O papel do chocolate de Páscoa nesse momento da pandemia

Em tempos de pandemia e isolamento social, o ovo de Páscoa estreitou algumas distâncias, relevando afago em meio ao caos

Existem dois tipos de pessoas: as que gostam de chocolate e as que mentem. Brincadeiras à parte, neste ano, as vendas de ovos de páscoa superaram as expectativas, mesmo com o fato de estarmos no auge da pandemia do coronavírus. Quando pensamos em datas especiais, é, muitas vezes, impossível desassociá-las de alguma comida típica. E nesse feriado o chocolate caiu como uma luva.

 Chocolate representou o abraço dos distantes nesta Páscoa
Créditos: klebercordeiro/istock
 Chocolate representou o abraço dos distantes nesta Páscoa

Com os assustadores números da pandemia do coronavírus, o chocolate cumpriu sua missão nesse feriado: confortou aqueles que precisavam de um afago no meio do caos. E não foram poucas as demonstrações de afetos, já que as pessoas receberam seus doces pelo correio, por aplicativos, ou, para os mais sortudos, os ovos de chocolate foram entregues presencialmente, por um ente querido (assim se espera) usando máscara e respeitando isolamento social.

É quase como se nesse momento o comer conquistasse o status de emoção. É como se aquele alimento específico servisse como um abraço apertado de alguém amado, um abraço que há tempos não damos, e que tanto queríamos dar.

O comer emocionado está presente, por exemplo, quando o creme doce de cacau espalha-se pela nossa boca, fazendo-nos esquecer por alguns segundos do mundo; ou quando nos deliciamos com o sabor, o açúcar e o afeto de um chocolate em forma de coelhinho; e até quando sentimos a crocância da casca do ovo, escutando o estalar do doce tão perto dos ouvidos que se torna impossível ouvir qualquer notícia ruim naquele momento.

É claro que comer dessa maneira não é algo que fazemos o tempo todo. O comer emocionado é um momento de grande afetividade e prazer. Existe planejamento, calma, e permissão para isso. Cada mordida é única e o momento é vivido atentamente. No comer emocionado, o alimento conecta-se com as emoções e os sentimentos mais bonitos dentro de nós.

Espero que ainda hoje, passado o domingo de Páscoa, e com o retorno da realidade de uma segunda-feira marcada pela realidade da pandemia, tenhamos a oportunidade de lançar mão daquelas lasquinhas de chocolate que sobraram, dando-nos, pouco a pouco, um gostinho doce para aliviar o amargo momento que vivemos.

Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.