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Pesquisador cita papel da irrigação na sustentabilidade ambiental

O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados Lineu Rodrigues disse nesta terça-feira (27) que a tecnologia na irrigação é fundamental para alcançar a sustentabilidade ambiental e na produção de alimentos. Segundo o pesquisador, o desafio é fazer com que os produtores se apropriem dessas tecnologias para aumentar a produtividade na lavoura.

Desafio é levar produtores a adotar tecnologias para elevar produtividade, diz Lineu Rodrigues
Desafio é levar produtores a adotar tecnologias para elevar produtividade, diz Lineu Rodrigues

Como exemplo, Rodrigues conta que, há 20 anos, quando a produção média do milho no país era de duas toneladas por hectare, já havia áreas irrigadas produzindo em torno de 16 toneladas por hectare. Quando se produz mais na mesa unidade de área, evita-se a necessidade de abrir mais áreas, além de se garantir produção até 2,5 vezes maior.

“Garante-se a estabilidade na produção de alimentos. No sequeiro [método que usa apenas água da chuva para irrigação], a produção é variável de ano para ano e tem essa incerteza. E a população que está nos centros urbano, não quer ter essa incerteza”, disse. “Não conseguiremos atender a demanda mundial de alimentos sem irrigação e precisamos de boa gestão e bom planejamento.”

Rodrigues ressaltou que existem regiões críticas e conflitos pelo uso da água no Brasil, mas que, de maneira geral, menos de 1% dos recursos hídricos são utilizados. “Em grande parte do Brasil, o desafio é gestão e planejamento. É preciso envolver a população na definição de planos [de uso de recursos hídricos], fazer planos com metas claras e definir a qualidade de uso da água.”

Para Rodrigues, o pequeno produtor é fundamental na produção de alimentos diretos para a população, principalmente perto dos centros urbanos. Por isso, segundo o especialista, esse produtor precisa se aproximar mais dos centros de pesquisa e se apropriar das tecnologias de irrigação, assim como, o Estado e os governos precisam integrar as políticas públicas de segurança hídrica e alimentar.

“Temos tecnologias de diversos níveis e formas, das mais qualificadas às de custo barato. Quando o produtor, seja pequeno ou grande, começa a manejar sua irrigação, ele começa a ter noção de como está usando a água, a ter essa visão de que está integrado a um sistema maior”, ressaltou.

O pesquisador de Embrapa Cerrados participou ontem do evento preparatório da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para o 8º Fórum Mundial da Água, que será realizado de 18 a 23 de março, em Brasília. Amanhã (28), a entidade deve divulgar um documento com as recomendações e o posicionamento do setor para o fórum.

Agricultura

De acordo com o coordenador de Sustentabilidade da CNA, Nelson Ananias Filho, de toda a água que é outorgada pelo Estado, dentro da lei, 70% são usados na agricultura. Entretanto, 95% da produção ainda é sequeiro, não tem suporte suplementar de água. “Entendemos que a água existe, mas falta melhor planejamento.”

Agricultura usa 70% de toda a água outorgada pelo Estado, diz coordenador
Agricultura usa 70% de toda a água outorgada pelo Estado, diz coordenador

Mesmo durante o processo de escassez hídrica [que afetou São Paulo], a primeira torneira que fechou foi a da irrigação. Auferimos perdas no cinturão verde de São Paulo de até 50%, abrindo mão da água utilizada na irrigação para abastecimento urbano.”

Por outro lado, o diretor da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Jorge Werneck, ressaltou que, durante muito tempo, houve uma cultura no Brasil de abundância de água, um sentimento de que a água era infinita. “Mas a lei de 97 [Lei das Águas] já traz a água como bem finito e dotada de valor econômico, para que as pessoas entendam que ela é também um insumo importante dos processos produtivos e precisa ser tratada da melhor forma possível”, disse.

Para Werneck, é preciso uma gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos pois “em alguns lugares esse bem [água] começa a se mostrar insuficiente para atender todos os usos”. Mas, segundo ele, as tecnologias existem dando meios para dizer quando e quanto é necessário irrigar.

Ele destacou que, com a crise hídrica no Distrito Federal, algumas áreas irrigadas estão paradas e outras tiveram que fazer a alocação negociada, “que é uma coisa nova, discutir como dividir o prejuízo”. “Tiveram que reduzir a quantidade de água aplicada e a produtividade não diminuiu. Isso significa eficiência. Ninguém quer crise, mas são as oportunidades que surgem no momento da crise que se difundem por aí. Isso [tecnologias de irrigação] tem que ser entendido como investimento e não custo”, disse.

Com informações da Agência Brasil