Pesquisadores da USP criam respirador pulmonar 15 vezes mais barato

Equipamento tem baixo custo e é construído em menos de duas horas

Pesquisadores da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) desenvolveram um ventilador pulmonar emergencial de baixo custo, que poderá servir para o atendimento de pacientes com novo coronavírus (covid-19).

Batizado de Inspire, o protótipo tem mais duas vantagens: pode ficar pronto em menos de duas horas e é feito de peças que podem ser encontradas no país, ou seja, não necessita de componentes importados. A informação é da Agência Brasil.

Ventilador pulmonar da USP é construído com baixo custo e em menos de 2 horas
Créditos: Divulgação / Poli- USP
Ventilador pulmonar da USP é construído com baixo custo e em menos de 2 horas

A equipe criadora é multidisciplinar e foi coordenada pela direção da escola de engenharia da Poli, mas envolve pesquisadores das áreas de engenharia biomédica, mecânica, mecatrônica, energia, eletrônica, de produção, que têm experiência em prototipagem e testes de aparelhos utilizados na medicina.

Os respiradores disponíveis no mercado custam, em média, R$ 15 mil, enquanto o valor do Inspire é de R$ 1 mil, aproximadamente.

O modelo desenvolvido pelos pesquisadores da Poli-USP foi registrado com uma licença open source, o que significa que qualquer pessoa interessada pode acessar o passo a passo de manufatura e fabricá-lo. A exigência é de que se obtenha autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).



O professor Marcelo Knorich Zuffo, da Poli-USP, ressalta que o protótipo foi concebido para ser usado “em uma eventual condição catastrófica”, causada pela falta de ventiladores pulmonares comerciais. “Nosso projeto é de um ventilador de emergência”, ressalta o acadêmico, que divide a coordenação do projeto com o docente Raúl Gonzalez Lima, especialista em engenharia biomédica.

“Inclusive, a gente já está conversando com as autoridades para fazer uma delimitação bem clara sobre quais as circunstâncias em que esse produto deve ser usado”, acrescenta Zuffo.

O projeto está, atualmente, em fase de “integração e homologação”, com o sistema de inspiração e expiração já sendo testado. Agora a equipe também avança na validação química do padrão respiratório e mantém interlocução com o governo federal, para tentar emplacar parcerias que permitam a produção do ventilador em maior escala.

No total, cerca de 40 pessoas compõem a equipe do projeto. Os pesquisadores têm passado até 18 horas do seu dia desenvolvendo as atividades, iniciadas no dia 20 de março.

Zuffo comenta que a iniciativa foi possível porque os membros da equipe já detinham conhecimento sobre a montagem de ventiladores pulmonares industriais.  “Como nós tínhamos esse know-how à disposição na universidade, resolvemos criar meios para que esse conhecimento dos professores fosse disponibilizado à sociedade”, diz.

Segundo o coordenador, a equipe colocou no ar o site do projeto, para divulgá-lo entre membros da comunidade científica, e tem recebido um volume expressivo de contribuições. Lá, é possível acompanhar o diário de bordo do grupo, que informa cada uma das etapas atingidas.

“A gente abriu o site para criar um mecanismo de comunicação entre professores e a comunidade desse movimento. E já estamos tendo contribuições concretas. Há muita gente baixando e já começou a vir modelo de algoritmo, desenho de projeto industrial”, afirma.

Zuffo conta ainda que a equipe se surpreendeu com a quantia de R$ 161 mil, arrecadada em uma vaquinha online criada para dar subsídio ao projeto. O resultado alcançado superou as expectativas dos pesquisadores, que imaginavam conseguir juntar em torno de R$ 20 mil.