Teatro União e Olho Vivo comemora 45 anos de resistência cultural

Por: Redação

Há 45 anos, o Brasil vivia um período onde a liberdade, arte e protesto tinham significado essencialmente diferente. Tempos em que fazer teatro para a periferia poderia significar crime ou conduta subversiva, aos olhos de uma ditadura que, anos mais tarde, revelou-se brutal e promoveu a morte de centenas. Em meio a este conflituoso contexto, surgia o Teatro Popular União e Olho Vivo, que através da arte popular brasileira foi às ruas revolucionar.

Idealizado pelo dramaturgo César Vieira, pseudônimo do renomado advogado Idibal Pivetta, o grupo é considerado uma das mais importantes companhias em atividade no país e teve papel pioneiro no Teatro Amador, levando para bairros pobres, longe do centro, uma arte considerada privilégio de poucos.  “Eu já escrevia textos para os teatros do centro da cidade, mas sabia que o público era parte de uma classe media, estudantes e pessoas de uma condição financeira confortável. Mas não era aquilo que eu ambicionava, sabia que estava faltando alguma coisa, levar a aquela arte para quem não tinha oportunidade”, lembra Vieira.

Decidido a mudar a proposta de seu trabalho, em 1969 estreiou, no palco do Teatro Casarão, o espetáculo “Corinthians Meu Amor”. Sucesso de público e crítica, a montagem foi muito além do circuito teatral da capital paulista e chegou aclamada a praças, igrejas e espaços culturais da periferia. “As pessoas levavam bandeiras do Corinthians, cantavam e comemoravam como num estádio. Achavam até que um dos atores era o Rivelino”, diverte-se o dramaturgo.

O objetivo do grupo é a troca de experiências culturais com as comunidades carentes da periferia de São Paulo.

Em 1970, convidado por um grupo de estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, auto-intitulado Teatro do Onze, Vieira estreiou o espetáculo “O Evangelho Segundo Zebedeu”,que contava a história da Guerra de Canudos através da linguagem do cordel.

 

O espetáculo renovou a cena teatral paulistana ao apresentar em linguagem popular um exercício metalinguístico até então pouco visto no Brasil. Além de sua estrutura estética, outro detalhe teve  determinante  significado para a consagração do espetáculo: as apresentações foram realizadas dentro de um circo no Parque do Ibirapuera.

A proposta de popularização do teatro não passaria despercebida pelas autoridades militares que governavam o país. Em 1974 o Teatro União e Olho Vivo, após uma apresentação num colégio da Vila Prudente, foi surpreendido por agentes militares infiltrados no público e Vieira  ficou mais de 90 dias encarcerado no  DOPS.

Para saber mais sobre o histórico de um dos mais importantes grupos de teatro do país, participe da festa de 45 anos do Teatro Popular União e Olho Vivo, que acontece neste sábado a partir das 17h, na sede da companhia, no bairro do Bom Retiro. A programação inclui exposição sobre o processo de criação para da nova peça “A Cobra Vai Fumar – A Verdadeira Estória da FEB”, apresentação musical, roda de samba e muitas outras atrações.