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Vítimas de câncer de mama têm menos chance de trabalho

Por: Aline Gattoni

A pesquisadora e oncologista baiana Luciana Landeiro acaba de divulgar uma informação perturbadora: mulheres que enfrentam ou já enfrentaram um câncer de mama têm mais dificuldade em se manter empregadas.

Mulheres que tiveram câncer de mama têm menos chance de trabalho
Mulheres que tiveram câncer de mama têm menos chance de trabalho

No estudo, mulheres brasileiras, predominantemente de baixa renda, foram acompanhadas ao longo de dois anos após seus diagnósticos de câncer de mama, com o intuito de avaliar suas trajetórias quanto ao trabalho e os fatores relacionados à decisão de se manter ou retomar a atividade laboral.

O levantamento, resultante de tese de doutorado da médica na USP no ano passado, foi feito entre mulheres tratadas no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, com idades entre 18 e 57 anos e que trabalhavam de forma remunerada pelo menos três meses antes do diagnóstico. Pacientes com doença inoperável ou metastática foram excluídas.

Das 125 pacientes entrevistadas, 94% gostavam do trabalho e 73% receberam apoio do empregador, mas apenas 29% relataram ter recebido oferta de ajuste no trabalho –importante no que diz respeito aos efeitos adversos do tratamento. As taxas de retorno ao trabalho foram de 21,5%, 30,3% e 60,4% aos 6, 12 e 24 meses após o diagnóstico de câncer de mama, respectivamente.

Mulheres que tiveram câncer de mama têm menos chance de trabalho
Mulheres que tiveram câncer de mama têm menos chance de trabalho

Reintegração

“As taxas de retorno ao trabalho aos 12 e aos 24 meses após o diagnóstico de câncer de mama nesse estudo foram inferiores à maioria dos estudos conduzidos na América do Norte e na Europa”, afirma a oncologista.

Ela salienta que o retorno ao trabalho após o diagnóstico e o tratamento é “um importante aspecto que se relaciona ao bem-estar e à qualidade de vida das pacientes sobreviventes ao câncer de mama”. “O retorno ao trabalho pode também simbolizar um retorno à normalidade e à reintegração social.”

Embora o câncer de mama seja o mais comum em mulheres e sua incidência ainda esteja em ascensão, as taxas de recorrência e mortalidade têm diminuído, em especial nos países desenvolvidos, segundo Landeiro. “Assim, o câncer pode ser considerado um choque transitório que não impede que os sobreviventes retomem a normalidade em suas vidas, incluindo atividades laborais.”

Mulheres que tiveram câncer de mama têm menos chance de trabalho
Mulheres que tiveram câncer de mama têm menos chance de trabalho

Drama mundial

O problema da empregabilidade, porém, não se reduz ao Brasil. Um estudo holandês publicado em 2016 dá conta que as mulheres com câncer de mama têm risco 60% maior de perder o emprego e chance 100% maior de receber benefícios da seguridade social ao longo de dez anos.

Porém, a análise comparativa das taxas brasileiras de retorno ao trabalho com taxas de outros países mostraram que as nacionais foram inferiores às observadas em países desenvolvidos.

Sobre a adaptabilidade ao emprego, a médica sugere medidas para amenizar os preocupantes dados apresentados no estudo. “No cenário brasileiro, poder-se-ia pensar em medidas que estimulassem empregadores a oferecer acomodação no trabalho do paciente oncológico”, diz Landeiro. “Uma possibilidade seria a implementação de programas de valorização e inclusão de pacientes com câncer.”