Apartamento é palco de peça teatral

A montagem – que fica em cartaz gratuitamente – também pode acontecer na residência das pessoas, para grupos de, no mínimo, 20 espectadores. A partir de pesquisa, o grupo revela facetas histórias importantes do amor entre iguais

Com direção de Luiz Fernando Marques, criação, pesquisa e dramaturgia de Ivan Kraut, Luiz Fernando Marques, Luis Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya (os três últimos também no elenco), “Dizer e Não Pedir Segredo” estreia dia 12 de novembro, às 21 h, na R: Bela Cintra, 619 – apto 72 – Consolação.

O livro “Devassos no Paraíso – A homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade”, de João Silvério Trevisan, foi o ponto de partida da pesquisa do Grupo. Na obra, Trevisan conta a história da homossexualidade brasileira, com narração de várias histórias acontecidas em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, entre outros lugares desde o período colonial. Histórias e casos de amigos também foram importantes na composição da dramaturgia.

Dedicado à memória de Ivan Kraut, o espetáculo é um mergulho no universo da homossexualidade masculina no Brasil, sob uma perspectiva histórico-social. Busca a construção de uma identidade gay em paralelo a uma identidade brasileira. O texto da peça, criado de forma colaborativa pelos atores e direção, embaralha os tempos, vai e volta cronologicamente, e constrói, numa linha evolutiva, um olhar sobre o desejo.

A encenação de “Dizer e Não Pedir Segredo” é construída com a cumplicidade da platéia, que assiste às cenas dentro do próprio espaço cênico: uma sala, que poderia ser qualquer sala, de qualquer família brasileira, lugar onde por hipocrisia ou medo nada se revela, ou melhor, tudo se apresenta velado, sob os signos reconhecíveis de uma sociedade heterossexual falocêntrica,  que dita as regras.

Os espectadores escolhem onde sentam, escolhem adereços e figurinos, e compõem com seus corpos e gostos este ambiente de estar, transformando-se em sugestões de personagens, ações, climas e situações. E assim, assumindo a responsabilidade por nossas escolhas, todos nós revelamos aquilo que somos. E nessa revelação, nos desvelarmos. Nas nossas ricas diferenças.

“Falar sobre o gênero é falar da complexidade que envolve o desejo humano. É tarefa árdua e perigosa, e se deve evitar, a todo custo, que a moral compareça, que o bom senso impere e que o julgamento se instaure. É preciso aceitar a diferença”, diz Paulo Arcuri.

Sobre o encontro:

“O teatro é casa do afeto, todo mundo sabe disso. É um lugar para afetar e ser afetado, deixar-se transpassar, sagrar-se instrumento, comungar uma reflexão, compartilhar paradigmas. Assim formamos o Teatro Kunyn: imbuídos pelo desejo de pesquisar e refletir sobre a questão da homossexualidade no Brasil, de tentar entender o que seria a construção de uma identidade gay em paralelo à construção de uma identidade brasileira, e assim perceber como cada um de nós vivia a sua própria homossexualidade”, conta o diretor Luiz Fernando Marques.

“Queríamos responder a pergunta: o que é ser gay neste país? Não encontramos respostas, e sim mais perguntas”, diz o diretor. Durante mais de dois anos o grupo mergulhou em livros, filmes, artigos, teorias, documentários e depoimentos. “Colocamos na mesa de discussão e na sala de ensaio nossas próprias experiências para construir o discurso, achar o tom, o recorte, o que queríamos dizer. Foi um longo processo para poder revelar o segredo. E nunca a vida esteve tão presente, com toda a sua contraditória perversidade. Perdas, alumbramentos, separações, descobertas, reencontros…como diria o poeta: os sentimentos vastos não tem nome”, explica Paulo Arcuri.

Por Redação