Viagens de experiência revelam o empoderamento feminino
Foi desenvolvendo um projeto de geração de renda com comércio justo de artesanato na região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, que as empreendedoras sociais Marianne Costa e Mariana Madureira, então sócias na Raízes, perceberam que havia mais valor na história das pessoas por trás daqueles produtos do que na aparência deles.
E veio o questionamento. “Por que, em vez de levar o artesanato até os grandes centros, não levamos essas pessoas até os artesãos?”, lembra Marianne, explicando a origem do roteiro “Do Barro à Arte”, que a acompanha desde 2012 e passa a ser um dos carros-chefes da Vivejar, negócio social recém-lançado que oferece viagens de experiência em comunidades tradicionais do Brasil.
No início, ainda na Raízes, o principal objetivo era gerar renda para as mulheres da região. Mas, ao longo dos últimos cinco anos e dos nove grupos que a dupla levou para o Vale, Marianne notou o impacto também nos turistas. “Começamos a colher depoimentos, inclusive gravá-los, e foi aí que percebemos o quanto aquilo mexia com eles, despertava a reflexão, a mudança, a transformação positiva!”
Hoje, ela se questiona se realmente o impacto maior é nas comunidades ou nos turistas. “Essa troca é mágica, maravilhosa”, afirma. E cita alguns depoimentos, como o de Vivian da Cunha, de Brotas (SP), que relata ter sido uma experiência forte ver a abundância tomando lugar da seca: “Não esperava tanta beleza, generosidade, ‘alegriagem’, silêncio, solidariedade e visão do coletivo, tudo que falta na maioria das cidades ditas ‘desenvolvidas’”.
Nas comunidades, afirma Marianne, o dinheiro que chega com o turismo, por não ser certo e frequente, é usado para realizar sonhos, como a reforma da casa, a compra de um eletrodoméstico ou até mesmo um meio de transporte, como uma moto. Mas, além de reconectar valores e aproximar realidades, “a troca de experiências e o aumento da autoestima contribuem diretamente para o empoderamento dessas mulheres”.
Para Marianne, diferentemente de outras operadoras que oferecem viagens de experiência, na Vivejar a comunidade é a protagonista. Ela é ativa não só durante o roteiro – na vivência com os viajantes, na hospedagem, no preparo da alimentação e em outros serviços – como na estruturação, na precificação e na tomada de decisões. “Participa de tudo mesmo”, diz.
Com uma empresa do Sistema B, a Vivejar também nasce publicamente comprometida não só com gerar impacto positivo, como também de mensurá-lo e divulgá-lo. No Vale, exemplifica, foram gerados R$ 76 mil a nove famílias e 160 artesãos pelos 96 turistas que visitaram a região em nove grupos, num total de 1.500 pessoas indiretamente beneficiadas.
Em janeiro, a Vivejar embarca seus próximos grupos, em roteiros temáticos que usam sempre um fio condutor para tangibilizar a experiência – como a cerâmica, a gastronomia, a inovação social, a cultura negra.
Em Belém e Cotijuba (PA), o turista vai ser conduzido pelos “Segredos e Sabores da Amazônia”. Na capital dos sentidos, de 14 a 20, uma especialista na culinária paraense acompanha o grupo e conduz oficinas de preparação de um almoço e de um luau, anfitriado pelo Movimento de Mulheres das Ilhas. O roteiro custa R$ 3.990,00.
No Jequitinhonha, de 22 a 27, no “Do Barro à Arte”, o turista vivencia a comunidade através do processo da cerâmica. Conhece o lugar de onde se retira o barro, faz as oficinas de modelagem e pintura e finaliza a viagem com a cerimônia da queima de sua peça, levada para casa. O roteiro sai por R$ 3.860,00.
Em ambos, “a experiência com as mulheres fortes é o que fica de mais impactante”, adianta Marianne. “Elas têm muita história para contar.”
Por QSocial