Francisco, 78 anos, é papa que não teme polêmica

O argentino Jorge Mario Bergoglio, 78 anos completados no último dia 17, teve um ano bem agitado. Talvez você não reconheça seu nome de batismo, mas certamente já ouviu falar em seu título atual: papa Francisco.

 

Desde que assumiu o posto de chefe da Igreja Católica, em março do ano passado, o papa tem mostrado que não teme polêmicas com a ala mais conservadora do catolicismo e que está antenado com as ruas.

Ele gosta de futebol, não se opõe a casamentos de divorciados, é contra a discriminação de gays e, em vez de morar sozinho num luxuoso apartamento papal, decidiu viver na Casa de Santa Marta, hospedaria do Vaticano em que vivem outros clérigos.

Hoje, por exemplo, criticou a Cúria romana (o organismo administrativo da igreja) durante seu discurso anual a cardeais e bispos, dizendo que algumas pessoas têm vidas duplas e são hipócritas. Francisco citou então 15 doenças que a Cúria “precisa aprender a curar”, entre elas expressões fortes como “Alzheimer espiritual”, “terrorismo de fofocas” e “esquizofrenia existencial”.

Na semana passada, soube-se que ele foi um dos interlocutores do acordo diplomático firmado por Cuba e Estados Unidos. Em seu discurso, o presidente americano Barack Obama agradeceu nominalmente ao líder católico “por seu exemplo moral, mostrando ao mundo como deveria ser, em vez de simplesmente se conformar com o mundo como é”.

O pontífice encaminhou cartas tanto a Obama quanto ao ditador cubano, Raúl Castro, pedindo por um acordo para que as relações diplomáticas entre os dois países fossem retomadas após um rompimento de 53 anos.

 

Abaixo, confira outros temas sobre os quais ele já manifestou:

Ciência

Em outubro, ele afirmou que a Teoria da Evolução e o Big Bang são reais e criticou quem interpreta o livro do “Gênesis”, da Bíblia, dizendo que Deus teria agido “como um mago, com uma varinha mágica capaz de criar tudo”.

Segundo o papa, a criação do mundo não é obra do caos, “mas deriva de um princípio supremo que cria por amor” e que o “Big Bang não contradiz a intervenção criadora, mas a exige”. O Big Bang foi a explosão ocorrida há cerca de 13,8 bilhões de anos que deu origem à expansão do Universo.

De acordo com a Teoria da Evolução, de Charles Darwin, as espécies não são imutáveis e, através da seleção natural, se modificam para se adaptar melhor ao seu meio ambiente. Sobre ela, o papa disse que “a evolução da natureza não é incompatível com a noção de criação, pois exige a criação de seres que evoluem”.

Gays

“Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, afirmou Francisco, na declaração mais ousada de um papa sobre o tema. Apesar de não ter defendido abertamente o casamento entre homossexuais, afirmou que eles “não devem ser marginalizados, mas integrados à sociedade”.

Pedofilia

Tolerância zero às várias denúncias de padres pedófilos que rondam a Igreja Católica tem sido sua política. Em setembro, o próprio papa Francisco ordenou a prisão de um ex-arcebispo e um ex-embaixador da Santa Sé acusado de cometer o crime. Foi a primeira vez que alguém do alto escalão da igreja foi preso dentro do Vaticano.

Em novembro, circularam em jornais espanhóis a notícia de que o argentino tinha telefonado para um rapaz vítima de pedofilia. Segundo a mídia espanhola, ele teria pedido perdão ao garoto em nome da Igreja e se comprometido a acompanhar o caso até que se faça justiça.

Cachorro

Não é só sobre temas pesados que ele se manifesta. No início do mês, ganhou a simpatia dos defensores de animais ao dizer que os cachorros também vão para o céu.

Numa de suas aparições públicas na Praça de São Pedro, Francisco consolou um garotinho que estava triste com a morte de seu cãozinho, ao lhe dizer que “o paraíso está aberto a todas as criaturas do Senhor”.

Futebol

Todo mundo que acompanha futebol sabe que o papa não só gosta do esporte como torce pelo San Lorenzo. O time argentino levou a Libertadores deste ano e, no último sábado, disputou a final do Mundial em Marrocos, contra o milionário clube espanhol Real Madrid. Acabou dando a lógica: o time do papa perdeu por 2×0 e ficou o segundo lugar.

Em suas audiências, ele costuma usar metáforas futebolísticas e, durante a Copa, mandou uma mensagem especial ao evento. Para ele, a “Copa do Mundo poderia se transformar na festa da solidariedade entre os povos”.

Rock

Além de pop, o papa é rock. O concerto natalino do Vaticano em 13 de dezembro teve a presença da cantora e poetisa Patti Smith, conhecida como a “avó do punk”, após um convite feito diretamente do pontífice. Patti foi uma das 18 artistas que se apresentaram no Auditório de Conciliação de Roma.

Por QSocial, com agências internacionais

*Este texto faz parte do projeto Geração Experiência, que tem como objetivo mostrar histórias de pessoas com mais de 60 anos que são inspiração para outras de qualquer idade.