Conteúdo pré selecionado para o concurso cultural

A Rede Catraca Livre é atualizada semanalmente com  algumas das produções enviadas para o Concurso Cultural. O resultado do Concurso será divulgado no dia 1 de outubro

ORIGAMI

foto de Tereza Yamashita

origami: Tereza Yamashita
origami: Tereza Yamashita

SETEMBRO VERDE

obra de Gabriel Martins

Setembro Verde: Gabriel Martins
Setembro Verde: Gabriel Martins

TELEFONE

foto de Camila Mazzini

"num mundo verde de mentira" Camila Mazzini
"num mundo verde de mentira" Camila Mazzini

CORES

Foto de Denys Flores

Cores: foto tirada no Ceagesp
Cores: foto tirada no Ceagesp

PENSE POSITIVO

obra de Carlos Eduardo Moitinho

Pense Positivo: Carlos Eduardo Moitinho
Pense Positivo: Carlos Eduardo Moitinho

SETEMBRO VERDE

filmado e editado por Filipe Franco

Video breve que coleta cenas da seca que antecedeu o mês de setembro de 2010, precedendo a chegada da primavera. O vídeo evidencia as divergências com irrigações artificiais, sendo melodramático e bastante irônico. Filmagens em São Paulo e Lençóis Paulista.

SETEMBRO VERDE

vídeo publicado por Gabriela Cherubini

Objetos numa estante de um quarto. Dona Mãozinha vai dar uma esverdeada no molho de setembro!
Roteiro, direção e fotografia: Gabriela Cherubini e Marcelo Moraes
Música: André Vac

O MÍNIMO IMPULSO ELÉTRICO SUPRAVENTRICULAR

texto de Flávio Siqueira Junior

O tempo parou. O vento parou. A lua sumiu. O sol morreu. A chuva secou. O gelo queimou. A vida sumiu. O norte se perdeu. A maré nunca mais encheu. O vento se esqueceu de soprar. O verbo deixou de ser conjugado. Os versos não eram mais cantados. Até mesmo o silêncio não se ouvia mais. Todas as flores murcharam, e com elas se foram as cores. Todos os bixos fugiram, e com eles se foi o amor. E assim se passou cem mil anos e cem mil histórias que não faziam mais diferença. Era como um segundo, era como uma pausa. Uma pausa sem volta. E a Terra parou.

(…)

Até que, dentro de um coração fraco, que tanto pulsava e naquele dia também parou, um mínimo impulso elétrico percorreu seus meio-fios e se espalhou supraventricularmente….. até que….até que…até que..até que, até que ele volta a bater. E agora bate forte. O coração. O coração do mundo. O mundo. Que é eu. Que é você. Que é todo mundo.

(…)

E foi assim… que tempo e vento continuaram seu caminho, que sol e lua se eclipsaram novamente, que chuva e gelo escorriam juntos, que norte e vida se encontraram, que verbo e versos declinaram, que flores, cores, bixos e amores se abraçaram. O silêncio era apenas uma pausa, um segundo em cem mil horas.

E foi assim que salvaram o mundo. E enfim tudo se ajeitou.

Não era necessário superpoderes ou algorítimos metafísicos complexos, mas tão só um simples e mínimo impulso elétrico.

SAINDO DA LIXEIRA

publicado por Marcelo Nascimento de Jesus

Documentário produzido pelo Grupo Alma Ambiental é um dos finalistas do Concurso Cultural da Rede Catraca Livre. Para assistir o documentário completo, clique aqui.

Conjunto José Bonifácio, Itaquera, Zona Leste de São Paulo.

Em meio à crise financeira mundial, o vídeo documenta o dia-a-dia da catação e coleta de resíduos, trazendo à tona o olhar, os desafios e os sentimentos das pessoas que vivem da reciclagem. Abordando a complexa problemática do lixo em São Paulo, o vídeo tem como pano de fundo a ação artística e educativa do Grupo Alma Ambiental, formado por jovens do bairro que agem para sensibilizar e mobilizar a população, incentivando a autonomia a partir de uma nova consciência.

O EDUCADOR APRENDIZ

projeto desenvolvido por Guilherme Saad Ximenes

Quando li a obra “O Turista Aprendiz”, de Mário de Andrade, resultado do projeto Missão de Pesquisas Folclóricas (1938), fiquei maravilhado com seus registros das manifestações culturais brasileiras e pela sua busca em resgatar nossa cultura popular num momento histórico em que o Brasil encontrava-se impregnado do europeísmo. Na época, encantava-me pelas manifestações da cultura popular brasileira, músicas, danças, expressões artísticas, “causos”, e tinha como certo que percorria o mesmo caminho do autor/musicólogo/jornalista, desvendando um Brasil culturalmente rico e latente em suas expressões populares.

Contudo a vida nos conduz por caminhos misteriosos e desconhecidos e, assim, frente às oportunidades que me foram apresentadas, passei a desenvolver projetos na área de educação ambiental, trabalho que realizo até hoje em diferentes regiões, de norte a sul do nosso vasto território nacional. Quando me perguntam o que faço, respondo que sou educador socioambiental. Por que socioambiental?

Pois busco não somente ecologizar as pessoas e contribuir com a ditadura que busca instaurar uma nova ética de preservar o meio ambiente com base no “faça sua parte e pronto!”. Educar socioambientalmente, no meu entendimento e prática de trabalho, é partir de uma educação emancipatória voltado ao protagonismo social, tornando o indivíduo em sujeito social capaz de transformar sua realidade, ciente de que na relação entre individuo e ambiente insere-se uma palavra simples, mas de enorme complexidade; Cultura.

Em minhas andanças pelo Brasil atuando como educador socioambiental sentia cada vez mais a importância de compreender as pessoas e comunidades envolvidas em meu trabalho. Qual sua relação com o ambiente, com o outro, como se posicionam no mundo, o que pensam, fazem, acreditam, sentem, sonham… Peraí! Estava tentando compreender sua Cultura.

Nesse momento me senti muito próximo de Mário de Andrade em sua busca, ou seja, conhecer

o brasileiro e suas expressões, a tal brasilidade. Percebi, portanto, que tinha em minhas mãos a oportunidade de desbravar a pluralidade cultural brasileira através de minhas viagens como educador e passei a colocar em minha mala tudo o que aprendia em cada encontro com a comunidade, conversas e cafezinhos Brasil afora.

O projeto O Educador Aprendiz ainda encontra-se no plano das idéias, aquelas vontades ainda não colocadas em prática, mas que nos tiram o sono à noite. Se me perguntarem aonde pretendo chegar com ele, responderei não sei. Sinceramente, estou mais disposto a trilhar o caminho do que certo de como seguir, ou ainda, aonde chegarei. Mas sinto a vontade, e até necessidade, de compartilhar todos os meus registros e relatos de viagens, pois não quero que tais experiências e descobertas sejam deixadas de lado, encostadas, em minha memória, tal como um livro esquecido na prateleira.

SÃO PAULO, CHAMINÉ, FUMAÇA

música de Raphão Alaafin

para ler a letra da música, clique aqui

[audio: https://catracalivre.com.br/wp-content/uploads/2010/09/Sao-paulo-chamine-fumaca.mp3]


MEDITÁRVORE / EXPANSÃO

desenhos publicados por Kelly Santos

MEDITÁRVORE: Caneta ultrafina e canetinha hidrocor sobre papel couche Fosco / 2010
MEDITÁRVORE: Caneta ultrafina e canetinha hidrocor sobre papel couche Fosco / 2010
EXPANSÃO: Caneta ultrafina e canetinha hidrocor sobre papel couche Fosco / 2010
EXPANSÃO: Caneta ultrafina e canetinha hidrocor sobre papel couche Fosco / 2010

FLYSEEDS

vídeo produzido por Elissa Schpallir

O vídeo documenta uma ação ambiental – denominada “FlySeeds” – promovida por estudantes de Design da Unesp – Bauru, em que os realizadores soltaram mil balões contendo sementes e instruções de plantio.

AQUARELA- ACHMEA NUDICAULIS

publicada por Victor Silvestre

Aquarela de Victor Silvestre
Aquarela de Victor Silvestre
Bromelia (Aechmea nudicaulis) facilmente identificavel na mata atlantica do Itatiaia. Na mesma composiçao o beija flor (Phaetornis eurinome), bicho calmo, facilmente identificavel pela florestas. Muitas vezes voando por perto das passoas que aqui visitam. Seu nome vulgar é rabinho branco da floresta. Qnd esta em voo abre sua calda como um leque com as pontas brancas para melhor controle aerodinamico na visita rapida das plantas.
A frequencia de visualizaçao do beija flor aumenta consideravelmente c a entrada da primavera. Nao so do Rabinho Branco, mas de todos que habitam pelo Parque.

SERÁ?

texto publicado por Nathalia Belisse

Setembro… Verde… Árvores… Não, não! Concentra- se, Nathalia!

Olha! Uma música nova do Pethit. Calma, você tem que sentir o tema para o Catraca Livre.

Ah! Vou clicar no link… Não “guento” de curiosidade. Depois, eu começo a gestação desta sementinha de texto.

Ahhhhhhhhh! Uma valsinha, que linda! E estas cores? Elas me lembram final de inverno, quando as folhas ensaiam um renascimento, o mundo já não é tão marrom, vai se tornando verde, a Primavera chega de mansinho… É isso! Este é o meu setembro verde!

Trilha sonora perfeita para começar a escrever. Ele narra um amor, rola uma viagem e tal… Talvez, eu esteja viajando junto.

Esta voz calminha… Ela me traz paz, aquieta a respiração. Preciso falar de meio-ambiente? Talvez não. A clorofila toda também se encontra nos símbolos da vida.

O papel que escrevo agora fez parte de uma árvore. Espero que tenha sido replantada. Se não foi, quero me redimir.

Aqui, eu espero plantar um sentimento para Setembro que se aproxima. Não quero que seja estático, paradinho nestas linhas. Tem que girar como o carrossel que o Thiago Pethit canta.

Sentimento verde, esperançoso, cor de quem ainda precisa ficar maduro.

Que eu consiga fazer destas letrinhas a bagagem para os barquinhos de papel que ele ajeita na rota que canta… Que bom seria se eu pudesse atingir o mundo todo.

Tá, Nathalia! Pare de olhar as árvores balançando do clipe e bota esta caneta para funcionar.

Mas isto tudo que escrevi não é minha noção de “Setembro verde”? Será que vale? Bom, toda forma de fé é válida.

Então, o meu mês nove esverdeado será assim: livre!

Texto escrito ao som de “Mapa-múndi”, de Thiago Pethit.

CHOPIN

Vídeo produzido por Letícia Cabral

SETEMBRO VERDE

Crônica publicada por Lêda Rezende

A noite estava calma. Dentro do que se consegue de calma – numa noite em meio a tanta urbanidade. Passara o dia entre carros e metrôs. O clima estava seco. Muito seco. Lacrimejava com facilidade. De onde viera isso era um acontecimento da ordem do impossível. Até do inacreditável. Mas não era momento para saudosismos ou comparações. Afinal mudara-se para onde escolhera bem lúcida e orientada – caso algum curioso Legal a questionasse.

Enfim. Prosseguiu o dia da rotina do jeito que a rotina se estabelecera – nem lembrava mais desde quando. E assim ficara. Apressada e lacrimejando. Já estava tão habituada que – por onde quer que colocasse a mão – já encontrava um lencinho descartável. Nomeara de “lágrimas químicas”. Sempre falava de si para si – melhor estas do que as emocionais. Deixa estar. E seguia o proposto.

A sala do atendimento onde trabalhava não tinha janelas. Não tinha janelas. Simples. Mas fora outra escolha lúcida. Ele avisara. Ou fica em sala com janelas e calor – ou sem janelas e ar condicionado. Não houve espera na decisão. Foi logo respondendo. Acho melhor sem janelas. E passava as horas funcionais dos dias ditos úteis – sem calor – envolvida por quatro assépticas paredes brancas. Muitas vezes fazia chistes consigo mesma. Lá vou eu para o meu lençol de concreto.

Era o oposto de lá de onde viera. A sala onde trabalhara por tantos anos – tinha uma janela imensa. A vidraça expunha a ausência da parede. Olhava para um azul sem tamanho. Do céu. Do mar. Sentia-se como num convés de um navio. Sentada para o atendimento – se girasse um pouco que fosse olhar – já via a água azul enfeitando mundo afora e mundo a dentro. Era lindo.

Em meio aos insistentes apelos da Memória – chegou em casa. Já no final do dia. Pingando o colírio. Os olhos estavam uma lástima. Lembrou a amiga de lá. Quase escutou a voz dela com o sotaque lento. Diria em explícito tom dramático – você está uma lástima. Falaria isso colocando com delicadeza os cabelos por trás da orelha. Até riu. Não tinha como discutir. Estava mesmo uma lástima. Ainda bem que era só a lembrança – a amiga estava bem longe. Dispensava àquela altura qualquer comentário de fundo negativo. Mesmo que compatível com a realidade.

Cansada – dormiu mais cedo. Dia seguinte era o tal dia mal falado como inútil.

Acrescentou um novo aprendizado. Começou a acreditar numa determinada força – sempre citada. A Força do Hábito. Assim. Merecidamente com destaque em maiúscula. A tal Força a fez levantar cedo – bem diferente do planejado.

O sono se foi de um golpe só. Nem acreditou quando viu o mostrador do relógio. Sacudiu. Olhou de novo. Quase se revoltou. Mas – obediente – levantou.

Abriu a porta do quarto com especial sensação saudosista. Vai ver sonhara com mar e navios. Ou com janelas e vidraças. Vai lá saber. Estava sem o registro exato do que se passara com uma parte dela – enquanto a outra parte dela dormia.

Abriu a porta.

O passo seguinte – não foi um passo. Foi uma espécie de parada. E um gritinho. Mão na boca. Olhar de criança. Sorriso feliz – disfarçado pelos dedinhos.

Na varandinha da sala estava uma flor. Uma flor. Nascera na noite. Uma linda flor brilhava toda sedutora num galhinho verde. Até o vasinho parecia exibido. Falou alto – a primeira flor da Primavera. Aqui na minha varanda.

Dispensou janelas. Desprezou paredes. Saudosismos. Tocou os navios Porto a fora. Abandonou o Colírio. Já foi respondendo à amiga – de lá totalmente inocente – estou muito bem obrigada. Olhou para a ladeira em frente à varanda e viu – surpresa – as árvores pesadas de tantas folhinhas verdes.

É Setembro. Nem lembrava.

Jogou um beijo em direção ao relógio. Regou a plantinha. Elogiou a florzinha. Agradeceu à Força do Hábito. Arrumou-se. Saiu.

O Parque estava cheio – mesmo tão cedo. As pessoas caminhavam de todo jeito. Crianças corriam livres. Vozes e risinhos davam uma sonoridade de prazer por onde se passasse.

Não resistiu. Dirigiu-se para um espaço ainda vazio – sob uma árvore. Sentou-se. Sentou-se com vagar. Como que pedindo licença. Primeiro olhou. Depois foi descendo a mão com suavidade. Expôs a  palma das mãos. Assim. Como um toque assintótico. Sentiu a proximidade. Depois repetiu o mesmo com a pontinha dos dedos. E com a mesma suavidade – acariciou o verde da grama ainda úmida da noite. Sentiu as gotinhas nas folhinhas já mornas pelo sol – que aquecia e iluminava com generosa cumplicidade.

Sentiu a beleza. Sorriu para o calendário. Sim. Setembro. Primavera. Parecia a primeira Primavera que assistia. Lembrou do compositor das Estações do Ano. Sentiu-se tão universalmente pequena. Ele sim. Um sábio. Festejava com acordes de violinos. Perfeito. Perfeito.

Acima os galhos das árvores balançavam com as folhas frescas e juvenis. Havia flores para todo lado que virasse. Havia cheiro de festa. Havia cor de alegria. Uma emoção só.

Em torno do lago o verde – fortalecido – o emoldurava. O gramado e as árvores pareciam se utilizar da água como um espelho. Fosse feita aquela perguntinha do existir alguém mais belo – a resposta seria fácil desta vez. E plural. Não. Existe nada mais belo do que vocês.

Em mil formas a água – ondulando com o vento – desenhava galhos e cores. Um ballet no ar e um ballet na água. Alguns gansos deslizavam com total intimidade – compondo mais imagens com as ondinhas provocadas pela passagem deles. Todos branquinhos. Pareciam tão altaneiros. Vaidosos. Dava gosto olhar para eles.

Sentiu o cheiro. Desta vez nem respirou forte. Com toda a delicadeza deixou aquele aroma bom de terra e árvores entrar pelo corpo. Escolheu fechar os olhos por um instante. Não como se numa economia de sentidos – mas para que se multiplicassem numa ordenação espontânea. Sentiu até um festejar nas veias e artérias.

Passou o dia assim. Pelo verde. Com o verde. Através do verde.

Voltou para casa já no final da tarde. E foi óbvia. Correu para colocar a música dos tais violinos do sábio compositor. Assim regou a flor. Sob os lindos acordes. A primeira flor da Primavera. Assim falou para ela enquanto molhava com respeitosa alegria as pétalas – e as folhas do pequeno galhinho onde ela se amparava. Você é a mais linda e a primeira flor desta Primavera.

Lembrou por um momento da sala sem janelas. Deu de ombros. Já não importava tanto. Tudo tem o valor que cada um gradua. Enxergou – sem o colírio. Riu. Havia mais do que paredes brancas dentro dela – e no mundo lá fora. Estivesse onde estivesse. Há um eterno que não se pode interferir – como a beleza de um Setembro verde.

Organizou a rotina do dia seguinte.

Por Redação