Professor de judô há 50 anos diz que é preciso ‘se sentir útil para viver bem’

Contador aposentado, Kokiti Ura, 70 anos, não desliga. É professor de judô há 50 anos em uma academia de Guarulhos, na Grande São Paulo. Foi um dos fundadores do grupo de escoteiros do clube União Cultural e Esportiva Guarulhense, a Uceg. E, desde que se aposentou, há cinco anos, é presidente do mesmo clube.

Koiti Ura, durante passeio com grupo de escoteiros que fundou em Guarulhos há 27 anos

As aulas de judô começaram aos 19 anos em Pompeia (SP), onde ele nasceu. Aos 22 anos, já em Guarulhos, Ura conta que estava sem ter o que fazer e decidiu entrar numa academia para voltar a treinar. Nunca mais parou. Segue o exemplo de seu mestre, que, aos 88 anos, ainda dá aulas _ apesar de não poder mais praticar com frequência, fica de olho na parte técnica. “O judô é a alegria dele. A pessoa tem que se sentir útil para viver bem. Este é o segredo”, diz Ura.

Algumas coisas mudaram desde a juventude, mas ele afirma que é preciso saber lidar com isso. “Fui encarar na semana passada um aluno com 110 kg e dancei. Tenho 73 kg. Quando você envelhece, diminui de peso, e a geração de hoje é muito grande. Mas me divirto, dou aulas para crianças, jovens e adultos, duas vezes por semana. E em agosto teremos um campeonato e vou acompanhar 13 alunos como técnico.”

Ura diz que ganhou algumas medalhas quando competia e emenda o papo em sua outra alegria: o escotismo. Há 27 anos, ele faz parte do movimento. Tudo começou com uma conversa entre amigos. O papo era a preocupação de dar educação melhor para os filhos _ ele tem um casal. “Chegamos ao escotismo por causa do peso da palavra, pois hoje em dia a palavra não vale nada. Queríamos resgatar isso. Eu já tive até prejuízo por manter a minha…”

O judoca conta que acampavam em quase todos os fins de semana prolongados, e as crianças aprendiam mais do que eles tinham imaginado: ter disciplina, ajudar e respeitar o próximo, cuidar do meio ambiente.

“Os pais hoje colocam as crianças no movimento para elas aprenderem a lidar com a responsabilidade. É gratificante para nós, após todo o trabalho, até ficar longe da família, ver que a criança vai melhorando o desempenho, passa a ter vontade de ajudar, de participar. Dá muita alegria ver que o sacrifício que fazemos vale a pena.”

O tempo que ele dedicava ao escotismo, porém, sofreu uma diminuição. Muita da atenção de Ura hoje está voltada à gestão da Uceg. “Trabalho 365 dias por ano no clube. Às vezes, fico as 24 horas do dia por lá”, afirma.

Ura conta que, há cinco anos, a Uceg estava “capenga”, e o grupo dos escoteiros estava prestes a abandonar o clube. Foi quando ele decidiu salvar os dois: o clube e o escotismo.

“Nas nossas reuniões com associados, brinco que me divorciei da minha mulher e me casei com o clube. A sorte é que minha mulher compreende que assumi o clube e aceitei o desafio de melhorá-lo. Dizem por aí que sou trouxa, porque me dedico demais. Mas vou cumprir o que prometi e tem também o aprendizado que ganho no dia a dia.”

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