Estudante vai à Alemanha mostrar lado cruel do turismo em favelas
Passeios guiados por favelas estão se tornando cada vez mais populares, atraindo tanto turistas brasileiros quanto gringos. A prática já é comum nas favelas pacificadas do Rio de Janeiro e esse tipo de turismo também está crescendo em São Paulo, nas favelas de Paraisópolis e Heliópolis –consideradas as duas maiores da América Latina.
Mas isso impacta de forma positiva a vida das pessoas que moram nesses locais? Foi por levantar esse questionamento, em um artigo relatando a percepção dos moradores das favelas da zona sul da capital paulista sobre esse tipo de prática, que o estudante de Lazer e Turismo da USP, Douglas Ribeiro, de 20 anos, foi convidado a se apresentar em um congresso na Alemanha sobre turismo em áreas urbanas desfavorecidas.
Tudo muito bacana, até a universidade onde Douglas estuda não topar financiar sua viagem. Sem dinheiro para arcar com os custos, ele colocou seu projeto no site de financiamento coletivo Vaquinha. Como já tinha conseguido patrocínio para a passagem aérea, seu pedido foi de R$2.640 para custear alimentação, transporte e hospedagem.
“O turismo nas favelas é feito de uma maneira pejorativa. Somos invadidos e simplesmente temos que aceitar o que as agências estão fazendo. Temos nossas vidas expostas. É um turismo desrespeitoso”, argumenta o estudante que desde bebê mora em Paraisópolis.
Segundo ele, as agências de turismo divulgam o passeio como um tour para mostrar trabalhos artísticos feitos nesses lugares, mas chegando lá não é bem assim. “O que o turista quer ver é nossa casa, como vivemos, a nossa situação de pobreza”, conta Douglas que questiona: “Eles vão de carro blindado. Qual a necessidade disso?”.
Apenas cinco dias após colocar a vaquinha no ar, Douglas já tinha conseguido arrecadar R$ 760 a mais do que tinha como meta. “Estava previsto para durar um mês, mas tirei antes para não ser abuso”.
A conferência chama Destination Slum! (Destino Favela, em tradução livre) e acontece em maio, na Universidade de Potsdam, em Brandemburgo.
Por Fernanda Kalena