Conheça os melhores grafites de SP

A matéria traça um roteiro dos grafites que dão cor a São Paulo. Entre os que mais se destacam estão os do  Cambuci. Bairro forte na cena do grafite paulistano pela identificação instantânea com osgemeos, já que foi o berço da dupla. O que pouca gente sabe é que o Cambuci sempre acolheu pintores, como Alfredo Volpi, que nos anos 30 e 40 integrou o grupo Santa Helena. “Volpi e seus vizinhos pintavam decorações em estêncil nas casas do bairro para ganhar um dinheiro extra”, ressalta Baixo Ribeiro.

O destaque da área são as grandes pinturas murais. Um bom lugar para começar a visita é pelo muro da esquina da rua Lavapés com a Justo Azambuja. Além de osgemeos e de outros nomes, o local tem trabalhos de Nina Pandolfo, que recorre a temas infantis e femininos, e de Nunca, outro artista que está na Tate Modern.

Juliana Nadin/Folha Imagem
Grafite do artista Nunca, na esquina da rua Lavapés com a Justo Azambuja, na capital
Grafite do artista Nunca, na esquina da rua Lavapés com a Justo Azambuja, na capital

Na convergência das ruas Justo Azambuja e Silveira da Mota, em um enorme galpão, está o clássico gigante amarelo feito pela dupla osgemeos. Ali, também há obras de Ise e Coió, artistas que, ao lado de grupos como Vlok, Tsc, ANX, Pv e Dem, compõem a nova geração de bons grafiteiros da cidade.

Não deixe de visitar o trabalho de Vitché e Jana Joana nas paredes da casa de nº 459 da rua dos Alpes. Preste atenção em seus personagens oníricos e nos belos pássaros.

Minhocão
Debaixo desse monstro viário, próximo à Barra Funda, artistas do calibre de Tinho, Walesca e do inglês Adam Neate (atual sensação em Londres) acabaram de pintar novos painéis. Ao passar por eles, é possível constatar a decadência da região e o respiro que o grafite proporciona aos transeuntes.

O final do passeio pode ser o que sobrou do painel histórico da av. 23 de Maio, que recentemente foi coberto pela prefeitura de cinza, cor-símbolo da São Paulo poluída.

Liberdade
No tradicional bairro oriental, o grafite se torna mais delicado, com painéis menores, porém muito elaborados. Próximo ao centro, pegue como via principal a rua Galvão Bueno ou a rua da Glória e explore todas as ruazinhas que as cruzam. “Ali estão sofisticadas pinturas de Titi Freak e os mangás de Whip”, indica o inglês Tristan Manco.

Assim como Whip, que possui um traço com grande influência japonesa, Titi Freak, que trabalhou por sete anos nos Estúdios Mauricio de Sousa, traz em sua obra muitas referências de anime, ilustração, moda e cultura pop japonesa. Atente para a delicada e excêntrica carpa feita no nº 455 da rua Galvão Bueno pelos grafiteiros Titi Freak e Ramón Martins, este, um virtuose do spray. Pelo bairro, espalham-se intervenções de Nunca, osgemeos, Nina Pandolfo e do espanhol El Tono.

Pinheiros
Por concentrar uma enorme quantidade de trabalhos em diferentes pontos e ruas, o bairro é considerado uma grande e diversificada galeria a céu aberto. Um passeio em busca dos melhores grafites da região pode começar pelos arredores da praça Benedito Calixto.

Bem na esquina da rua João Moura com a Cardeal Arcoverde, existe um painel coletivo pintado nas portas de uma loja de móveis. O ideal é visitá-lo bem cedo, quando as portas estão fechadas e é possível olhar as obras por completo. Ali, estão trabalhos de Daniel Melim, artista que possui uma rigorosa geometria do espaço, e Carlos Dias, cujo trabalho é cheio de personagens coloridos.

Ainda na João Moura, sob o viaduto Sumaré, há um grande bicho da artista plástica Fefê Talavera, habituada a criar monstros tipográficos. O ápice da visita é a rua Gonçalo Afonso. “O destaque do bairro é o Beco do Batman, que está em uma de suas melhores fases e com novos trabalhos”, indica o galerista Baixo Ribeiro.

Por distintos destinos de Pinheiros, é possível encontrar pinturas de John Howard (lendário norte-americano, hoje com 70 anos, um dos pioneiros no Brasil), argentinos, ingleses e outros estrangeiros que fazem turismo artístico na capital paulista.

Outro ponto obrigatório é percorrer a rua Cardeal Arcoverde, onde existem pinturas de osgemeos, Ise e Não colorindo a grande escadaria que leva à rua Cristiano Viana. Vale a pena terminar o percurso no Sesc Pinheiros, onde há um painel do italiano Blu, um dos artistas presentes na fachada da Tate Modern.

Rio Tietê
O rio virou um grande point em São Paulo após Zezão começar a pintar suas entranhas. Famoso por seu trabalho nos subterrâneos da cidade, o artista encontra beleza nas vísceras da metrópole: a paisagem oculta formada por esgotos.

Obviamente não se pode ver o que ele pintou dentro dos canais, mas é possível observar seus “flops”, nome dado pelo artista aos desenhos em tons de azul, cheios de linhas e curvas, nas desembocaduras dos córregos. Um deles está no córrego do Tiburtino, próximo à ponte da Freguesia do Ó.

“O Tietê é a primeira imagem que o estrangeiro vê de São Paulo quando chega por Cumbica. O rio em si é deprimente, mas vale como pano de fundo pra contar a incrível história desse artista urbano tão radical”, opina Tristan Manco.

Avenida Paulista
O túnel que liga as avenidas Paulista e Rebouças sempre foi um relevante ponto de grafites da cidade. Entretanto, durante algum tempo, eles foram substituídos por “pinturas Portinari” -pastiches kitsch de obras históricas sem nenhuma qualidade artística.

Neste ano, por conta do centenário da imigração japonesa, o artista Binho convidou grandes nomes da arte urbana e os levou para retomarem o túnel com motivos japoneses. Atualmente, o local reúne uma infinidade de trabalhos.

No entanto, é preciso um olhar crítico, pois alguns deles pecam por falta de técnica e qualidade. “O melhor da área, para mim, é um painel gigante dos artistas Onesto e Ciro, que fica fora do túnel, em uma das alças que leva à Rebouças”, destaca Baixo Ribeiro. Bom passeio.

Por Juliana Nadin
Gustavo Fioratti
da Revista da Folha