Borobudur, a joia rara da Indonésia

Por: Catraca Livre
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Pagodas ou estopas no 9º nível do Borobudur (Foto: Matheus Pinheiro de Oliveira e Silva)[/img]

O monumental templo de Borobudur ainda é um mistério. Há registros que apesar de pouco mais de um século de sua conclusão, ele e outras estruturas no centro de Java foram abandonadas. Durante essa época também, o vulcão Merapi, próximo ao templo, entrou violentamente em erupção, cobrindo Borobudur de cinzas vulcânicas e chegou a ocultá-lo durante séculos.

Restauração

Em 1900, a Indonésia ainda era dominada pela Holanda, e foi este governo que criou uma comissão para a restauração do Borobudur. A enorme tarefa foi realizada, entre 1907 e 1911, por um engenheiro militar holandês com grande interesse em antiguidades javanesas.

Neste momento, Borobudur foi descoberto ser um manto frágil de blocos de pedra que tinham sido construídos em cima de um monte natural de terra. A água da chuva estava infiltrando nas pedras e erodindo-as por dentro, enquanto que os sais minerais estavam sendo coletados sobre a superfície do monumento, onde atuava em conjunto com sol, vento, chuva e fungos para destruí-lo. Planos grandiosos para uma restauração permanente nunca se realizaram, devido à intervenção de duas guerras mundiais e uma depressão econômica.

Durante as décadas de 1950 e 1960, ficava cada vez mais evidente que a estrutura do Borobudur estava ameaçada. A Unesco foi chamada para dirigir uma operação de resgate estrutural e assim que ficaram disponíveis, tanto assistência técnica quanto financiamento, o projeto recebeu oficialmente andamento, em 1973.

A escala do projeto foi grandiosa. Levou 10 longos anos para desmontar, catalogar, fotografar, limpar, tratar e remontar um total de 1.300.232 blocos de pedra. Cada pedra tinha que ser inspecionada individualmente, esfregada e quimicamente tratada, antes de ser substituída. Além disso, uma nova infraestrutura de concreto armado, asfalto e outros materiais, foi construída, para suportar todo o monumento e um sistema de tubos de drenagem foram instalados para evitar novas infiltrações.

 

A obra foi concluída a um custo de 25 milhões de dólares, mais de três vezes a estimativa inicial. É pouco provável que nós jamais saberemos a completa e verdadeira importância de Borobudur como um monumento religioso. Estima-se que entre 30.000 cortadores de pedra e escultores, além de 15.000 operários e mais milhares de pedreiros, de várias partes do país, aproximadamente de 20 a 75 anos para reconstruir o monumento. Todo este trabalho realizado, em um período em que toda a população da localidade de Java Central era inferior a 1 milhão de pessoas, isso representou cerca de 10% da força de trabalho total disponível na época.

Significado Espiritual

Visto de cima, Borobudur forma o desenho de uma mandala, ou ajuda geométrica para a meditação. Visto de uma distância no chão, Borobudur é uma estupa, um modelo do cosmos em três partes verticais: a base quadrada apoia um corpo hemisférico e um pináculo (a parte mais elevada do monumento) de coroação. Quando alguém se aproxima da rota de peregrinação tradicional a partir do leste, e sobe o monumento disposto em níveis, caminhando cada andar no sentido horário e em sucessão, dizem que ao atingir o topo, todos os males que o perseguem serão afastados.

Havia originalmente 10 níveis em Borobudur, cada um pertencente a uma das três divisões do universo budista Mahayana: khamadhatu, as esferas inferiores da vida humana; rupadhatu, a esfera do meio da “forma”;  arupadhatu, maior esfera de distanciamento do mundo. A galeria mais abaixo, agora coberta, retrata os prazeres desta vida e as maldições da próxima.

Os próximos cinco níveis (o terraço processional e quatro galerias concêntricas) mostram, nos relevos (começando na escadaria oriental e indo ao redor de cada galeria no sentido horário), a vida do príncipe Siddharta em seu caminho para tornar-se Buda, cenas dos contos populares Jataka sobre suas encarnações anteriores, e a vida de Bodhisattva Sudhana (do Gandavyuha). Estes contos são ilustrados nas pedras por um desfile de plebeus, príncipes, músicos, dançarinas e santos, com muitos detalhes etnográficos interessantes sobre o cotidiano na Ilha de Java de antigamente. Colocado em nichos acima das galerias estão 432 Budas de pedra, cada uma exibindo uma das cinco posições de mudra ou mão, alternadamente convidando-nos e vivenciando como testemunha,  incorporando caridade, meditação, destemor e a razão.

 

Acima das galerias concêntricas, três terraços circulares suportam 72 dagob (pagoda/estupa em miniatura) perfuradas, que são exemplares únicos de arquitetura relacionada ao Budismo. A maioria contém uma estátua de Buda meditando (dhyani) em seu interior. Duas estátuas foram deixadas descobertas para que os Budas olhassem para as montanhas Menoreh para iluminar os que ali se aventuram.  Estes três terraços são, de fato, etapas de transição que leva ao décimo e mais alto nível do Borobudur, o reino sem forma e abstração (arupadhatu), representado pela enorme pagoda de coroação ao centro do monumental templo Budista.

 

Mito ou verdade?

Dizem para os turistas que vão visitar o grandioso templo de Borobudur que ao chegar aos níveis mais altos do monumento, e se deparar com as estátuas de Buda meditando dentro das pagodas, que se você conseguir tocar o dedo mínimo/mindinho da mão da estátua de pedra em meditação, você terá seu desejo realizado.

Parece tarefa fácil, mas para atingir o objetivo, você deve ter braços largos ou se esticar todo, pois a dificuldade da tarefa é alta.

 

Informações úteis

Borobudur fica a aproximadamente 40 minutos da cidade de Yogyakarta.

Ingresso para acessar o complexo do templo: US$ 20 (turistas estrangeiros adultos) e US$ 10 ( turista estudante registrado). Os ingressos são vendidos das 6h às 17h.

Matheus Pinheiro de Oliveira e Silva é turismólogo de formação e empreendedor social de coração. É co-fundador do blog de viagens inRoutes. Já morou um ano na Indonésia onde estudou o 3º colegial pelo Rotary International e trabalhou voluntariamente em Kolkata, na Índia, durante três meses pela AIESEC. Viajou por 14 países e se considera um cidadão global. Atualmente é empreendedor social no MERAKI. É fundador e mantém a fanpage GÜD. No Instagram ma_tai.