Trecho do filme “5x Favela”

Um dos mais  importantes cineastas brasileiros, Cacá Diegues tem 70 anos, o que, por si só, lhe daria certo direito à arrogância ou à impaciência com o amadorismo. Apesar da fama e da idade, ele se submeteu a um exercício de humildade. Convocou centenas de jovens dos morros do Rio para participarem como coautores de um filme sobre as favelas -e aí teve de enfrentar (e perder), em diferentes fases do trabalho, várias discussões técnicas com amadores.
Desse laboratório, realizado no ano passado, saiu o “5x Favela”, uma sequência de cinco histórias, cujo argumento e roteiro saíram da cabeça dos jovens. Com esse recurso, imaginava-se desmontar os estereótipos muitas vezes usados no cinema sobre as comunidades populares, onde parece que só existem bandidos e tipos desencaminhados.
Na quinta-feira passada, o filme foi escolhido para ser exibido em Cannes. Mais importante do que a repercussão internacional, é o “making of” pedagógico: conseguem-se façanhas notáveis quando o jovem é visto não como um problema, mas como uma solução -não só como espectador, mas como coautor.
Senhores candidatos, está aí, exatamente aí, um dos melhores meios de combater a violência e produzir gente que gosta de aprender.
Geralmente, os jovens são associados a algum tipo de encrenca, das drogas às pulseirinhas do sexo. Muitas vezes, são apresentados apenas como alienados ou bobocas que não resistem aos apelos publicitários das grifes. Estão numa fase de risco, é óbvio, mas, quando são convidados a colocar sua energia em criatividade e onde se sentem protagonistas, tornam-se solução.
É o que tenho testemunhado nos projetos que acompanho ou de que participo em várias partes do mundo, tanto em comunidades pobres como em escolas de elite. Na semana passada, mais um caso -e não com jovens da periferia, mas com alunos de algumas das mais destacadas escolas particulares de São Paulo.
(Leia coluna completa no jornal Folha de S.Paulo)

Assista trecho do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=cv5nOqdtQ40