar remédio. Nós cuidamos da nossa família que conhecemos aqui, na calçada”, disse Bira à fotógrafa. “Quando vem alguém oferecer comida, ainda que nosso estômago esteja ardendo de tanta fome, dividimos cada migalha com nossos amigos. Aqui somos eu, Valdemir e Elias, mas tem muitas famílias espalhadas pela região e muitas delas eu conheço e sei que são verdadeiros seres humanos”.

Depois desse projeto, Merylin pretende registrar pessoas em situação de rua que têm Aids.

Veja mais fotos do projeto: