Salvas do lixo, orquídeas agora enfeitam árvores das calçadas nos Jardins

A primeira vez que o faxineiro Tássio Palmeira, 37, viu uma orquídea foi há cerca de três anos, quando um dos moradores do prédio onde trabalha nos Jardins (zona oeste de São Paulo) jogou fora um vaso onde só restavam folhas e um ramo que parecia seco.

Ele e o zelador Vanderlei Pascoal da Silva, 46, pegaram a planta para cuidar e, algum tempo depois, viram o caule voltar a florescer. “Caíram as flores, mas ela estava viva”, relembra Palmeira, que diz que gosta das orquídeas porque “quando parece que morreram, elas voltam bonitas”.

Palmeiras e Silva integram um grupo que vem enfeitando as ruas dos Jardins: o de funcionários dos edifícios de classe alta que adotam orquídeas dispensadas por moradores e as usam para embelezar as árvores da calçada.

A árvore em frente ao prédio onde Palmeira e Silva trabalham já tem mais de dez plantas penduradas. “Tenho um amigo que mexe com orquídea e me ensinou a amarrar. Mas ele fica com ciúme porque na casa dele não fica bonito assim”, diz Silva, acrescentando que há quem pare para fotografar.

Na alameda Tietê, onde fica o “orquidário” da dupla, há pelo menos mais três árvores decoradas com as flores. Uma delas recebe os cuidados do zelador Antônio Martins, que sabe de cor a época do ano em que cada uma delas floresce. “Comecei a pesquisar. Essa, por exemplo, só dá no inverno. É minha preferida.”
Martins começou o cultivo há um ano e meio, por sugestão de uma moradora. “Não acreditava que pegassem.”

A alguns quarteirões dali, na rua Joaquim Eugênio de Lima, o zelador Ilson de Souza Mates admite ter copiado a ideia de colegas da rua Sarutaiá, travessa de onde trabalha. “Achei bonito e quis fazer também.” Mates diz que já pegou orquídeas jogadas em caçambas ou trazidas por vizinhos. “Outro dia um rapaz que tem orquidário parou aqui e me deu umas dicas, disse para eu não “aguar” tanto.”

Nas duas árvores da Sarutaiá cuidadas por funcionários do mesmo edifício, há mais de 30 orquídeas penduradas -23 delas ao redor de um mesmo tronco. O porteiro Antônio Pereira da Silva explica a superlotação. “Tem gente que para de carro e pede para a gente por aí”, diz, contando que os funcionários não conseguem recusar. Questionado se não gostaria de levar uma para cuidar em casa, ele diz que não. “Elas estão tão bonitinhas aí.”

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Mariana Barros
Folha de S. Paulo

Por Redação