Na prosa da periferia, Hugo Paz revoluciona a literatura marginal

Ex-catador de latinhas, Hugo Paz faz da poesia sua arma de transformação sócio-cultural

Por: Redação

Poesia é da hora, mano” e hoje emana prosa e lirismo nos sonetos que descrevem o cotidiano da periferia. Está na obra do poeta Hugo Paz, que sonha, rima a elucidação rumo à liberdade e ao enfrentamento, declarando guerra. Suas armas: a caneta, o papel e muita história para ser contada.

Foi nas letras do Rap, na poesia maloqueirista de Brown, Sabotage e outros porta-vozes do cancioneiro periférico que Hugo sentiu a chance de protagonizar sua própria história. “No começo eu tinha um envolvimento com grafite e isso me aproximou dos outros elementos da cultura hip hop, como a música, e conseqüentemente a escrita”, revela o escritor.

Brunno Marchetti
Autor de três livros, Hugo é responsável pela coordenação de projetos sócio-culturais
Créditos: Brunno Marchetti
Autor de três livros, Hugo é responsável pela coordenação de projetos sócio-culturais

Se o beat das ruas teve papel fundamental na sua formação ideológica, a música foi outro fator fundamental para a lapidação do seu trabalho.

Tudo isso nos tempos em que o seu grande sonho, como quase todo adolescente, era apenas ser um artista famoso. “Nos reuníamos entre amigos, e sem qualquer tipo de compromisso, cantávamos e tocávamos conhecidos versos da música popular brasileira. Aquilo tudo, que parecia simples brincadeira, serviu para me mostrar novas linguagens culturais”.

Com 19 anos, passou a desenvolver trabalhos voluntários em uma ONG no Morro do Querosene, bairro onde vive há pouco mais de uma década. Foi lá que conheceu a jovem escritora Marah Mends, responsável por apresentá-lo ao mundo da literatura e, consequentemente, principal incentivadora de sua obra. “Conhecê-la foi fundamental para esta grande revolução que fiz em minha vida. Ela me apresentou novos caminhos, mostrando o poder de libertação que tem a arte”.

E a arte, de fato, o libertou. Em cinco anos, Hugo deixou o trabalho de catador de latinhas, para mergulhar no mundo das letras. Nos saraus, se fez, à poesia, se afeiçoou. Encontrou o seu lugar e usou a palavra para discutir, sentenciar e denunciar. Em cinco anos, o jovem  teve seus textos publicados em duas antologias, assinou três livros com poesias próprias e coordena projetos literários em bairros da periferia.

Hoje, o poeta ressalta os benefícios trazidos pela literatura e destaca seu caráter emancipatório, trazendo senso crítico, poder de questionamento e contestação. “Chegou a hora da periferia fazer alguma coisa por ela mesma.  De ser representada por uma escola literária, como foram os modernistas ou os concretistas”.

Brunno Marchetti
 "O homem precisa aprender que a mudança está dentro de si mesmo"
Créditos: Brunno Marchetti
"O homem precisa aprender que a mudança está dentro de si mesmo"

Coadjuvante de um movimento literário que desperta a cada dia, Hugo busca na literatura marginal sua inspiração: Sérgio Vaz, Vulgo Elemento e Marah Mends são algumas de suas principais influências.  “Esses escritores representam uma mudança fundamental para toda a sociedade. Prova-se que, através da arte e da cultura, é possível haver uma saída. Que este pensamento se perpetue para as futuras gerações”.

Se depender apenas de seus esforços, a expectativa por tempos mais prósperos é quase uma certeza. Responsável pela organização de projetos literários voltados à periferia e pessoas em situação de vulnerabilidade social, o poeta é idealizador do  projeto “Poesia É Da Hora, Mano”, que reúne escritores, poetas, músicos, agitadores culturais e moradores de rua em um descontraído bate-papo sobre a importância da arte. O encontro acontece no dia 25 de fevereiro,  no Centro de Acolhida Barra Funda I, das 18h30 às 21h30.